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Bragança: a volta do Cavalo de Troia - Por Carpinteiro de Poesia

Entre a poesia das ruas de Bragança e o pulsar da juventude carnavalesca, o bloco Cavalo de Troia anuncia seu retorno. Ausente desde o início da pandemia, o grupo se reorganiza para voltar à avenida com força total, prometendo até 2.000 abadás e a mesma espontaneidade que marcou seus primeiros carnavais.

O Cavalo de Troia é um dos blocos mais irreverentes do carnaval. Inspirados na história grega, eles construíram um enorme cavalo de madeira que, em vez de esconder soldados, vinha recheado de cajuaçi, que é uma bebida tradicional de Bragança. A bebida era distribuída pela traseira da estrutura enquanto os foliões, vestidos de espartanos, empurravam o cavalo pelas ruas. A criatividade do bloco chamou atenção da cidade, ganhou repercussão na mídia e se tornou um destaque do carnaval bragantino, unindo sátira, cultura popular e muita brincadeira.

Raízes na Juventude, Entre Amizades e Fantasias - A história do Cavalo de Troia começou como uma brincadeira entre amigos do bairro da Aldeia. Em 2015, o grupo criou a fantasia Carro dos Flintstones para desfilar no tradicional bloco Urubu Cheiroso. No ano seguinte, surgiu o Camburão do Bofe de Elite. 

Em 2017, com criatividade e madeira, o grupo construiu por conta própria a primeira estrutura do Cavalo de Troia. A ideia chamou atenção, e mais de 50 pessoas se juntaram ao cortejo. Gilberto e Diego organizaram então uma diretoria e fundaram oficialmente a Turma Cavalo de Troia. Naquele ano, produziram 70 fantasias e venderam 1.050 abadás, consolidando uma forte presença comunitária.

As Conquistas - Em 2018, o bloco passou a desfilar de maneira independente. Nos carnavais de 2017, 2018 e 2019, recebeu reconhecimento, venceu premiações e cresceu em importância. No último carnaval antes da pandemia, arrastou entre oito e dez mil pessoas pelas ruas de Bragança.

O Hiato e a Nova Era - Com a pandemia de 2020, o bloco pausou suas atividades. Agora, com nova diretoria composta por sete pessoas, retorna com organização reforçada e objetivos ousados, entre eles colocar ao menos 2.000 abadás na avenida.

O Significado Cultural - Bragança possui um dos carnavais de rua mais criativos do Brasil, e o retorno do Cavalo de Troia fortalece ainda mais essa tradição. A juventude, a arte comunitária, a inventividade popular e o espírito de paz fazem deste bloco um dos símbolos mais vibrantes da cultura bragantina.

Olhar de Carpinteiro de Poesia - Como bragantino e cronista de minha cidade, percebo no retorno do Cavalo de Troia um gesto de resistência cultural. A madeira transformada em estrutura, a amizade convertida em organização e a poesia que nasce da rua reafirmam que o carnaval de Bragança é mais do que festa: é identidade.

Nota de Encontro com a Nova Diretoria - No final de semana de 21 e 22 de novembro, encontrei por acaso — e também não por acaso — a nova diretoria do Cavalo de Troia na casa do Japon, artista e artesão de forte presença na cultura popular comunitária. Japon é um dos engenheiros do Cavalo de Troia e tem contribuído para que a nova estrutura do bloco esteja mais consistente, com um design ainda mais impactante. A previsão é de que o bloco retorne às ruas a partir do terceiro domingo de janeiro de 2026, no bairro da Aldeia, em Bragança do Pará, prometendo um carnaval emocionante. Não por acaso, o Japon é o artista do troféu do FICCA- Festival Internacional de Cinema do Caeté.

O que vem pela frente - Se tudo seguir como planejado, veremos novamente o Cavalo de Troia ocupando as ruas do bairro da Aldeia, reunindo milhares de foliões e celebrando a força cultural do povo bragantino.


Francisco Weyl, Carpinteiro de Poesia

23.11.2025





#ParaTodosVerem:

A foto mostra um grupo de oito pessoas posando juntas ao ar livre, em um ambiente sombreado por árvores. À esquerda, um homem de barba branca sorri para a câmera em primeiro plano. Ao fundo, distribuídas lado a lado, estão sete pessoas adultas e um jovem, todas sorrindo. Elas vestem roupas casuais e coloridas, incluindo camisetas, regatas, um chapéu de palha e óculos escuros. O grupo parece estar em um espaço de convivência, com chão de terra batida e vegetação densa ao redor, criando um clima de encontro descontraído e alegre.




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