Prossegue na comunidade do Torre, em Tracuateua, o I encontro de lideranças quilombolas da Região Bragantina, sendo o fórum organizado pela ARQUIA (Associação Remanescente da Comunidade Quilombola do America) com apoio do Fundo Elas, e do IFPa-Bragança.
Dezenas
de pessoas das comunidades do Torre, Cigano, Campo Novo e Jurussaca, América, Itamoari,
Belaurora, Jacarequara dialogam, trocam ideias e participam de formações sobre
identidade quilombola, violência de gênero, e racismo estrutural, sendo
prevista a aprovação de uma Carta coletiva no final da programação deste domingo
(29.01).
NOTA
DO EDITOR
Estivemos hoje (28.01) na comunidade quilombola do Torre para acompanhar a primeiro encontro de
quilombolas da Região Bragantina, portanto, para melhor conhecer as lutas, e estar
mais atento a elas, observar como posso colaborar e me enquadrar nos processos
e métodos de luta políticas quilombola.
Sendo um
primeiro encontro, que reúne estas comunidades tão diversas, o momento se
reveste da maior importância pelo ineditismo e a riqueza da troca de experiência,
e as decisões a partir dos esforços para se buscar consensos nos encaminhamentos
das demandas e lutas que constituem pautas comuns a todas estas comunidades
articuladas.
Como sabemos
que onde alguns maturaram e resolveram, outros ainda estão a dar os primeiros
passos, é bom os parceiros poderem mostrar uns aos outros os caminhos da pedras
para que todos possam aprender uns com os erros e os acertos dos outros.
A nossa
presença enquanto ativista social, enquanto pesquisador e realizador de cinema,
enquanto coordenador do FICCA – Festival internacional de Cinema do Caeté,
ocorre neste sentido de dar visibilidade aos debates e causas quilombolas,
escrever sobre estes temas, fazer fotografias, postar em meu blog e minhas
redes.
Colocamo-nos
à disposição dos quilombolas para amplificar esta luta, para que as pessoas
saibam que os movimentos quilombolas da região estão se organizando,
organizados, estão construindo perspectivas e um planejamento em comum, um
programa de lutas amplo coletivo que acumule mais forças para potencializar o movimento,
em Tracuateua, Bragança, Santa Luzia, e outros territórios.
E
finalmente, além de declarar este objetivo, pretendemos fortalecer a parceria
com a Associação de Remanescentes Quilombolas do América, realizadora deste
encontro, do mesmo modo ampliar parcerias com o FICCA, através da realização de
oficinas de Cinema de Guerrilha, sessões cineclubistas e outras atividades
culturais, que nascem a partir de dialógicas e cujos resultados são coletivos, sendo
esta matéria bruta transformada em poesia, transformada em cinema e em luta
política.
Nesse
sentido, o nosso recorte é o das mídias alternativas, ou seja, propomos o
enfrentamento do mercado e do sistema com seu próprio instrumento e a sua própria linguagem,
fazendo com que estes sejam utilizados contra o sistema.
Quem tem um
aparelho de celular nos dias de hoje, consequentemente, também tem uma potência,
seja para se comunicar, seja usando aplicativos, redes sociais, seja para falar
ou fotografar e filmar, produzir conteúdos audiovisuais, mas o nosso desafio é o
de qualificar esta mensagem, de forma a que a nossa fala, a nossa estética, a
nossa linguagem, a nossa poética - sejam reconhecidas, não apenas por nós, mas,
pela sociedade de uma forma global.
Porque quando
o sujeito olha o cinema padronizado, enlatado, colonizador, típico do próprio mercado,
o cinema subcomercial, a gente tende a reproduzir e repetir esta linguagem e
seguir a tendência deste repertório audiovisual determinado pelo mercado, pela
televisão, pela cultura do videoclipe, portanto, é do nosso interesse
questionar este “status quo” para desconstruir e mesmo destruir esta linguagem.
Ou seja, a
gente usa o equipamento que a indústria construiu, que o telefone celular, a gente
utiliza a linguagem do cinema, do vídeo, do audiovisual, com sua gramática e
técnê, entretanto, usamos esta mesma linguagem mas com outra escrita, numa
perspectiva estética no sentido de reverter esta linguagem.
E claro que
isto levanta uma discussão que também é antropológica, porque nosso trabalho é
esta guerrilha audiovisual, confrontar o sistema com a nossa imagem, afirmar a
nossa produção de forma qualificada ao mesmo tempo em que não podemos utilizar a
linguagem da forma que favorece a este sistema que sempre invisibiliza comunidades
periféricas, tradicionais, quilombolas.
E invisibiliza,
por que? Para usar a nossa linguagem em favor do sistema, portanto, o sistema
que apaga e desqualifica comunidades, então, sabemos que esta reversão é ainda
mais complexa na dimensão das causas sociais aqui tematizadas, mas este desafio
nós o enfrentamos no quotidiano dos projetos que realizamos, em parcerias que
objetivam coletivos.
Fonte , texto e fotos
CARPINTEIRO DE POESIA Francisco Weyl
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