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Marambaia constrói protagonismo periférico rumo à COP30 com trabalho de base e construção coletiva

Belém (PA) — Em meio à crise climática global e ao avanço de grandes projetos que invisibilizam as periferias, a comunidade da Marambaia, em Belém, reafirma sua potência como território de resistência, cultura e luta política. No próximo dia 7 de junho, às 19h, a Confraria do Jota, coração cultural da Marambaia, sedia o debate “Terra em Alerta, Corpos em Pé: Caminhos de Resistência até a COP30”, reunindo artistas, ativistas, educadores e representantes comunitários para discutir estratégias locais frente à COP30 — que ocorrerá em Belém em 2025 — e fortalecer o protagonismo periférico na construção de políticas públicas.


Esse debate não é um ponto isolado, mas fruto de um processo coletivo que começou em 2023, durante a II Feira do Livro Artesanal da Amazônia, quando artistas, professores, lideranças comunitárias e movimentos populares fundaram o Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP30. Desde então, o Fórum vem tecendo uma teia de encontros, oficinas e grupos de trabalho que não apenas denunciam a exclusão histórica da Amazônia urbana nos grandes eventos internacionais, mas também constroem alternativas a partir do território e da força do trabalho de base.


A Marambaia é mais que um bairro arborizado com rios, igarapés e canais: é território de memória, ancestralidade e organização popular. Desde as lutas pela redemocratização, pelos direitos indígenas e quilombolas, pelas Diretas Já, pelas juventudes periféricas, pelas mulheres e pela diversidade, a Marambaia sempre esteve na linha de frente da resistência. Essa história ecoa hoje na mobilização para a COP30, que não pode ser apenas uma conferência de palco, mas um espaço de escuta real das comunidades que vivem, respiram e defendem a Amazônia.


“Não aceitaremos uma COP30 para inglês ver. Queremos ocupar o centro do debate com as nossas demandas, saberes e soluções construídas na Marambaia”, afirma Francisco Weyl, jornalista, cineasta e ativista cultural que coordena o Fórum. Para ele, a luta pelo clima começa na base, e a Carta Climática da Marambaia, em construção nos Grupos de Trabalho (GTs), é a expressão concreta desse protagonismo: “A Carta é nosso instrumento político de pressão e diálogo com o poder público, e vai dizer em alto e bom som o que a Marambaia quer e precisa”, reforça Weyl.


O debate do dia 7 contará com a participação do cineasta Luís Costa, que falará sobre o audiovisual como ferramenta de mobilização; dos artistas visuais Cuité e Rosilene Cordeiro, cujas obras dialogam com os corpos periféricos e suas resistências; e do vereador Waldeir Reis, que busca conectar o Legislativo às demandas históricas da comunidade. É uma roda de conversa, mas também é um ato político: a Marambaia se recusa a ser plateia — quer ser protagonista.


Para Rosana Santos, artista e coordenadora do Fórum, esse processo é uma escola de cidadania: “Aqui, a gente aprende a ser sujeito político, a se ver como protagonista e não como figurante da história.” A Marambaia, segundo ela, está construindo sua própria agenda para a COP30: “Não estamos esperando que o governo venha nos ouvir; nós estamos nos organizando para sermos ouvidos.”


Esse trabalho de base — que envolve escolas, associações, coletivos artísticos, grupos religiosos e iniciativas culturais como o Cordel do Urubu, o Boi Vagalume e a Casa do Poeta Caeté — é o que fortalece a Marambaia como território de luta e transformação. Cada oficina, cada sarau, cada reunião do Fórum é um passo rumo à construção da Carta Climática da Marambaia, que será entregue às autoridades e representantes da COP30 como documento legítimo das vozes periféricas.


“A Amazônia começa no território. Sem respeitar as realidades locais, qualquer conferência internacional será apenas discurso vazio. Estamos aqui para dizer que a Amazônia é viva, é humana e tem voz!”, conclui Weyl.


SERVIÇO:

📍 O quê: Debate “Terra em Alerta, Corpos em Pé: Caminhos de Resistência até a COP30”

📅 Quando: 7 de junho de 2025, às 19h

📌 Onde: Confraria do Jota 

Passagem São Tomé, 413 - Marambaia, Belém - PA

CEP 66620 600

🎤 Convidados: Luís Costa (cineasta), Cuité e Rosilene Cordeiro (artistas visuais), Waldeir Reis (vereador)

📝 Realização: Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP30

📺 LINK: https://youtube.com/live/yq9QAT6B2CM


É tempo de Marambaia: tempo de ocupar, resistir e construir com nossas vozes, nossos corpos e nossos sonhos.






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