O surgimento do FIM-ME — Festival Internacional de Filmes de Médias-Metragens não é fruto de um gesto isolado nem de uma estratégia de expansão de marca. Ele nasce de uma constatação concreta, compartilhada por realizadores, pesquisadores e curadores em diferentes territórios: a média-metragem, historicamente decisiva para o ensaio cinematográfico, para o amadurecimento de linguagem e para o cinema-pensamento, foi sendo empurrada para fora dos festivais, do debate crítico e das políticas de difusão.
Nem curta demais para o desenvolvimento de um gesto, nem longa o suficiente para se submeter às engrenagens industriais, a média-metragem tornou-se um território órfão. Paradoxalmente, isso ocorre justamente num tempo em que o cinema precisa de duração para escutar, experimentar e elaborar — sem a pressa do mercado nem o confinamento do exercício preliminar. O FIM-ME emerge como resposta a essa ausência: não como festival temático ou de nicho, mas como festival de forma, linguagem e gesto cinematográfico.
O projeto nasce das articulações construídas ao longo dos anos pelo FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, afirmando-se como seu projeto-filho, sem se confundir com ele. Trata-se de uma decisão política e institucional clara: preservar identidades, calendários e inscrições próprias, evitando conflitos de enquadramento e fortalecendo ambos os festivais. O FIM-ME dialoga com o FICCA por redes, itinerâncias e princípios — mas segue linha autônoma.
Desde a origem, o FIM-ME se constitui como uma parceria tricontinental entre o FICCA, a Livraria Gato Vadio, a Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa e a Fundação Servir Cinema de Cabo Verde. Esse eixo — Amazônia, Europa e África — não é apenas geográfico: ele traduz uma ética de colaboração internacional que tem sido a força estruturante do FICCA e agora se expande para um novo território curatorial.
A 1ª edição do FIM-ME será realizada inicialmente em formato integralmente virtual, compreendendo inscrição online, avaliação remota por júri internacional, divulgação pública dos resultados e exibição online das obras premiadas. O formato corresponde à fase inaugural do festival e poderá ser revisto em edições futuras, sem prejuízo dos princípios estabelecidos no regimento.
O cronograma está definido: o edital será lançado até 20 de janeiro; as inscrições seguem de 20 de janeiro a 30 de maio; o período de avaliação ocorre de 1º a 30 de junho; os resultados serão divulgados até 30 de junho; e a exibição online das obras premiadas acontece de 1º a 30 de julho. A partir daí, a dedicação institucional volta-se integralmente às atividades do FICCA.
Para fins de inscrição, o festival define com precisão o que entende por média-metragem: obras com duração mínima de 26 minutos e máxima de 50 minutos. Filmes fora desse intervalo são automaticamente inabilitados — uma definição objetiva que devolve à média-metragem seu estatuto próprio, sem diluições.
As inscrições são independentes do FICCA e realizadas exclusivamente por formulário online, já disponível em:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScvX74CZeXZT4K75kgFjpsW3y7FYwkSOyCrw9IZ1buZKyu26Q/viewform
O regulamento completo pode ser acessado no site:
https://carpinteirodepoesia.blogspot.com/2025/12/fimme-festival-internacional-de-filmes.html
A taxa de inscrição é de R$ 50,00, com política explícita de isenção ou redução, analisada caso a caso, mediante justificativa fundamentada e comprovação de vulnerabilidade socioeconômica — uma escolha que reafirma o compromisso ético do festival com realidades diversas de produção.
O júri internacional da 1ª edição é composto por Francisco Weyl e Rosilene Cordeiro (Brasil/Amazônia), Nuno Malheiro e Cláudia Sá (Portugal), Júlio Silvão e Misá (Cabo Verde). Um grupo enxuto, diverso e comprometido com a análise crítica, que atuará com autonomia e responsabilidade.
A premiação contempla Melhor Média-Metragem Documental, Melhor Média-Metragem de Ficção, Prêmio Especial do Júri, além dos prêmios de Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Montagem. Não há premiação em dinheiro nem troféus: os prêmios consistem em diplomas oficiais, reafirmando o caráter simbólico, crítico e curatorial do reconhecimento.
Os critérios de avaliação são públicos e objetivos, contemplando coerência ética, potência narrativa, elaboração estética, domínio da duração média, risco formal, consistência dramatúrgica e rigor de linguagem — critérios pensados especificamente para a complexidade do formato médio.
As obras premiadas serão automaticamente cadastradas para o XI FICCA, enquanto as demais interessadas deverão realizar inscrição regular no festival-mãe, conforme seu próprio regulamento. As obras vencedoras autorizam, no ato da inscrição, a exibição online por período mínimo de sete dias, sem fins comerciais.
O FIM-ME nasce, portanto, não como apêndice, mas como afirmação. Afirmação de um tempo cinematográfico específico. Afirmação de um gesto que recusa a pressa e a padronização. Afirmação de uma política de forma que entende o cinema como espaço de elaboração estética, ética e poética. Em tempos de aceleração, o FIM-ME reivindica o direito ao meio — esse lugar onde o cinema, muitas vezes, pensa melhor.
Carpinteiro de Poesia

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