Pular para o conteúdo principal

A dialógica cinematográfica do Fórum Plateau

Com criatividade e coragem, Cabo Verde realizou o Plateau – Festival Internacional de Cinema, com 83 filmes, 12 dos quais de origem nacional.
O Cinema é uma arte que custa muito dinheiro, envolve a aquisição ou aluguel de equipamentos sofisticados e a contratação de profissionais especializados.
Não é simples fazer cinema sem nenhum suporte de produção institucional e empresarial, sem orçamentos públicos e investimentos privados, sem apoios das esferas administrativas, sem editais e sem prêmios.
Na rota contrária da História, este simples (f)ato representa a força desta arte para o país. Há que amar a arte e dela se armar.
Além de trazer à ribalta diversos filmes africanos, o Festival abriu um espaço público que estava fechado há anos; devolveu um cinema à capital do país; trouxe crianças para a sala de sessão a partir de parcerias com escolas; e ainda levou esta arte aos povos de comunidades distantes do centro da cidade.



Estes fatores sublimam o Festival em si e o potencializam além-mar, sem descurar das raízes a partir das quais cresceram estes frutos.
Muitos abnegados e outros anônimos apaixonados por cinema realizaram, pesquisaram e dialogaram sobre este arte em diversos espaços como escolas, cineclubes e salas de cinema, quando estas existiam.
Eram amadores porque amavam e profissionais porque desta forma se dedicavam ao cinema.
E o profissionalismo e a competitividade do cinema nacional cabo-verdiano, aliás, também foram debatidos no Fórum Plateau – realizado no âmbito do Festival  Internacional de Cinema de Cabo Verde– que refletiu e apontou algumas proposições estratégicas para o bom andamento do setor no país.
O Fórum reuniu dezenas de jovens realizadores, pessoas articuladas à cultura cabo-verdiana, e que habitam a cidade da Praia – no auditório do Palácio da Cultura Ildo Lobo numa quinta-feira á tarde (27/11).
No lugar e na hora, certos, o Fórum acontece no âmbito do Festival que movimenta a capita do país, certame que promoveu uma verdadeira maratona fílmica, em espaços fechados e abertos, no centro e na periferia.


Foram cerca de três horas de diálogo franco e aberto sobre os próximos desafios para a produção do cinema e dos festivais em Cabo Verde e em África.
Os oradores se revezaram em observações sobre as estratégicas de construção de redes e parcerias e políticas para o setor audiovisual e do cinema e do vídeo em Cabo Verde.
A questão capital que norteou algumas das falas foi a de como ser criativo e fazer cinema num país onde o próprio ministro da cultura, Mário Lúcio, afirma que o Ministério não tem orçamento nem para fazer um longa-metragem.
Mas, a despeito da falta de recursos financeiros e estruturais,  há cinema em Cabo Verde. E para além de cinema, realizadores e produtores engajados na mudança do quadro atual.
As ideias e as metas ainda são iniciais, mas arrojadas e nascidas por determinação política da própria base que fez o Festival.


Há aqui, portanto, a composição de uma REDE, descentralizada pela sua própria natureza, e com base na experiência e na solidariedade artística internacionalista.
Reconhecido pela sua cultura, pela sua musicalidade e pela sua poética generosidade de seu povo, permanentemente Enredado, desde as Ilhas que o compõem até a Diáspora Cabo Verde agora se revela ao Cinema.
Os debates sobre etnia e gênero, política e estética, que permearam o Fórum  evidenciaram este sonho. Mas sempre com os pés no chão.

© Carpinteiro

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Entre aforismos e reflexões sobre a existência - análise crítica da obra de Jaime Pretório

A obra, mesmo não sendo uma extensão do artista ou propriedade do público que a ressignifica, é uma potência inerente e transcendente ao próprio artista, entretanto, um escritor, como, em geral, um artista, não se resume ao que ele escreve, ao que ele concebe. A obra de Jaime Pretório, em especial sua coletânea “1000 Aforismos recortes de uma vida” vai além das palavras e das ideias que ele usa para expressar sua ampla reflexão sobre a condição humana, nestes tempos em que já nem sabemos ao certo se sobre ou sub vivemos. Nesta obra, o autor discorre sobre questões cotidianas, convocando-nos a uma jornada de introspecção, a partir de aforismos sobre normas sociais, dogmas religiosos, convenções filosóficas, mensagens poéticas. L er o autor impõem-nos desafios, ainda que na sua estilística aforística ,  o sinta gma  frasal se encerre em si próprio ,   através de  uma mensagem fragmentária, no caso d e  Pretório, uma mensagem fragmentária sobre os diversos temas qu...

Um Encontro de Arte e Reflexão: X FICCA na Livraria Gato Vadio

A Livraria Gato Vadio será palco de um dos momentos mais inspiradores do X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, que celebra a arte de resistência da Amazônia. Entre histórias contadas pelas telas e diálogos que se desdobram em ideias e ações, o espaço se tornará uma confluência de arte, literatura e cinema. Uma das joias da programação do X FICCA será a Oficina de Cinema CADA REALIZADOR UM TERRORISTA E CADA FILME UM ATENTADO, que convida amantes da sétima arte, estudantes e curiosos a mergulharem no universo da criação cinematográfica, sob a perspectiva da arte de resistência social. O festival tem como referencial teórico as estéticas de guerrilhas, as poéticas da gambiarra e as tecnologias do possível, que são conceitos resultantes das práxis pesquisadas e aplicadas pelo criador, diretor e curador do FICCA, Francisco Weyl. Estes elementos para a construção de uma tríade conceitual do cinema de resistência social serão apresentados e dialogados com os participantes, send...