Pular para o conteúdo principal

MANIFESTO PELO VALOR PERIFÉRICO

 

MANIFESTO PELO VALOR PERIFÉRICO

 

A Arte não é um espelho para refletir o Mundo, mas um martelo para forjá-lo. (Vladimir Maiakovski)

 

Nós, artistas, produtores, técnicos, professores, pesquisadores, trabalhadores e amantes das artes e das culturas amazônidas e paraoaras, vivemos, trabalhamos e produzimos nas periferias, somos vitimas constante da ação violenta da policia.

Aqui o buraco é mais em baixo, a polícia mata! 

Nesse sentido, denunciamos a politica de extermínio da juventude da periferia de Belém pela Policia do Estado, e em especial a Negra, razão pela qual entendemos que é necessário clamar e propor políticas culturais para a juventude da periferia.

Exigimos uma politica cultural inclusiva para que possamos nos expressar perante o mundo e desta forma nos realizar enquanto seres: que as vozes irmanadas gritem por teatros, salas de cinema, espaços de multiuso, cursos profissionalizantes, editais específicos.

Na PERIFERIA.

 

(...)

 

Um movimento de artistas não deve reduzir suas reivindicações à democratização dos recursos públicos, mas questionar a própria estrutura de financiamento da cultura, do contrário sairá das mãos dos marchands para a rede do capital privado, sob o domínio da burocracia estatal.

Se a arte entra no jogo do mercado como necessidade de sobrevivência dos artistas periféricos na selva do capital, ela não deve se reduzir ao jogo da economia da cultura.

O jogo de selos, portfólios, logos, tudo deve ser questionado quando se pensa em arte livre.

Denunciamos, portanto, este jogo sórdido do campo cultural subordinado aos interesses e regras de instituições governamentais, empresas, leis e organizações não governamentais, cujas práticas não vão ao encontro das comunidades excluídas dos processos culturais.

Uma arte livre deve ser autônoma, não deve ser apenas resultado de uma oferta do Estado, de espaços para sua exibição e fomento. Esse espaço também deve ser construído por fora, de maneira autônoma a qualquer instituição.

Arte e cultura são conhecimentos ancestrais constitutivos do humano, em especial na Amazônia, e não ferramentas ou indicadores de ascensão econômica e social, e por isso manifestamos latente preocupação quanto a esta abordagem.

 

(...)

 

Se nos perguntarmos qual o valor do artista para a política cultural paraense, rápido chegaremos a um consenso.

É consenso para todos nós que o valor da cultura é simbólico.

Quanto a isso, não há o que divergir.

Mas não há dinheiro que pague um poeta, muito menos a sua poesia, ainda que o mercado possa comercializar seus livros, consequentemente, o (pseudo) jornalismo e crítica acadêmico-mediáticos os reverberem nesta roda da fortuna da indústria cultural.

Um poeta não tem valor, embora seja simbólica a sua produção cultural e ainda mais real seja a sua intervenção na comunidade, a qual é totalmente “invisível” aos olhos dos lucros indústrias - que lhe condenam ao anonimato de forma a privilegiar os interesses dos grupos culturais que traficam a verdadeira arte do povo para o mercado.

 

(...)

 

Como diz Buscapé Blues, mas quando o assunto é financeiro é cada um por si, cada um por si, cada um por si.

Numa perspectiva econômica o Estado não pode apenas privilegiar quem faz e/ou produz objetos/produtos para o mercado.

O Estado até pode ajudá-lo, mas mantê-lo e ignorar o artista da periferia, jamais.

O Estado como indutor da economia não pode privar o artista popular e a arte que se cria na periferia dos direitos ao acesso aos recursos, bens e às estruturas culturais, que em tese deveriam ser disponibilizados a toda a sociedade.

O Estado não pode permitir que a arte periférica fique à deriva do mercado.

E quando falamos MERCADO queremos dizer a academia, a instituição, a mídia e todos os seus ecos nas redes sociais.

O papel do Estado é o de distribuir recursos à sociedade que afinal lhe paga tributos.

 

(...)

 

Os movimentos culturais se articularam e historicamente ampliaram as suas conquistas, algumas traduzidas nas políticas de editais, que são na verdade resultados de demandas populares.

Porque apenas com pressão é que alcançamos os nossos objetivos, as nossas metas. Com pressão somos capazes de ter mais força para negociar.

Mas hoje os editais estão dirigidos para os grupos que atuam no mercado, deixando muito menos que migalhas à periferia.

Há portanto um setor ainda excluído, fartamente excluído, e o Estado tem de ser responsabilizado e assumir este fato.

O que está excluído da política cultural é a periferia.

Nesse sentido, propomos – á exemplo do VALOR AMAZÔNICO – o Valor Periférico, uma política específica de editais e recursos para ações protagonizadas por artistas e produtores culturais que são ou que agem nas periferias.

 

O VALOR PERIFÉRICO

 

Numa perspectiva econômica o Estado não pode apenas privilegiar quem faz e/ou produz objetos/produtos para o mercado.

O Estado como indutor da economia não pode privar o artista popular e a arte que se cria na periferia dos direitos ao acesso aos recursos, bens e às estruturas culturais, que em tese deveriam ser disponibilizados a toda a sociedade.

O Estado não pode permitir que a arte periférica fique à deriva do mercado.

Nós, que vivemos, trabalhamos e produzimos nas periferias, somos vitimas constante da ação violenta da policia, e denunciamos a politica de extermínio da juventude da periferia de Belém pela Policia do Estado, e em especial a Negra e exigimos politica cultural inclusiva para que possamos nos expressar perante o mundo e desta forma nos realizar enquanto seres: que as vozes irmanadas gritem por teatros, salas de cinema, espaços de multiuso, cursos profissionalizantes, editais específicos. Na PERIFERIA.

Propomos – à exemplo do VALOR AMAZÔNICO – o Valor Periférico, uma política específica de editais e recursos para ações protagonizadas por artistas e produtores culturais que são ou que agem nas periferias.

 

Compreendemos o VALOR PERIFÉRICO como uma proposta de governança na área da cultura, razão pela propomos a criação do programa REDE PERIFERIA.

Esta REDE PERIFERIA contará com a participação do governo e da sociedade civil em busca de estratégias que tenham a defesa da juventude e das culturas populares, tradicionais, negras, periféricas.

Por este motivo, com base na ECONOMIA SOLIDARIA + CULTURA DIGITAL + LIBERDADE CRIATIVA, propõe-se, para fortalecer esta REDE PERIFERIA:

 

1.      Linhas de crédito permanente para micro empreendimentos, específicas para os diversos segmentos culturais que atuam ou desenvolvem ações nas periferias.

2.      Editais de fluxo contínuo e desburocratizados, específicos para as comunidades culturais periféricas, negras e tradicionais, com especial atenção à mulheres e trans e à juventude.

3.      Criação de uma frente acadêmica e institucional que a partir de diálogo com a comunidade crie políticas e bolsas de ensino pesquisa e extensão aos professores e estudantes de ensino médio e superior das comunidades periféricas, negras e tradicionais.

4.      Centros Populares de Cultura Periférica - com gestão com gestão autônoma, aberta, descentralizada, colaborativa e compartilhada e com todas as garantias estruturais pela parte do estado para o seu devido funcionamento por pelo menos três anos.

5.      Portal de Cultura Popular e Periférica, com gestão autônoma, aberta, descentralizada, colaborativa e compartilhada.

6.      Observatório Periferia de políticas públicas

 

 

REDIGIDO POR Carpinteiro de Poesia Francisco Weyl e João Lúcio Mazzini

 

 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Entre aforismos e reflexões sobre a existência - análise crítica da obra de Jaime Pretório

A obra, mesmo não sendo uma extensão do artista ou propriedade do público que a ressignifica, é uma potência inerente e transcendente ao próprio artista, entretanto, um escritor, como, em geral, um artista, não se resume ao que ele escreve, ao que ele concebe. A obra de Jaime Pretório, em especial sua coletânea “1000 Aforismos recortes de uma vida” vai além das palavras e das ideias que ele usa para expressar sua ampla reflexão sobre a condição humana, nestes tempos em que já nem sabemos ao certo se sobre ou sub vivemos. Nesta obra, o autor discorre sobre questões cotidianas, convocando-nos a uma jornada de introspecção, a partir de aforismos sobre normas sociais, dogmas religiosos, convenções filosóficas, mensagens poéticas. L er o autor impõem-nos desafios, ainda que na sua estilística aforística ,  o sinta gma  frasal se encerre em si próprio ,   através de  uma mensagem fragmentária, no caso d e  Pretório, uma mensagem fragmentária sobre os diversos temas qu...

Um Encontro de Arte e Reflexão: X FICCA na Livraria Gato Vadio

A Livraria Gato Vadio será palco de um dos momentos mais inspiradores do X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, que celebra a arte de resistência da Amazônia. Entre histórias contadas pelas telas e diálogos que se desdobram em ideias e ações, o espaço se tornará uma confluência de arte, literatura e cinema. Uma das joias da programação do X FICCA será a Oficina de Cinema CADA REALIZADOR UM TERRORISTA E CADA FILME UM ATENTADO, que convida amantes da sétima arte, estudantes e curiosos a mergulharem no universo da criação cinematográfica, sob a perspectiva da arte de resistência social. O festival tem como referencial teórico as estéticas de guerrilhas, as poéticas da gambiarra e as tecnologias do possível, que são conceitos resultantes das práxis pesquisadas e aplicadas pelo criador, diretor e curador do FICCA, Francisco Weyl. Estes elementos para a construção de uma tríade conceitual do cinema de resistência social serão apresentados e dialogados com os participantes, send...