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El último trago não é um filme trágico


O mexicano José Alfredo Jiménez Sandoval criou temas que tocaram os corações da América Latina.
Nascido em Dolores Hidalgo, Guanajuato (19/01/1926 -  Cidade do México) e falecido a 23/11/1973, compôs sensíveis huapangos, corridos, rancheiras.
Entre as quais, “En El Ultimo Trago”, que dá nome a um filme produzido em 2014, sob a direção de Jack Zagha Kababie.
É um tema tão popular que tem versões nas vozes de Júlio Iglésias e de Chiavela Vargas.
Escrita por David Desola, a película é uma espécie de road movie na terra natal de Alfredo Jimenez.
E tem no elenco atores veteranos conhecidos do México, alguns falecidos após as filmagens.
Inclusive, uma atriz que trabalhou com Buñuel, Columba Dominguez, morreu após o filme.
Além dela, Hernán Mendoza, Luisa Huertas, e Pilar Pellicer completam a constelação do elenco secundário deste filme que relata a aventura de três idosos, Emiliano (José Carlos Ruiz), Benito (Eduardo Manzano) y Agustín (Luis Bayardo).
Eles se destinam a cumprir o último pedido de um amigo, Pedro (Pedro Weber 'Chatanuga'), qual seja, levar um guardanapo autografado pelo cantor Jose Alfredo Jimenez Sandoval, desde a Cidade do México até Dolores Hidalgo.
Com o mote, este tragicômico road movie põe em cena diversas situações que são vividas pelos personagens ao longo dos encontros e desencontros em que vivem conflitos pessoais, psicológicas, econômicas e familiares, apesar de suas limitações de idade.
Prêmio do Público no Festival de Guadalajara de 2014, o filme surge a partir do momento em que seus produtores passam a deter direitos sobre algumas canções de Jimenez, razão pela qual o guionista David Desola recorreu a alguns elementos que compõem o universo de suas canções para ambientar o filme.
No debate do qual participei com o próprio Desola no Castelo da Caverneira, espaço do Teatro Art’Imagem, que promoveu a exibição, mediada pelo estudioso e cineclubista José Bastos, Desola afirmou que o filme poderia ser mais “fantástico”.
Desola se refere ao misticismo característico do México, que ele tenta levar à tela,  com a presença de “fantasmas” de mortos que dialogam com vivos, e mesmo com a rápida introdução de uma Bruxa, que prevê um acidente de automóvel envolvendo os personagens que conduzem a trama.
Inevitavelmente, o filme faz lembrar David Linchy (História Simples), apesar da autocrítica do guionista David Desola, que procurou mexicanizar e popularizar os diálogos, dentro do universo das letras de Alfredo Jimenez, mas, mesmo assim, limitado apenas ao temas das  canções cujos direitos são detidos pelos produtores.
A saída criativa, segundo o guionista, foi tentar introduzir outros elementos referenciais de forma simbólica, como, por exemplo, um místico cavalo branco, que aparece repetidas vezes em cena, bem como repetir alguns versos conhecidos do cantor Alfredo Jimenez pelas vozes dos personagens do filme, entre os quais “o importante não é chegar primeiro, mas saber chegar”.
Destaque-se ainda o personagem “El Catalan”, que faz um link do México com Espanha, e é uma espécie de alterego do guionista Desola, que é natural de Barcelona, e casado com uma mexicana (Catalan se destaca porque estáno acidente automobilístico previsto pela Bruxa de estrada, e cujo realismo mágico poderia ser melhor explorado).
É um filme bem feito para os seus padrões culturais e objetivos de entretenimento da grande indústria, ou seja, agradar ao público durante 90 minutos, com pitadas de magia e humor, sensibilidade e tensão.
Tem fotografia razoável, boa produção, sendo bem realizado e escrito, mas falta-lhe a força trágica da arte cinematográfica, uma força primitiva, antropológica, sem dúvida, dispersa no tema da memória e do Amor-amigo, que são abordados pelo filme.
Este não é dos meus filmes preferidos, em razão de minhas preferências estéticas se dirigirem às obras cujas sequências sejam mais lentas, e de planos mais abertos, mais densos, e menos cômicos, e que na sua perspectiva filosófica, remetam o público à sua condição humana essencial e não o tentam libertar desta dor da qual ele foge mas que não pode escapar.

© Carpinteiro de Poesia




“El último trago”

(Alfredo Jose Gimenez Sandoval)

Tómate Esta Botella Conmigoy
En El Último Trago Nos Vamos
quiero Ver a Que Sabe Tu Olvido
Sin Poner En Mis Ojos Tus Manos
esta Noche no Voy a Rogarte
ésta Noche Te Vas De a Deveras
Que Difícil Tener Que Dejarte
sin Que Sienta Que Ya no Me Quieras
Nada Me Han Enseñado Los Años
siempre Caigo En Los Mismos Errores
otra Vez a Brindar Con Extraños
Y a Llorar Por Los Mismos Dolores
Tomate Esta Botella Conmigoy
En El Ultimo Trago, Me Besas
Esperamos Que no Haya Testigos
por Si Acaso Te Diera Vergüenzasin
Algún Día Sin Querer Tropezamos
No Te Agaches Ni Mi Hables De Frente
simplemente La Mano Nos Damos
y Despues Que Murmure La Gente
Nada Me Han Enseñado Los Años
siempre Caigo En Los Mismos Errores
otra Vez Abrindar Con Extraños
Y a Llorar Por Los Mismos Dolores
Tómate Esta Botella Conmigoy
En El Ulimo Trago Nos Vamos...

TRADUÇÃO
Toma esta garrafa comigo
No último gole vamos embora
Quero ver a que sabe teu esquecimento
Sem colocar tuas mãos em meus olhos
Esta noite não vou te suplicar
Esta noite te vais de verdade
Que difícil tratar de te esquecer
Sem que sinta que já não me ames

Nada me ensinaram os anos
Sempre caio nos mesmos enganos
Outra vez a brindar com estranhos
E a chorar pelas mesmas dores

Toma esta garrafa comigo
No último gole me deixas
Esperamos que não haja testemunhas
Se por acaso te der vergonha
Se algum dia sem querer troperçarmos
Não se curve nem me fale de frente
Simplesmente damos as mãos
E que depois as pessoas murmurem

Nada me ensinaram...

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