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Carta à Irmandade


Manos, estou feliz, minha vontade de vencer é bem maior que minha insegurança, e assim eu tenho dosado a vida, sem desespero e sem descuido.
Neste primeiro mês, eu penso que tenho conseguido fazer o que havia me proposto, que é retomar os contatos, efetuar novos, procurar emprego, bolsas de estudos, moradia, e resolver questões de natureza burocrática.
Meus planos eram de estar à casa de meu amigo Luís pelo menos um mês e no máximo até o final do ano, paralelamente, a procura de espaços, no Porto.
Aqui é tranquilo, uso um pequeno quarto, que na verdade pertence a filha de meu amigo, que o ocupa quando vem cá ter, embora eles estejam nestes tempos distantes por razões familiares.
Se ficar aqui mais tempo, ocuparei um quarto numa casa aqui ao lado, que pertence a uma prima de meu amigo, mas que há muitos anos não habita esta casa, que, aliás, vai à leilão.
É uma casa antiga, e fria, que tem de ser melhor arranjada, como se diz por cá, mas será minha opção se eu não for ao Porto, onde as rendas estão elevadas, por causa do grande fluxo de turistas, que invadiram a cidade nos últimos anos.
O  turismo descobriu o Porto desde 2001, quando a cidade se tornou capital europeia da cultura. E mais tarde sediou a Copa da UEFA, então, toda a estrutura da cidade está ao serviço de quem tem grana para gastar, o que não é o meu caso.
César é uma pequena e belíssima aldeia com uma vida pacata e agrária e diversos serviços mas distante cerca de 50 quilômetros do Porto, e com precários serviços de autocarro, apesar da sua malha viária ser padrão União Europeia.
E para se deslocar ao Porto tenho de depender dos raros horários desde César até São João da Madeira e de lá até o Porto, o que dá mais ou menos uma hora e meia de tempo, com o detalhe de que há limites nos horários de retorno durante os dias úteis.
Isso quer dizer que quando vou ao Porto tenho de retornar mais tardar, 18h30 para pegar o último autocarro de São João para César, 19h15.
Caso contrário, posso vir à pé 5,5 km de São João até César, como já fiz algumas vezes, ou ficar no Porto, se perder o último autocarro do Porto para São João, que parte 20h.
Outra opção é pegar o comboio da linha de Aveiro e descer em Ovar e pedir para meu amigo ir me buscar, numa distância de 22 quilômetros.
E meu amigo Luís já foi me levar e me buscar algumas vezes tanto a São João quanto a César.
Neste momento, sem dúvida, melhor é estar no Porto, mas desde que o quarto tenha condições mínimas, senão uma casa de banho própria, ao menos uma cama, um armário e uma mesinha para trabalhar, de forma  a não ter de comprar estas coisas, e do mesmo modo as roupas de cama.
Nestes dias, também, eu dormi numa espécie de República anarquista, o Rés da Rua, um espaço alternativo num grande casa de três pisos, ocupados por um núcleo duro, umas dez pessoais, mais os circulantes, que lá ficam por temporadas, ou apenas de passagem.
É um projeto interessante, autosustentável e com responsabilidades compartilhadas, com a vantagem de que os preços estão em conta,  considerando que quem ali habita tem direito a casa, luz, internet, água e alimentação, desde que se adeque às regras do espaço.
Dia 30 terá uma reunião que talvez eu participe para me defender, apesar de que a fila é grande.
A fila também é grande nos serviços sociais da Universidade do Porto, onde fui tomar informações sobre alojamento, a secretária que me atendeu anotou meu nome, mas logo me alertou de que, se eu conseguir, deve ser apenas para daqui a um ano.
Os serviços sociais da Universidade do Porto também dão direito a tratamento de saúde e dentário, alguns gratuitos e outros mais econômicos, mas eu espero não precisar deles, honestamente, porque não estou em condições de me adoentar.
O PB4 que é um plano de igualde de direitos internacionais mediante acordo entre Brasil e Portugal também dá este direito à saúde, que eu tenho, mas não quero precisar, entretanto, ainda não fui ao Centro de Saúde de minha Freguesia me cadastrar, preciso ainda fazer isso.
O que eu tratei também foi da Segurança Social (NIS) e das Finanças (NIF), que eram cosias que eu já era vinculado, no período que morava aqui, e logo que cheguei, atualizei, tendo que resolver as questões burocráticas que se fizeram necessárias.
Quanto as finanças, entretanto, para eu me oficializar como um profissional autônomo, eu terei de pagar tributos anuais, portanto, apenas depois que conseguir algum emprego é que farei isso.
Quanto a Segurança Social, o que eu estranhei é que quando eu fu lá, observei que estou como “cidadão” português, pedi para corrigir, mas eles disseram que tem de deixar como está, entretanto, eu temo que isso ao contrário de me ajudar traga-me problemas por acharem que eu prestei falso testemunho, mas o rapaz da Segurança disse que não haverá problema.
Ainda tenho que entrar nos sites tanto das Finanças quanto da Segurança para renovar o cadastro que fiz pessoalmente, de forma a receber em minha morada, em César, as senhas para eu aceder a outros direitos.
Em minhas buscas por trabalho, submeti meu curriculum a diversas instituições, e tenho recebido respostas gentis, a maioria delas de que meus dados serão colocados no banco de reserva.
Entretanto, chamaram-me para uma entrevista no Instituto Português de Comunicação e Imagem, a conversa foi boa, a coordenadora pedagógica informou-me que iria falar sobre minha candidatura com o coordenador do curso que está a montar a equipe, despediu-se a dizer “vemo-nos de seguida”, mas ainda não me contatou.
No instituto Politécnico de Viana do Castelo que eu submeti meu curriculum em diversas disciplinas sempre fui sumariamente desclassificado, inclusive anotei os e-mails dos participantes da banca e desejo fazer-lhes uma visita, para adequar meu CV ao concurso.
No Instituto Politécnico de Bragança, IPB, fiquei num 13º lugar na disciplina Audiovisual, num 3º lugar na disciplina Reportagem Jornalística, e em 2º lugar na disciplina Fotografia Documental.
Agora a pouco recebi uma ligação de lá a perguntar se eu tenho interesse em colaborar, em duas disciplinas, de 4hs, cada, contrato de um semestre (minha amiga Micaela, que ministra aulas nesta Instituição, disse que os contratos costumam ser renovados, e que eles fazem isso por questões de legislação).
Inicialmente, aceitei na hora, as aulas começam na segunda-feira, dia primeiro de outubro, minhas aulas, nas sextas, o que não compromete o doutoramento, cujas aulas são nas quintas.
Entre Porto e Mirandela, onde funcionam estes cursos do IPB, são 2 hs, o primeiro autocarro sai 7H, a passagem custa 26 euros, ida e volta, terei ainda despesas com alimentação, ainda não sei o salário, que segundo esta minha amiga, deve ficar a volta de 500 euros.
Outro processo de busca por emprego é via obtenção da carteira de Jornalista em Portugal, inclusive, já consegui manter os primeiros contatos com o órgão responsável, faltando ainda enviar uma carta com os considerandos e os respectivos documentos comprobatórios a ver se os convenço em reconhecer meu direito ao exercício da profissão, o que me abriria ainda mais portas.
Oficialmente, minhas as aulas começam dia 4 de outubro.
A Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) é um espetáculo, com espaços estruturados, internet à mil, e gente bonita pra todo lado, e, nestes dias que vou ao Porto, estive a conhecê-la, fico por lá a usar a net.
A primeira aula oficial será de apresentação dos serviços e dos institutos de investigação, que eu quero conhecer, porque soube que há bolsas de trabalho nestes institutos, o que seria bem interessante.
Não falei ainda com o diretor da FBAUP porque vai ter eleição, então, melhor, esperar o pleito que se avizinha, mas, estive a ler os regimentos, e posso concorrer ao Conselho de Representantes, que ocorre após a eleição para diretor.
Sobre bolsas de estudos, os serviços sociais informaram que eventualmente as faculdades podem vir a disponibilizar bolsas, mas de acordo com critérios próprios, sem concursos, ou seja, terei de encontrar apoios nas Belas Artes para isso.
A única modalidade de bolsa é via um concurso nacional da Fundação Ciência e Tecnologia, cujo o prazo eu perdi apesar de ter me cadastrado, porque, na altura, eu não possuía um orientador e é ele quem oficialmente submete a candidatura à bola de seu orientando.
Quanto a orientador, eu já resolvi esta questão, via um amigo, que foi meu professor quando aqui estudei, na ESAP, ele também  ministra aula nas Belas Artes, aceitou de imediato, já está a ler meu anteprojeto de Tese, mas ainda dependemos do aval do coordenador do curso, o qual eu procurei mas com o qual eu não falei pois que está adoentado, mandei-lhe um email, ele respondeu, quando estiver melhor, falaremos a respeito do assunto. 
Quando me submeti ao doutoramento em Belas Artes na Universidade do Porto, enquadrei-me na modalidade parcial, o que baixou as propinas para três mil e seiscentos euros anuais (3.600 EUROS), entretanto, esta modalidade também implica em fazer o primeiro ano, em dois anos.
As propinas integrais custam seis mil euros (6 mil EUROS),  então,  eu entrei no regime parcial, ou seja, neste primeiro ano, eu pago mil e oitocentos euros (1.800 EUROS), sendo que, quatrocentos e cinquenta (450 Euros) já estão pagos, junto com a taxa de matrícula e o seguro escolar (no outro ano eu pago mais mil e oitocentos euros -1.800 - em quatro parcelas, somando-se, os três mil e seiscentos – 3.600 – EUROS) .
Ou seja, eu aqui cheguei já a dever mil trezentos e cinquenta euros (1.350 Euros) para a FBAUP, e que os terei de pagar em três parcelas (31/01; 31/03; 31/06), em 2019, já que também me enquadrei nesta modalidade de parcelamento máximo de quatro (o4) prestações.
Eu vim para cá com seiscentos (600) Euros, num cartão, e mais mil e trezentos (1.300) euros, em dinheiro.
Mesmo tendo sido o mais econômico possível, o dinheiro se esvai, no transporte e na comida, sendo que não faço refeições fora de casa, e quando saio, fico na base do pão e da sopa.
Andei a fazer contas e anoto tudo o que gasto para ter controle, mas viajei a Lisboa, comprei telemóvel, e as vezes colaboro com a gasolina do meu amigo quando ele tem de ir me buscar em Ovar (22 km)  ou na Feira (10 km).
Aqui na casa do Luís, eu contribuo na medida do possível, com gás e comida, ao menos o que eu uso particularmente, já que mesmo sem ter de pagar a renda, eu não posso me escusar de colaborar.
Além destas contribuições, da ida a Lisboa, e da compra do telemóvel, meus  gastos mais comuns são com pão e transportes, pelas minhas contas eu já gastei  quatrocentos e oitenta e um euros e noventa e cinco cêntimos (481,95 euros).
Uma passagem César-São João custa 2,10; uma passagem São João-Porto custa 5 euros; uma refeição econômica custa entre 4 e 6 euros (nas Belas Artes, custa a volta de 3 euros).
O gás custa 25 euros, e um litro de combustível, 1 euro.
 
Tenho tentado ver preços e procurar quartos no Porto, que andam a volta desde 150 até 300 euros, alguns com direito à luz, água, internet e uso do espaço comum, outros, nem tanto.
Claro que me interesso por aqueles que são mais próximos do centro e da minha escola para não pagar transportes, mas confesso que não tem sido fácil pelos motivos já expostos e também porque estou chegando agora e nem estou direto no Porto.
Ainda não sei quanto exatamente irei receber de salário deste meu emprego, nem como vou fazer exatamente para pagar as propinas escolares em tempo hábil, para evitar os juros, e assim garantir a matrícula para o meu segundo semestre que será no próximo ano leito 2019/2020 (já que meu tempo é parcial, ou seja este ano faço um semestre).
De qualquer forma, andei também a sondar preços mais econômicos e Coimbra é uma opção de transferência, do mesmo modo , Vigo, na Espanha, onde tudo é infinitamente mais caro do que no Porto, que ainda é uma das cidades mais econômicas da Europa.
Mas isso tudo são conjecturas, porque tenho mesmo de me dedicar a cursar este semestre e a pagar os valores nos prazos estipulados.
Que Oxalá nos abençoe.

 
Francisco Weyl
César, Aveiro, 26 de Setembro de 2018


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