Pular para o conteúdo principal

Todo dia ele ia a feira da Marambaia

Olhando assim não dá nem pra imaginar, mas o zelador da União do Vegetal lá da praia de Salinas já foi um dos roqueiros mais doidos de Belém do Pará. Relembro de nós dois na Praça da República, foi pé do Teatro que ele urinou.
Naqueles anos oitenta, noventa, quando éramos todos camaradas, e comprávamos cachaça, depois de uma coleta, entre os grupos de pobres, meio punks, meios junkers.
A gente andava até as barcas atracadas no cais do Ver-o-Peso pra comprar a azulzinha que vinha lá das ilhas de Abaeté, cuja a cultura do Engenho por qualquer motivo definhou.
Buscapé vem lá da Marambaia, terra sagrada, bairro que é em si a própria resistência política e cultural dos movimentos sociais comunitários que mantém acesa a chama do Boi, do batuque, da capoeira, e da poesia.
Esse mulequinho, maluquinho cheirosinho, de escopeta na mão, não faz mal nem a um inseto, ao contrário, é um doce contador de causos que ele inventa e reinventa com um sabor de quem sabe que a vida é para se divertir.
Já fizemos muita viagem juntos, e bote viagem nisso, mas o tempo nos deixou caretas, porque nem ele nem eu mais fumamos e nem bebemos.
Buscapé parece um Peter Pan que nunca envelhece, mas nunca vi a Sininho junto com ele, entretanto, não lhe faltam Capitão Gancho para piratear as suas composições.
Autor do plágio mais descarado de todos os tempos, Buscapé Blues pegou o “Born on the Bayou”, do Creedence, e vendeu os direitos da sua popularíssima MARAMBAIA, junto com vários outros poemas e canções, para o esperto do André Cabeira.
Esta canção não pode faltar nos seus shows, nos quais reveza de músicos que compõem as suas bandas.
Recordo uma vez, em Macapá, onde ele seria acompanhado pelos The Hides, mas qualquer merda rolou, e o concerto não vingou, apesar dos ensaios com a banda, que afinal entrou para história por não ter tocado com o Buscapé, do qual aliás os meninos eram fãs.
Mesmo assim, o Buscapé recebeu o seu maior cachê de todos os tempos e até queria me dar um presente por eu ter mediado esta cena non sense.
Recusei, claro, faço tudo por ele porque o amo como amigo que é, desses que se hospedam e dormem juntos, mas não abraçados.
E agora, o Buscapé retorna à foz do Amazonas a convite do Aroldo Pedrosa para inaugurar a Calçada da Infâmia no Donna Antônia
Vai ser o lançamento da Sexta Underground, que promete um overdose de rock and roll com a presença da lenda viva papa-chibé Buscapé Blues
Além do Buscapé, outros grupos sobem ao palco, como Ozzy Rodrigues, Brenda Zenni e Dylan Rocha, naquele que será um happy hour acústico jamais visto na cidade de Macapá.
Além da sua obra original autoral sacânica, Buscapé Blues vai mandar os hits inesquecíveis de Raul Seixas, Jorge Mautner, Walter Franco, Júpiter Maçã e Ira, com a banda amapaense Tio Zé, na sua cozinha.
Como escreveu o poeta e produtor e querido amigo Aroldo Pedrosa, será uma noite de muitos decibéis que ficarão para sempre na cabeça da juventude.

SERVIÇO - Sexta Underground com Buscapé Blues - a lenda -, os meninos da Tio Zé e mais rock and roll com a trupe da pesada na Calçada da Infâmia. Mesas: R$ 80,00 / Ingressos: R$ 15,00. Reservas: (96) 98109-0563 / 99126-6869 / 99903-9994. ATRAÇÕES: Ozzy Rodrigues, Brenda Zenni e Dylan Rocha. E BUSCAPÉ BLUES / Banda TIO ZÉ.


© Carpinteiro de Poesia

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Entre aforismos e reflexões sobre a existência - análise crítica da obra de Jaime Pretório

A obra, mesmo não sendo uma extensão do artista ou propriedade do público que a ressignifica, é uma potência inerente e transcendente ao próprio artista, entretanto, um escritor, como, em geral, um artista, não se resume ao que ele escreve, ao que ele concebe. A obra de Jaime Pretório, em especial sua coletânea “1000 Aforismos recortes de uma vida” vai além das palavras e das ideias que ele usa para expressar sua ampla reflexão sobre a condição humana, nestes tempos em que já nem sabemos ao certo se sobre ou sub vivemos. Nesta obra, o autor discorre sobre questões cotidianas, convocando-nos a uma jornada de introspecção, a partir de aforismos sobre normas sociais, dogmas religiosos, convenções filosóficas, mensagens poéticas. L er o autor impõem-nos desafios, ainda que na sua estilística aforística ,  o sinta gma  frasal se encerre em si próprio ,   através de  uma mensagem fragmentária, no caso d e  Pretório, uma mensagem fragmentária sobre os diversos temas qu...

Um Encontro de Arte e Reflexão: X FICCA na Livraria Gato Vadio

A Livraria Gato Vadio será palco de um dos momentos mais inspiradores do X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, que celebra a arte de resistência da Amazônia. Entre histórias contadas pelas telas e diálogos que se desdobram em ideias e ações, o espaço se tornará uma confluência de arte, literatura e cinema. Uma das joias da programação do X FICCA será a Oficina de Cinema CADA REALIZADOR UM TERRORISTA E CADA FILME UM ATENTADO, que convida amantes da sétima arte, estudantes e curiosos a mergulharem no universo da criação cinematográfica, sob a perspectiva da arte de resistência social. O festival tem como referencial teórico as estéticas de guerrilhas, as poéticas da gambiarra e as tecnologias do possível, que são conceitos resultantes das práxis pesquisadas e aplicadas pelo criador, diretor e curador do FICCA, Francisco Weyl. Estes elementos para a construção de uma tríade conceitual do cinema de resistência social serão apresentados e dialogados com os participantes, send...