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O Porto


Por uma série de razões, decidi vir fazer doutoramento em Portugal, onde já havia aqui habitado, e me graduado, o que me dá segurança, de fato.
Sem casa e sem emprego, passei os primeiros seis meses de 2018, resolvendo questões burocráticas - e a espera do visto de estudante junto ao Consulado Português, e com a vida parada, pacientemente, mudando de casa em casa, de irmãos, sendo por estes bem acolhido, graças à DEUS.
Cheguei aqui, em 27 de agosto do ano passado, passei o primeiro mês na casa do Luís Costa, que mora perto, mas por motivos de transportes, também distante do Porto, onde agora estou a habitar, relativamente próximo do local onde estudo, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde tenho aulas quartas e quintas, à tarde.
2018 foi um ano muito legal, falei com meu filho mais velho, Luan, ainda que de passagem por Fortaleza, matei saudades, rapidamente com ele; meu mais novo filho, Rudá, meu filho mais novo veio cá, matei uma saudade de três anos (mas ainda não consegui retomar os contatos com meu filho Gabriel, mas o tenho escrito), e consegui um emprego, um espaço para morar, fiz o IV FICCA, produzi artigos, meus projetos se ordenaram, as coisas estão bem, sinto-me bem, e seguro.
Tenho um ritmo frenético de leitura e de escrita, também porque escrevo para dois blogs que administro, sendo um de caráter cultural (LUZITÂNIAS), e outro, político (TRIBUNA DO SALGADO), este  mais paraense e amazÔnida, e aquele, mais lusitano.
E no momento estou numa espécie de laboratório de pesquisa e de experimentação artística com a Ana Tinoco, que convidaremos para uma exposição coletiva que vai acontecer no âmbito de uma das disciplinas do doutoramento, sendo que já avançamos bastante o que queremos e como o queremos, quais materiais e processos.
Para esta exposição, terei de produzir três textos.
E já produzi dois textos no âmbito do doutoramento, para duas cadeiras diferentes, sendo que numa delas, o meu professor (que é um ensaísta e pesquisador da “imagem”) fez diversos elogios e sugeriu que eu publicasse.
Gosto de tudo isso e a isso me dedico com esmero.
Ano passado tive dois artigos aprovados (mas em trabalho conjunto, no âmbito de um grupo de pesquisa sobre ARTE & CORPO) , sendo um já apresentado  em 2018 (no Fórum de Antropologia Visual da América Latina, realizado no Pará) , e outro, que será apresentado agora este ano, em Encontro de Arte Contemporânea da Unicamp, em São Paulo.
Ano passado tb fui demandado e já escrevi um artigo para uma revista da UFRJ (coordenado por Gisele Vasconcelos) que vai homenagear um artista do Pará, já falecido (Arthur Leandro Maroja) que era tb artiATIVISTA, militante afroreligioso e gay (pediram que eu tematizasse a experiência cineclubista, onde fomos arceiros, assim o fiz, estou a espera de que o texto seja publicado este ano, mas não informaram quando).
E, recentemente, também escrevi e já enviei o capítulo de um livro sobre um projeto Mola, do UNICEF com o qual colaborei, em quilombos, exatamente sobre a experiência de cinema entre estas comunidades, coordenado por Hilton P. Silva, que dirige o programa de doutorado em bioantropologia, na UFPa.
E neste momento estou a me dedicar a escrita de um Posfácio a um livro de um pesquisador (Danilo Gustavo Asp) sobre a presença negra e quilombola em Bragança do Pará (até 30;3), ou seja, terei de ler atentamente a obra e articular os textos no posfácio...
Além disso, tenho que escrever um prefácio a um livro de poemas que me foi solicitado por um poeta decadentista,  que tem obsessão pela temática da morte, o Walber Pereira (prazo até 28/2).
E um texto para um CD de um roqueiro undegraund do Pará, o Buscapé Blues (prazo, 28/2).
Tenho uma rotina quase austera para um homem de pouco mais de meia idade, raramente, saio, e pouquíssimas vezes faço refeições fora de casa, e quando o faço, normalmente quem paga é a minha querida amiga Ana Tinoco, isso, quando não almoço aos sábados  na casa dela, cujos pais têm sido de uma gentileza ímpar, de tal forma que sempre que fazem bacalhau, eles me chamam, aliás, esta é a razão pela qual ainda não me tornei vegetariano, e continuo a comer peixe.
Minha rotina alimentar é básica, pão, algumas vezes creme vegetal, e queijo, ao pequeno almoço, sem leite, ovo, muito raramente, e eu era viciado em ovo, comia dois todos os dias,  não faço lanches intermediários, almoço ou arroz ou massa, combinando com soja, cenoura, beterraba, couve, e eventualmente, atum em lata, e na janta, é sempre o que fica do almoço, sendo que, como sou eu que faço a minha comida, já cozinho em demasia, para sobrar para os dias seguintes, e assim repito as refeições, com o mesmo prazer, como se estivesse comendo a primeira vez, abençoando a minha fome para assim também saciar o meu espírito.
Ministro aulas em Mirandela, ao Norte, há duas horas e meia de autocarro do Porto. Dou 8 horas seguidas de aula, e retorno, isso, sempre às sextas-feiras, já que nas quartas e quintas eu assisto aulas de doutoramento (nas quartas e quintas, vou e volto á pé pra faculdade, que fica há uns vinte minutos de caminhada). E minha sexta, portanto,  é punk, acordo cedo, pego autocarro, dou aulas, 13 horas no total, incluindo viagem e aulas, mas volto para cá, super-feliz, cansado, mas feliz, com um prazer imenso quando chego em casa e vejo meu quartinho, com a sua harmonia.
Sigo fortalecendo a minha espiritualidade e religiosidade, comprei plantinhas e cactos, tenho estoque de incensos e velas, e componho as minhas imagens e as minhas guias nos altares que crescem e dão um toque mágico ao espaço em que habito e repouso e estudo.
O Porto, como sabem, é o destino mais procurado pelos turistas no mundo o que significa dizer que todo o negócio aqui se volta para os gringos, que tem grana pra gastar, os produtos estão mais caros, mas mesmo assim ainda é das cidades mais econômicas da Europa.
O desemprego está também bastante alto, pelo que dou graças à Deus de me manter empregado.
E, independentemente de dar aulas, eu tenho me inscrevido em plataformas de emprego, e sempre demando aos amigos sobre postos de trabalho, porque ainda preciso de fato me estabilizar financeiramente.
Então, estou sempre na luta, não paro, organizo currículum, e se há sempre vagas, concursos, e eu sempre me submeto, envio minha candidatura.
Presentemente, estou a concorrer em três concursos de bolsas, sendo duas na própria FBAUP (uma paga 500 euros e outra 750 euros, sendo que a que paga menos é destinada a serviços burocráticos do Instituto de Investigação, e a que paga mais para pesquisa em audiovisual; a que paga menos, trabalha-se mais e a que paga mais, trabalha-se menos...), e ainda uma outra bolsa na Cinemateca Portuguesa, mas de curta duração, apenas um mês, paga 1.400 euros. As duas bolsas da FBAUP duram seis meses de contratação, mas confesso que tenho deficiências na Língua Inglesa, enquanto que a da Cinemateca não exige conhecimentos neste idioma.
E espero ainda que a FUNDAÇÃO DE CIENCIA E TECNOLOGIA abra seu concurso nacional para eu me submeter também, o que será de grande valia, ser aprovado, são mil euros por mês durante um ano, renovável (minha candidatura já está praticamente preparada, tenho um bom currriculum e cartas de referencias.
Eu me inscrevi no doutoramento na modalidade PARCIAL, quer dizer, pago a metade da propina (anuidades) mas também faço em dois anos o primeiro ano, entretanto, negociei com o coordenador do curso, e ele aceitou que eu faça todas as disciplinas, para não me atrasar, já que o curso tem de ser concluído entre três e cinco anos.
A anuidade do doutoramento é de 3 mil euros, total, mas eu pago 1.800 euros de anuidades, mais a taxa de matrícula e o seguro..
Então, esta anuidade deste plano parcial, eu dividi em 4 parcelas de 450 euros.
Eu vendi o carro mas tive que pagar multas e nem deu pra comprar muitos euros pra vir pra cá.
Os primeiros meses foram instáveis e a gente sempre gasta mais até se organizar.
O meu irmão João foi quem bancou a minha passagem.
E a minha irmã Irene que bancou a primeira das quatro parcelas das propinas, mais a taxa de matrícula e o seguro, ainda no Brasil, antes de vir, o que garantiu a minha vaga.
Consegui pagar a parcela de 31/1, as demais parcelas vencem: Dia 31/3; e Dia 31/6.
A segunda parcela (31/1) eu consegui pagar, mas me quebrei financeiramente.
Mas, não estou parado, e sigo com meu curriculum submetendo candidaturas a postos de trabalho, e a bolsas de empregos, e de financiamentos de estudos, além de projetos em estabelecimentos de ensino, e entidades culturais, onde eu posso ministrar cursos.
Inclusive darei um Seminário do Mestrado em Cinema da ESAP (4h = 70 euros), em Abril eles vão promover um Curso que eu vou ministrar e ficar com todos os valores (estou pensando em cobrar uns 70 euros e tentar alcançar cerca de dez alunos, estimo 700 euros para uma semana de curso 20h aulas total...)
Pelas 8 horas aulas de aulas que eu ministro no Instituto Politécnico de Bragança (campus Mirandela) , eu recebo 600 euros.
Entretanto meu contrato é semestral, e, felizmente, foi renovado, mas eu perdi 4 horas/aula, ou seja, darei apenas uma disciplina e não duas, como até o momento tem sido, o que significa dizer que eu perdi a metade do salário.
Ou seja, ficarei abaixo do limite de meus gastos a partir de março.
O meu orçamento é o seguinte:
Recebo 600 euros, atualmente (receberei 300 euros a partir de março)
Desconto 100 euros de impostos e segurança social
Gasto 100 de transportes ida e volta.
230 euros eu gasto de aluguel
Sobram-me exatos 170 euros para alimentação, e outros custos, como transportes no Porto .
Eu tento economizar ao máximo, como disse acima, com uma vida regrada, e só participo de atividades culturais gratuitas, não como fora de casa, e ando bastante à pé, para ir as aulas e outros espaços (não bebo, não fumo, não como carne, não tomo café, cortei com meus vícios há cerca de um ano).
A luta é contínua.

Francisco Weyl


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