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#FEITIÇO (in progress): fazer-pensar magia no cinêma Amazônida


         
         Pensar/fazer cinema é fazer/pensar memórias/nomadismos por entre (des)lugares, territórios/fronteiras para os quais são necessárias inúmeras viagens, cujos percursos/trajetos - para além das experiências - traduzem imagens/i-marginários, que nos impregnam e em cujas brumas desaparecemos. Pensar/fazer cinema memorial na Amazônia é, portanto, fazer/pensar cinematografias invisíveis, revisitar experiências de realizadores-ativistas e coletivos audiovisuais cujas histórias/memórias são narradas por vozes que (se) desejam falar e (se) fazer ouvir. É navegar, assim, por rios nunca navegados, até ilhas quase desaparecidas, perdidas em lembranças-pulsantes, à revelia de teorias/estratégias globais que usurpam/apagam tradições, pelo que o protagonista da História se desloca para (a partir do lado de) fora, colocar-se dentro de seu próprio lado, para se fazer comunicar, sob o seu próprio paradigma e de seus companheiros de curso.
              É sobre essa experiência in_formal, e coletiva (cinematográfica) de como desejamos produzir-atuar-ser-sentir-pensar-fazer-refletir-propor um processo/meio/fim na e com a Amazônia, que trabalhamos com #FEITIÇO. Um processo que se localiza na esfera da imagem/i-marginário amazônico que, sendo imagéticas suas pesquisas e práticas (em arte) como artevismo, nos revela fazedores de filmes a partir de nossa ‘casa-porto’, somos envolvidos sub(ob)jetiva-mente por elos afetuosos, teias invisíveis, colaborações invencíveis nas interações/relações enquanto experiência[5]e vivências que nos tocam/atravessam/transformam (BONDIA, 2002). Realizar cinema, enquanto linguagem & sistema de signos, remete/requer análises além da tela, na perspectiva de fazer-pensar-refazer-repensar a experiência refletindo as etapas da obra. E nesse junto (nos) interrogamos nela (e com ela), num permanente ser/é/será, ou nada disso. Mas, o que há em comum entre sujeitos e lugares de memória? Quais critérios a adotar no decorrer das filmagens/imagens que remetem às memórias individuais e coletivas dos sujeitos-atuantes-protagonistas (HALBWACHS, 2006) e às produções culturais amazônicas em artes como representações destas matrizes?    
              #FEITIÇO compreende camadas, de ‘feitura’, do filme, em vários atos, (e se) propõe fazer cinema com lentes do processo da experiência-em-ação, onde atuantes-artistas-parceiros-religiosos (Denis Bezerra, Francisco Weyl, Rubens Santa Brígida[6]), revisitam (suas) memórias, em Bragança, Capanema, Irituia, Ponta de Pedras, no Estado do Pará, onde a obra é filmada sob a direção de Rosilene Cordeiro e Mateus Moura[7]. Trabalho caudaloso que emerge nas performances guardadas no corpo que lembra, recordações presentes dos diferentes sujeitos-participantes em cada vivência nos territórios/fronteiras onde suas ações ocorrem. A Pajelança Cabocla, o Catolicismo Popular e a Umbanda (MAUÉS, 2011), religiosidades representadas por seus elementos de uso, em contato com cenários/ações dos lugares de origem das lembranças acionadas pelas representações imagéticas, relacionam memória-corpo-cultura-performance-cinema, provocando o inter-diálogo que pretendemos travar. O que temos nestas imagens-resíduos deste ensaio (coletivo) vai do cênico ao fílmico, são elementos que re-apresentem aspectos espirituais de homens a-tingidos pela magia da arte, são entendidos como curandeiros urbanos, em suas feituras, existêncial e iniciática, abordando seus cotidianos/vivências de encantarias presentes na cultura da vida na amazônia.
              É um vigoroso trabalho da memória (BOSI 1994; 2003), de trajetórias, pessoais, e coletivas, capturadas, em vídeos, resíduos textuais, obtidos desde a oralidade às práticas culturais dos sujeitos em relação com as comunidades locais, nas quais, como resultados-meios, encontram-se já as performances cotidianas, que restauram comportamentos culturais (SCHECHNER 2003; LIGIÈRO 2011) sendo a memória a generosa anfitriã.

ARTIGO:
#FEITIÇO[1] (IN PROGRESS): FAZER-PENSAR MAGIA NO CINEMA AMAZÔNIDA
AUTORES: Rosilene Cordeiro[2] ; Francisco Weyl[3]José Denis de Oliveira Bezerra[4]
PUBLICADO EM: https://periodicos.ufpa.br/index.php/nra/article/view/6989








REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência[Trad.] João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação (jan/fev/mar/abr. Nº 19. 2002)
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Tao. 1994
MAUÉS, Raymundo Heraldo; VILLACORTA, Gisela Macambira. Pajelança e Encantaria Amazônica. In: PRANDI, Reginaldo (Org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Traduzido por Beatriz Sidou do original francês La Memóire Collective. São Paulo: Centauro, 2006.
SCHECHNER, Richard. O que é performance? Tradução Dandara. Rio de Janeiro, Revista de teatro: O Percevejo, UNIRIO, Ano 11, número 12, pp. 25-50. 2003.



[1] A hastag  ou jogo da velha que antecede a palavra #FEITIÇO (também propositalmente grafada em maiúsculas) é um recurso estilístico, que tem como função chamar a atenção do leitor, considerando-se que as hastags agrupam conteúdos temáticos e facilitam pesquisas na Rede Mundial de Computadores acerca dos conteúdos por elas destacados. Por analogia ao sentido do artigo, que também refere a uma ação coletiva, pretende-se ainda destacar – por metáfora poética - a re/união de pessoas a volta da magia que é a arte cinematográfica.
[2]  Mestra em Comunicação, Linguagens e Cultura (Universidade da Amazônia - 2018), Especialista em Artes Cênicas, Estudos Contemporâneos do Corpo (UFPA - 2012), Pedagoga (UFPA), atriz (Escola de Teatro e Dança - UFPA). Per-form@triz realizadora de cena na Amazônia paraense  (EMAIL: enelisorcordeiro@yahoo.com.br )
[3] Doutorando em Artes Plásticas (Faculdade de Belas Artes / Universidade do Porto); Mestre em Artes, e Especialista em Semiótica (UFPA); Bacharel em Cinema (Escola Superior Artística do Porto); docente do Instituto Politécnico de Bragança (Portugal), poeta, realizador, cineclubista, jornalista,  radialista, ensaísta, artivista digital, e Doutor Honoris Causa - Academia de Letras do Brasil (EMAIL: carpinteirodepoesia@gmail.com )
[4] Doutor em História (Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia - Universidade Federal do Pará - UFPA), Mestre em Letras: Linguística e Teoria Literária (UFPa), Licenciado  em Letras-Língua Portuguesa (Universidade do Estado do Pará), professor (Programa de Pós-graduação em Artes / Escola de Teatro e Dança - UFPA), ator, diretor teatral, performer (EMAIL: denisletras@yahoo.com.br )
[5] Experiência não como algo alheio a nós, o que se encontra neste ‘fora’  mas àquilo que, ocorrendo conosco nos altera, uma vez que não está relacionado ao que passa, mas o que nos passa, não é o que acontece, mas ao que nos acontece, não o que toca, mas o que nos toca (Cf. BONDÍA. Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. 2002, p.20)
[6] Mestrando em Formação de Professores (Fundação Universitária Iberoamericana – FUNIBER), Licenciado em Música,), diretor musical, ator, produtor cultural, professor de Artes.
[7] Mestre em Artes (Programa de Pós Graduação em Artes - Universidade Federal do Pará), cineasta, produtor de arte, ator, músico, escritor.

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