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Mostrando postagens de maio, 2025

Panacarica: dois Anos sem Rô, mas a eternidade ainda Navega

A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi.   Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva.   Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...

CAETÉ DE JOSÉ: CASA DO POETA CÉLEBRA COM SARAU 70 ANOS DO APÓSTOLO DA POESIA

  Há quem celebre os anos com festa. Caeté de José celebra com sarau — e isso diz muito mais sobre ele do que qualquer cronologia. O tempo, para Caeté, não se mede apenas  pelos  anos, mas em versos espalhados como sementes, em escutas abertas à dor do outro, em pontes lançadas entre a terra e céu. O poeta que nasceu Raimundo José Weyl Albuquerque Costa, mas se fez múltiplo em nomes e vozes — Caeté de José, Disseus, Madalena de Caeté , Raio de Luz   — completa agora 70 anos de uma existência consagrada à arte, à espiritualidade , ao amor, à família  e ao povo. Ele é, antes de tudo, um educador de almas, um construtor de passagens simbólicas, missionário da poesia, missionário de uma escola cósmica . E celebra esse marco como vive: abrindo as portas de sua casa, que é também casa de todos que sentem, pensam e resistem. É uma Casa que é tanto um Ponto de Cultura quanto de Cura. Na Marambaia, Belém do Pará, a Casa do Poeta Caeté se ergue como um ponto de cultura, m...

A Farsa da retirada da Cargill e o Teatro da COP-30 - Por Francisco Weyl [Arte Usina Caeté]

A notícia que circula na imprensa, sugerindo que a Cargill “recuou” da construção de seu terminal portuário em Abaetetuba, soa como uma encenação mal roteirizada — e extremamente perigosa. Tal “recuo” não parte da empresa; parte da pena de um jornalista que, amparado apenas em suposições, tenta manipular a opinião pública e pressionar o poder público. A verdade é que a Cargill não desistiu. Ela segue onclusive com processos jurídicos em curso. A empresa não retirou a ação judicial  que lhe permitiria rasgar, legal e simbolicamente, o território do PAE Santo Afonso na Ilha do Xingu, em pleno coração da Amazônia paraense. Trata-se de mais uma jogada estratégica que visa sensibilizar a sociedade a favor de uma gigante transnacional sob o véu do “progresso”. Mas progresso para quem? A quem interessa a narrativa de que a Cargill está “indo embora” do Pará? No exato momento em que Belém se prepara para sediar a COP30, evento internacional crucial para o futuro ambiental do planeta, a emp...

Em Belém, IOEPA e ALB Bragança lançam obra que homenageia a voz poética de Bragança

Belém, 20 de maio de 2025 – Em reunião de caráter informal realizada na sede da Imprensa Oficial do Estado do Pará (IOEPA), foi entregue à comunidade paraense a obra Uma Viagem Poética, resultado da segunda edição do Concurso Literário Mandicueira, promovido pela Academia de Letras do Brasil – Seccional Bragança do Pará. O momento marcou não apenas a publicação da coletânea, mas também a reafirmação da força literária bragantina e o papel transformador da literatura como expressão viva dos territórios amazônicos. O encontro contou com a presença de Jorge Panzera (presidente da IOEPA) e Moisés Alves (diretor da Editora Dalcídio Jurandir), além dos acadêmicos da ALB Francisco Weyl (Cadeira 35, Patrono Cônego Raymundo Ulisses de Albuquerque Pennafort) e Roberta Mártires (Cadeira 49, Patrono Eimar Tavares), que representaram a entidade em diálogo ativo e reflexivo sobre os rumos da literatura no Pará. Durante a conversa, os presentes discutiram as perspectivas das academias de letras como ...

Mandicueira: A voz do chão Bragantino em corpo de Livro

A Editora Dalcídio Jurandir, da Imprensa Oficial do Estado do Pará, entrega hoje a coletânea Uma Viagem Poética , reunindo as obras vencedoras da segunda edição do Concurso Literário Mandicueira, promovido pela Academia de Letras do Brasil – Seccional Bragança do Pará. A cerimônia, de caráter informal, acontece na tarde desta terça-feira, 20 de maio de 2025, na sede da IOEPA, com a presença dos anfitriões Jorge Panzera (presidente da IOEPA) e Moisés Alves (diretor da Editora Dalcídio Jurandir), além de acadêmicos da ALB de Bragança. A produção literária autoral bragantina vem sendo reconhecida pela seccional municipal da ALB por meio de iniciativas que despertam o gosto pela escrita, pela leitura, pela poesia e pela literatura. Entre os projetos em destaque estão o ALB vai à Escola (em fase de implementação), a Escola de Poetas (em reavaliação), e o Concurso Anual Mandicueira, já em sua terceira edição. O Concurso Mandicueira tornou-se um marco para a ALB e para o desenvolviment...

NOTA DE DESAGRAVO - Em defesa da dignidade e da cultura da Marambaia

Nós, profissionais, artistas, entidades culturais, militantes e cidadãos comprometidos com a construção coletiva do Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas da Marambaia, vimos a público manifestar nosso profundo repúdio à atitude desrespeitosa e agressiva do ex-senador Paulo Rocha (PT) durante o ato "Tributo a Joel", evento político-cultural realizado em memória de Joel, figura fundamental para a história e a resistência de nosso território. Em um momento de dor, de memória e de luto compartilhado por toda uma comunidade mobilizada por amor, arte e justiça, o ex-senador protagonizou uma cena lamentável: ao ser interpelado com civilidade por um dos organizadores do ato, reagiu de maneira exasperada, despropositada e violenta, chegando a gritar e a agarrar o interlocutor, num gesto absolutamente incompatível com a postura que se espera de alguém que já ocupou cargos públicos. A situação, contida com o apoio dos populares presentes, gerou tensão generalizada e constra...

A grama, o fundo e o feudo — Bragança entre avanços e recuos culturais - por Francisco Weyl

Dez anos após a aprovação da Lei Municipal de Cultura (nº 4.393/2015) — fruto de intensa mobilização de diversos agentes culturais e de uma ampla luta coletiva —, a Prefeitura de Bragança do Pará aprovou, já no apagar das luzes de 2024, a Lei nº 4.818/2024. Assinada pelo prefeito Dr. Mário Júnior em 18 de dezembro, ela dispõe sobre a implementação e regulamentação do Fundo Municipal de Cultura. Segundo a nova lei, as dotações orçamentárias autorizadas para a Secretaria Municipal de Cultura, para o exercício de 2025, especialmente aquelas vinculadas à função 13 - Cultura, passarão a compor a estrutura orçamentária do fundo especial, via remanejamento por decreto. Trata-se, sem dúvida, de um passo importante, embora tardio. No entanto, é preciso esclarecer que, ainda que a criação do fundo vinculado à PNAB (Política Nacional Aldir Blanc) possa parecer um avanço institucional, ela também representou, em muitos aspectos, um recuo estratégico. O que se anunciava como uma oportunidade histór...

Joel Vagalume é o brilho que não se apaga na Marambaia

No coração da Marambaia, plantou-se Joel Antônio dos Santos. Como árvore frondosa no meio do povo, deu sombra, abrigo, direção. E mesmo quando soube que teria apenas 20% de seu coração em funcionamento, seguiu como se tivesse dois corações inteiros: um batendo no peito e o outro espalhado entre os amigos, companheiros e vizinhos. Morreu como viveu: com dignidade. Joel partiu do jeito que desejava — ao lado de sua companheira de vida, Ana, na condição de cuidador, que é o que sempre foi para todos nós, na Marambaia. Um homem que se dedicou a acolher, organizar e proteger. Um coração grande demais para caber em um só corpo. Joel era obreiro e guerreiro. Missionário da política do chão, das ruas, das causas que não se vendem. Sua vida foi ação cotidiana. Honesto até a raiz, combativo como poucos, carregava o peso das injustiças com a leveza de quem sabia que o mundo só muda com mãos calejadas e esperança viva. Foi referência, mesmo quando não compreendido pelos próprios espaços que ajudou...