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A oralidade eletrônica, segundo Domingo Hernandez Sánchez

Assisti a uma conferência que valeu por anos de estudos. Foi na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2019. 
O filósofo Domingo Hernandez Sánchez, da Universidade de Salamanca, falou sobre a Inatualidade do Contemporâneo, e discorreu sobre a Ironia como categoria artística, fazendo um percurso a partir da História, com ênfase no período medieval até aos memes virtuais, relacionando-a em algumas passagens da Filosofia de Schlegel e Hegel, do pensamento moderno de Eco, e de vários autores contemporâneos, que investigam e dialogam com arte e política. 
Estudioso e Editor de Ortega Y Gasset, diferenciou a ironia do humor, do cinismo, e do sarcasmo, evidenciando as diversas definições e usos desta categoria na Literatura. 
Mas, uma das coisas que mais me chamaram atenção nesta conferência que valeu por anos de estudo foi quando ele disse que estamos a viver o resgate da oralidade a partir do eletrônico. 
Isso me interessa demasiado, na medida em que estudo e pratico ações com comunidades periféricas e tradicionais, cuja forma de transmissão de saberes dá-se por esta via da oralidade, na relação do corpo com a mente no espaço da instalação do fenômeno educativo, que é dialético e essencialmente presencial, de forma a assegurar a própria razão de ser das ancestralidades, que se atravessam em falas a partir dos seus lugares de fala, que se tem expandido para os campos eletrônicos contemporâneos.

Carpinteiro
 
NOTA:

DOMINGO HERNÁNDEZ SÁNCHEZ é Professor Associado com Agregação em Estética e Teoria das Artes na Faculdade de Filosofia da Universidade de Salamanca.
Dirigiu o Mestrado em Estudios Avanzados en Filosofía do Programa de Doctorado en Filosofía.
É autor dos seguintes livros: Estética de la limitación (2000), La ironía estética.
Estética romántica y arte moderno (2002) y La comedia de lo sublime (2009, traduzida para português pela Vega em 2012).
Traduziu Filosofia da arte ou estética.
Verão de 1826, de G.F.W. Hegel (2006), tendo sido editor de Articulaciones.
Perspectivas actuales de arte y estética (2001), Estéticas del arte contemporáneo (2002) e Arte, cuerpo, tecnología (2003).
São suas as edições críticas de El tema de nuestro tiempo (2002), La rebelión de las masas (2003), Hegel. Notas de trabajo (2007) e En torno a Galileo (2012), de José Ortega y Gasset.


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