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Sob o signo do #câncer


É, dizem, que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, entretanto, minha filha LUANA WEYL teve câncer aos cinco anos de idade, e agora minha esposa, ADRIANA WEYL, aos 35 anos.
Esta não é a primeira vez, portanto, que atravesso uma tempestade no deserto.
Aprendi com meus pais (e tento passar isso aos meus filhos) a não titubear, e, jamais, duvidar, da força de minha fé, principalmente nos momentos em que desço ao mais escuro de meus  poços, que não secam, inundam-me, ali, onde enfrento os meus medos mais medonhos.
Muitas vezes, mal saia da enfermaria, onde estava a minha filha, e, já á porta, dobrava meu corpo, e desabava em lágrimas.
Andava à esmo pelas ruas, observava as paisagens, mas não as via, eu as atravessava, como se flutuasse, por sobre elas.
A vida em suspensão, o tempo, este ser, sussurrava em meus ouvidos para que o olhasse muito além do que minha própria alma pudesse ver.
Por diversas vezes, eu me ceguei, cerrava os olhos, e olhava para dentro, onde, em algum lugar de meu corpo, pudesse existir uma reserva, instintual, que me fortalecesse.
Orava e orava e orava.
Ainda hoje eu rezo todas as noites e até em meus sonhos sou surpreendido com minhas orações.
É como se uma voz me falasse para que eu não abandonasse este caminho.
Tenho irmãos que são anjos, cunhadas que são mais que irmãs, uma família que se ergueu dentro de um sentimento em que só nos sentimos bem se todos ao nosso redor estejam bem, e não apenas a nossa própria família, mas a humanidade em si própria.
Meu pai era tipo de pessoa que se levantava da própria cama para acomodar alguém, ainda que ele nem o conhecesse.
Minha mãe separava comida para ofertar aos mais necessitados.
Um espírito solidário nos completou e nos move a todos.
Não somos certamente os seres humanos mais corretos e coerentes, mas muito nos esforçamos para buscar na humildade uma forma de ser mais humano e justo.
Sim, há tristeza em meu coração, meus olhos e minhas lágrimas são tradutoras desta emoção.
A sensibilidade é uma poesia tão bonita que nenhum por do sol ou paisagem podem suplantar a sua beleza.
Quanto mais sensível um ser, mais humano ele se torna.
E de seu corpo (de sua carne), maturados nesta dor, nascem os sonhos do mundo.
Eu amo a vida e a esperança.
Amo meus filhos, minha esposa, minha família.
E amo particularmente a cada uma das pessoas que para além de minha dor, se sentem desesperadas, pelos seus sofrimentos.
Pessoas que aprendem nestes momentos em que a fé lhes fortalece a existência.
Pessoas cujas tempestades nos desertos por mais que longas haverão de ser efêmeras.
Pessoas cujo amor lhes transmuta os sentidos.
Eu agradeço aos meus amigos pelo silêncio e pela meditação e pela oração para comigo e para com toda  humanidade.
Que Deus nos ilumine a todos.



                                                  Texto #CARPINTEIRO #ARTE Dri Trindade

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