A convite do professor Diogo Melo (UFPA), a artista Roberta Mártires vai ocupar a ribeira do Tucunduba com a instalação/ experimentação ATI-NÃ-NÃ, durante a 22ª Semana Nacional de Museus, que acontecerá entre os dias 13 e 17 de Maio, e para a 76°SBPC ( Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), de 07 a 13 de julho.
Inspirada na América Latina e numa dialógica estética com a obra Marajó ( Dalcídio Jurandir) ,com o Manto da Apresentação (Bispo do Rosário) e os Parangolés (Hélio Oiticica), a intervenção de artes visuais utiliza fios e cordas coloridos amarrados em um suporte instalado em meio às arvores do bosque onde ficará patente a exposição durante toda a semana.
À margem do segundo maior Rio de Belém, mas dentro do espaço territorial de uma Instituição de Ensino Superior como a UFPA, a artista aproveitou-se de sucatas de ferro velho para construir o que chama de portais pelos quais a energia da lendária Matinta aqui se manifesta como guardiã das águas e das mulheres riberinhas e das florestas.
Turismóloga, Roberta Mártires morou em Ajuruteua durante a pandemia, período em que desenvolveu projetos com crianças e adolescentes da comunidade, através da utulização de recicláveis, resignificados em objetos artísticos e artesanatos sustentáveis, além de continuar seu histórico trabalho de crocheteira autoral, através da sua marca, Multifario, que veste artistas como Chico César e Dona Onete.
Esta experiência praiera que também a colocou em contacto com o mangue bragantino, consolidou o trabalho ambiental da artista, para quem a ancestralidade e a memória são elementos fundamentais na construção de seus processos de pesquisa.
Neste desafio em que ela se coloca, pela primeira vez, no campo da Museologia, Roberta estará no lugar mais sagrado que uma cidade ribeirinha como Belém pode ter, que é o rio, considerando ainda que o Tucunduba percorre quatro bairros (Marco, Canudos, Terra Firme e Guamá), interferindo na vida de centenas de mulhares de gentes, ainda que a cidade esteja de costas para o rio, cada vez mais poluído e esquecido, invizibilizando-se as gentes que por ele navegam e/ou habitam suas margens.
Sob esta perspectiva, a artista visual se coloca num dentro que é fora, ou seja, ao mesmo tempo em que ocupa o território e o espaço da UFPA, ela se coloca do lado de fora da estrutura física, na beira do rio, que é onde ficará patente a sua exposição dedicada às famíias ribeirinhas e suas memórias vivas.
Numa Região para a qual os olhos de mundo se voltam ainda que não a vejam como a Amazônia, acender esta chama da Matinta: ATI-NÃ-NÃ, o recanto da ave Matinta, a...ti...nã....nã...a...ti...nã...nã, chamando-a para se reencantar e reescrever as histórias dos poderes e das energias femininas amazônidas.
Roberta escreveu esta letra para uma cancao sobre este trabalho:
"Música apresentação:
Matinta chamou
O homem esqueceu
O Rio que nasceu
E desencantou
Matinta chamou
Cidade cresceu
O Rio se afogou
Ribeira morreu
Matinta avisou
E hora de ver
Espelho da vida
Tucunduba é pra ser
Matinta gritou
Se não me ouvir
Vais é sucumbir
No alvorecer
O Rio é tua casa
Precisas saber
O homem que mata
Da mata é pra ser
Matinta é do Rio
Matinta é sábia
E no assobio
Matinta se rasga"
(Autora da letra Roberta Mártires )
...
TEXTO E FOTO DO CARPINTEIRO
COM CORREÇÕES DA ARTISTA
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