A relação entre o FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté – e a Mostra Internacional de Cinema Negro (MICINE) não se sustenta em homenagens protocolares ou aproximações circunstanciais. O que une os dois projetos é uma orientação intelectual compartilhada: compreender o cinema como prática crítica, como forma de organização do pensamento político e como ferramenta de resistência estética diante das estruturas que historicamente tentam controlar os modos de ver e narrar o Brasil. A MICINE, sob a curadoria de Celso Luiz Prudente, consolidou a leitura de que a imagem negra é soberania – não resíduo folclórico, não tópico identitário, mas centro produtor de linguagem e conhecimento. Esse deslocamento do olhar, que reorganiza a história do cinema brasileiro, dialoga diretamente com o que temos desenvolvido no âmbito do FICCA: um campo emergente de reflexão sobre o cinema amazônida, especialmente aquele que nasce do Atlântico Paraense, território hoje reconhecido como Região do Cae...
Na terra onde todo mundo se arvora como “o primeiro” ou “a primeira”, sempre tentando apagar quem ousa aparecer no presente, é de se admirar que o longa-metragem paraense tenha renascido numa escola pública da Marambaia. Sim, na Escola Estadual Temístocles de Araújo, um professor de História chamado Sebastião Pereira resolveu desafiar não só a escassez de recursos, mas também a tentativa de apagamento: enquanto alguns repetiam que “desde Líbero Luxardo não houve nada”, ele fez. E fez do seu jeito, fiel a uma tradição de cinema de guerrilha, sem depender de holofotes ou patrocínios. O resultado foi Cabanos (BR, 2009, 60 min), sobre a Cabanagem, com 110 atores voluntários — alunos e ex-alunos — e gravações em Curuçá, Icoaraci, Mosqueiro, Cidade Velha e Ilha das Onças. O filme teve sua estreia oficial no histórico Cinema Olímpia, em Belém, consolidando a ousadia do projeto. Cabanos é mais que um filme: é resistência cultural em movimento, prova de que é possível fazer história na tela gra...