Bragança do Pará completa hoje 412 anos. Às margens do majestoso rio Caeté — artéria viva da Região Atlântico-Amazônica — celebramos a fundação de uma cidade, ao mesmo tempo, a permanência altiva de um povo, de suas águas, de seus manguezais e de suas histórias.
Ka’aeté, em Tupi, significa "mata verdadeira". É de mata densa e verdadeira que se ergue essa terra banhada pelo maior conjunto contínuo de manguezais do planeta — pulmões invisíveis que protegem a vida, a biodiversidade e o futuro de todos nós.
Da orla da cidade, onde o pôr da lua nas matas do Camutá cria encantarias de luz sobre as águas, partem e chegam embarcações que sustentam a economia local com peixe fresco e farinha artesanal. Mas muito além do mercado, é o modo de vida bragantino que pulsa no vai e vem das marés, no ofício das marisqueiras, nos saberes das comunidades ribeirinhas.
O rio Caeté nasce em Bonito e serpenteia as terras de Ourém, Santa Luzia, Bragança, até se entregar ao mar. Mas sua força, antes navegável, tem sido sufocada. A substituição das ferrovias por rodovias retirou o povo de suas margens. O leito virou depósito de lixo e resíduo, como viu o canoísta Pedro Paulo em sua travessia épica, em 2014. A partir de Mocajuba e Arimbú, o Caeté sofre: seus afluentes represados, suas águas poluídas, sua dignidade violada.
É em nome desse rio e de sua gente que nasceu o Festival Internacional de Cinema do Caeté – FICCA. Um festival itinerante, popular, insurgente, que percorre comunidades formando coletivos audiovisuais, registrando narrativas, ativando memórias e denunciando esquecimentos. O FICCA é um festival e um gesto de amor à floresta, ao mangue, ao cinema feito de dentro, com as mãos calejadas e os olhos atentos das comunidades originais e populações tradicionais.
Em tempos de COPs que não disfarçam mecanismos de exploração do Capital na Amazônia, Bragança reafirma, com seu povo e seus manguezais, a verdade de que não há futuro ecológico sem justiça territorial.
Parabéns, Bragança do Pará, por 412 anos de existência, resistência e esperança.
Francisco Weyl
X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté
Cinema como encantaria, território como tela, o povo como protagonista
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