Quando se fala de África, logo se pensa em tragédias, guerras, ou em estereótipos étnicos e culturais.
Isso porque o mundo branco jamais superou a barreira do preconceito, seja Institucional ou social.
O mundo branco mantém-se na mesma fronteira da dominação, da exploração, e muito eventualmente constitui relações de trocas desinteressadas com as nações africanas.
Toda vez que eu penso em África, eu repenso a minha própria ancestralidade.
Amazônida, sou filho de índios e de negros, misturado com branco.
E todas estas culturas se compõem no Ser que eu sou, que não nega as suas raízes.
A África é Diáspora.
Uma Diáspora em si própria.
E para além de suas fronteiras.
Com seus filhos deserdados.
E desterrados.
Em busca de sonhos que os querem realizados na sagrada Terra de onde partiram e na qual nasceram.
E para onde sonham retornar.
A África é a ancestralidade do mundo, entretanto seus conhecimentos, usurpados, lhes são negados.
E uma névoa se sobrepõe à realidade, até que os mitos as dissipassem.
Sem estes mitos, os ritos, do universo, perdem os sentidos.
E as artes os revelam em suas imagens.
Mas as imagens são como cortinas que encobrem janelas através das quais as casas se ocultam e as cidades se constroem.
Quando fui ministrar aulas no Instituto Politécnico de Bragança, em Mirandela, levei comigo a ideia deste filme.
Despertou-me a grande quantidade de estudantes de origem africana nestes Conselhos, ao norte de Portugal.
Então, propus este desafio.
Fazer um documentário que tratasse desta questão migratória, e de suas contradições.
A Escola Superior de Administração, Comunicação e Turismo do Instituto Politécnico de Bragança não é exatamente um centro de produção de vídeo.
Mesmo assim, lancei-me a esta proposta, com o apoio do reduzido grupo de alunos da cadeira de Documentário.
Se os resultados nem sempre são que pretendemos à partida, para os artistas, o processo é um rio pela via do qual a mensagem ética e estética faz o seu próprio percurso.
Ora à deriva, ora a obedecer uma rota que mais está para a lua e o sol do que para os mapas que lhes são traçados, a mensagem, ela deságua no mar.
E, entre o porto e o além-mar, a utopia é um lugar que criamos para viver em liberdade.
Estas filmagens não foram todas as que deveríamos fazer, e logo o semestre acabou, mas, a ideia, esta não repousou.
E tal qual uma tempestade, ele emerge, com a intenção de dialogar, a partir da linguagem do cinema, e pelas vozes dos próprios africanos.
O Objetivo deste filme não é falar de Mirandela,
nem de África, mas de uma questão específica,
qual seja a presença de jovens africanos numa determinada Instituição de Ensino Superior Portuguesa.
Quando fazemos um documentário, nós também nos indagamos sobre a função do cinema na sociedade.
E sobre a nossa própria razão de o realizar.
A despeito dos diversos processos que atravessamos desde a ideia, a produção, pesquisas, entrevistas, até a finalização, que é no que se constitui a própria magia de fazer cinema.
Ou seja, a montagem.
É quando indagamos as imagens, e delas, obtemos novas perguntas.
É quando resignificamos a mensagem e a transformamos em sentido.
E a criatividade desabrocha, em flor.
Mas também, em espinho.
Assim entendido, o filme é um jardim que sobrevive às intempéries da natureza.
Soturno no Outono, Taciturno no inverno,
radiante na primavera, e magnífico no verão.
O cinema é Luz.
E sombra.
Ainda que sonoro, sempre será a arte do silêncio.
Ainda que autoral, sempre será coletivo.
E mesmo que tente traduzir
Jamais será realidade,
Que esta pertence aos seres humanos que se tornam protagonistas de sua própria História.
África é História.
África é Luta.
África é Dança.
África é Arte.
África é Poesia”.
Mirandela, Maio, 2019
Francisco Weyl, Poeta e Realizador
O DOC "Africanos em Mirandela", estreia às 10h do dia 31 de Maio, na abertura da Semana de África, organizada pela AEAB-Mirandela.
Realizado no âmbito da cadeira DOCUMENTÁRIO, ministrada por Francisco Weyl, no Instituto Politécnico de Bragança, em Mirandela, o filme conta com a presença dos alunos na equipe técnica, e imagens históricas.
Em meio a textos, entrevistas, com jovens estudantes, e cenas de guerras e danças étnicas, o Documentário tem uma poética na qual o realizador se (auto)indaga sobre sua própria ancestralidade, além de (re-)pensar a África, na sua contemporaneidade.
DOC “Africanos em Mirandela”
(Digital / COR / Portugal, 33 Minutos / Realizador: Francisco Weyl)
Ficha Técnica do filme AFRICANOS EM MIRANDELA
TEXTO, NARRAÇÃO
MONTAGEM & REALIZAÇÃO
Francisco Weyl
ASSISTENTES DE REALIZAÇÃO
Daniel Alves Resende
Francisco Jose Silva Mendes
DIRETOR DE FOTOGRAFIA
Daniel Alves Resende
PRODUÇÃO
Daniel Alves Resende
Francisco Jose Silva Mendes
Francisco Weyl
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO
Jeffry Stephan Lima da Luz
Joao Diogo Pereira Costa
Maria Joana Martins Videira
ENTREVISTAS
Daniel Alves Resende
Francisco Jose Silva Mendes
Francisco Weyl
Jeffry Stephan Lima da Luz
ENTREVISTADOS
Luís Pires - IPB-Mirandela
Wanderley Antunes
(Associação de Estudantes
Africanos em Mirandela)
ESTUDANTES ENTREVISTADOS
(por ordem Alfabética):
Célio Fernandes
(São Tomé e Príncipe)
Erick Vieira
(Cabo Verde)
José Carlos
(Cabo Verde)
Henny Rodrigues
(Cabo Verde)
Márcio Moreira
(São Tomé e Príncipe)
Wanderley Antunes
(São Tomé e Príncipe)
PESQUISA E PÓS-PRODUÇÃO
Francisco Weyl
IMAGENS DE DRONE
HMV - Harley Moto Vlog
IMAGENS
ARQUIVO - Associação dos Estudantes
Africanos em Mirandela
Imagens de Filmes
AMILCAR CABRAL O PAI DA NAÇÃO
GUINEENSE E DA REPÚBLICA
DAS ILHAS DE CABO VERDE
Realização: Alfredo Gomes
Imagens:
Arquivo - RTP
Flora Gomes
Sana na N'hada
Josefina Crato
Jose Bolama Cobumba
Instituto Nacional do Cinema e Audiovisual
A GUERRA
Arquivo - RTP
A LUTA POR ANGOLA
VISTA DO LADO DA UNITA
Realização: José Manuel Barata-Feyo
Arquivo - RTP
CABINDA - INDEPENDÊNCIA OU MORTE
Realização: José Manuel Silva
Arquivo - RTP
ANGOLAN CIVIL WAR
Realização: Bill Richarsdson e David Harel
GUERRA COLONIAL
Realização: Luís Marinho e Joana Pontes
Arquivo – SIC
MOÇAMBIQUE - GUERRA DO ULTRAMAR
Realização: Quirino Simões
Imagens:
Ministério da Defesa Nacional
Exército Português
Centro de Produção de Apoio à Instrução
REPORTAGEM SOBRE JOSÉ EDUARDO
DOS SANTOS E JONAS SAVIMBI
Arquivo – SIC
DANÇAS ÉTNICAS
(Imagens de Canais YOTUBE):
Ballet Arumbaya Ndendeli
byGigio
Carla Fernanda
Catherine Montess
Paulo Kretly
Swingister
Tshenolo Mashinini
AGRADECIMENTOS
Associação dos Estudantes Africanos - Mirandela
HMV - Harley Moto Vlog
Instituto Politécnico de Bragança - Mirandela
© Filme realizado no âmbido da cadeira
DOCUMENTÁRIO
ministrada por Francisco Weyl
no Instituto Politécnico de Bragança,
em Mirandela, 2019
Isso porque o mundo branco jamais superou a barreira do preconceito, seja Institucional ou social.
O mundo branco mantém-se na mesma fronteira da dominação, da exploração, e muito eventualmente constitui relações de trocas desinteressadas com as nações africanas.
Toda vez que eu penso em África, eu repenso a minha própria ancestralidade.
Amazônida, sou filho de índios e de negros, misturado com branco.
E todas estas culturas se compõem no Ser que eu sou, que não nega as suas raízes.
A África é Diáspora.
Uma Diáspora em si própria.
E para além de suas fronteiras.
Com seus filhos deserdados.
E desterrados.
Em busca de sonhos que os querem realizados na sagrada Terra de onde partiram e na qual nasceram.
E para onde sonham retornar.
A África é a ancestralidade do mundo, entretanto seus conhecimentos, usurpados, lhes são negados.
E uma névoa se sobrepõe à realidade, até que os mitos as dissipassem.
Sem estes mitos, os ritos, do universo, perdem os sentidos.
E as artes os revelam em suas imagens.
Mas as imagens são como cortinas que encobrem janelas através das quais as casas se ocultam e as cidades se constroem.
Quando fui ministrar aulas no Instituto Politécnico de Bragança, em Mirandela, levei comigo a ideia deste filme.
Despertou-me a grande quantidade de estudantes de origem africana nestes Conselhos, ao norte de Portugal.
Então, propus este desafio.
Fazer um documentário que tratasse desta questão migratória, e de suas contradições.
A Escola Superior de Administração, Comunicação e Turismo do Instituto Politécnico de Bragança não é exatamente um centro de produção de vídeo.
Mesmo assim, lancei-me a esta proposta, com o apoio do reduzido grupo de alunos da cadeira de Documentário.
Se os resultados nem sempre são que pretendemos à partida, para os artistas, o processo é um rio pela via do qual a mensagem ética e estética faz o seu próprio percurso.
Ora à deriva, ora a obedecer uma rota que mais está para a lua e o sol do que para os mapas que lhes são traçados, a mensagem, ela deságua no mar.
E, entre o porto e o além-mar, a utopia é um lugar que criamos para viver em liberdade.
Estas filmagens não foram todas as que deveríamos fazer, e logo o semestre acabou, mas, a ideia, esta não repousou.
E tal qual uma tempestade, ele emerge, com a intenção de dialogar, a partir da linguagem do cinema, e pelas vozes dos próprios africanos.
O Objetivo deste filme não é falar de Mirandela,
nem de África, mas de uma questão específica,
qual seja a presença de jovens africanos numa determinada Instituição de Ensino Superior Portuguesa.
Quando fazemos um documentário, nós também nos indagamos sobre a função do cinema na sociedade.
E sobre a nossa própria razão de o realizar.
A despeito dos diversos processos que atravessamos desde a ideia, a produção, pesquisas, entrevistas, até a finalização, que é no que se constitui a própria magia de fazer cinema.
Ou seja, a montagem.
É quando indagamos as imagens, e delas, obtemos novas perguntas.
É quando resignificamos a mensagem e a transformamos em sentido.
E a criatividade desabrocha, em flor.
Mas também, em espinho.
Assim entendido, o filme é um jardim que sobrevive às intempéries da natureza.
Soturno no Outono, Taciturno no inverno,
radiante na primavera, e magnífico no verão.
O cinema é Luz.
E sombra.
Ainda que sonoro, sempre será a arte do silêncio.
Ainda que autoral, sempre será coletivo.
E mesmo que tente traduzir
Jamais será realidade,
Que esta pertence aos seres humanos que se tornam protagonistas de sua própria História.
África é História.
África é Luta.
África é Dança.
África é Arte.
África é Poesia”.
Mirandela, Maio, 2019
Francisco Weyl, Poeta e Realizador
O DOC "Africanos em Mirandela", estreia às 10h do dia 31 de Maio, na abertura da Semana de África, organizada pela AEAB-Mirandela.
Realizado no âmbito da cadeira DOCUMENTÁRIO, ministrada por Francisco Weyl, no Instituto Politécnico de Bragança, em Mirandela, o filme conta com a presença dos alunos na equipe técnica, e imagens históricas.
Em meio a textos, entrevistas, com jovens estudantes, e cenas de guerras e danças étnicas, o Documentário tem uma poética na qual o realizador se (auto)indaga sobre sua própria ancestralidade, além de (re-)pensar a África, na sua contemporaneidade.
DOC “Africanos em Mirandela”
(Digital / COR / Portugal, 33 Minutos / Realizador: Francisco Weyl)
Ficha Técnica do filme AFRICANOS EM MIRANDELA
TEXTO, NARRAÇÃO
MONTAGEM & REALIZAÇÃO
Francisco Weyl
ASSISTENTES DE REALIZAÇÃO
Daniel Alves Resende
Francisco Jose Silva Mendes
DIRETOR DE FOTOGRAFIA
Daniel Alves Resende
PRODUÇÃO
Daniel Alves Resende
Francisco Jose Silva Mendes
Francisco Weyl
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO
Jeffry Stephan Lima da Luz
Joao Diogo Pereira Costa
Maria Joana Martins Videira
ENTREVISTAS
Daniel Alves Resende
Francisco Jose Silva Mendes
Francisco Weyl
Jeffry Stephan Lima da Luz
ENTREVISTADOS
Luís Pires - IPB-Mirandela
Wanderley Antunes
(Associação de Estudantes
Africanos em Mirandela)
ESTUDANTES ENTREVISTADOS
(por ordem Alfabética):
Célio Fernandes
(São Tomé e Príncipe)
Erick Vieira
(Cabo Verde)
José Carlos
(Cabo Verde)
Henny Rodrigues
(Cabo Verde)
Márcio Moreira
(São Tomé e Príncipe)
Wanderley Antunes
(São Tomé e Príncipe)
PESQUISA E PÓS-PRODUÇÃO
Francisco Weyl
IMAGENS DE DRONE
HMV - Harley Moto Vlog
IMAGENS
ARQUIVO - Associação dos Estudantes
Africanos em Mirandela
Imagens de Filmes
AMILCAR CABRAL O PAI DA NAÇÃO
GUINEENSE E DA REPÚBLICA
DAS ILHAS DE CABO VERDE
Realização: Alfredo Gomes
Imagens:
Arquivo - RTP
Flora Gomes
Sana na N'hada
Josefina Crato
Jose Bolama Cobumba
Instituto Nacional do Cinema e Audiovisual
A GUERRA
Arquivo - RTP
A LUTA POR ANGOLA
VISTA DO LADO DA UNITA
Realização: José Manuel Barata-Feyo
Arquivo - RTP
CABINDA - INDEPENDÊNCIA OU MORTE
Realização: José Manuel Silva
Arquivo - RTP
ANGOLAN CIVIL WAR
Realização: Bill Richarsdson e David Harel
GUERRA COLONIAL
Realização: Luís Marinho e Joana Pontes
Arquivo – SIC
MOÇAMBIQUE - GUERRA DO ULTRAMAR
Realização: Quirino Simões
Imagens:
Ministério da Defesa Nacional
Exército Português
Centro de Produção de Apoio à Instrução
REPORTAGEM SOBRE JOSÉ EDUARDO
DOS SANTOS E JONAS SAVIMBI
Arquivo – SIC
DANÇAS ÉTNICAS
(Imagens de Canais YOTUBE):
Ballet Arumbaya Ndendeli
byGigio
Carla Fernanda
Catherine Montess
Paulo Kretly
Swingister
Tshenolo Mashinini
AGRADECIMENTOS
Associação dos Estudantes Africanos - Mirandela
HMV - Harley Moto Vlog
Instituto Politécnico de Bragança - Mirandela
© Filme realizado no âmbido da cadeira
DOCUMENTÁRIO
ministrada por Francisco Weyl
no Instituto Politécnico de Bragança,
em Mirandela, 2019
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