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Poeta rainbow lança livro que defende amor homoafetivo

Lembro exatamente o dia em que conheci o poeta Diego Wayne.
Foi num Sarau poético, em Bragança do Pará, há cinco anos.
Sentei ao seu lado, fiz uma fotografia, juntos, para recordação.
Olhar esta imagem, agora, é pensar no seu universo histórico.
Ela evoca um significado para a nossa alma de artista.
Ao conhecer este jovem, tomei contacto com a sua poesia.
E ao ouvi-lo recitar poemas autorais, imaginei-lhe diversas estradas.
Seu olhar, sua pele, sua lucidez, seus sonhos, tudo se atravessava em seus versos.
Cada linha, lida, com a dimensão de muitas vidas, sentidas.
Nas entrelinhas, o seu silêncio, e a sua timidez de ser que sabe ouvir, mais do que falar.
Não dissemos muita coisa naquela ocasião.
Mas a poesia nos uniu, aos nossos corpos e nossos espíritos.
Foi amor platônico, à primeira vista.
E uma poética paixão visceral.
Falávamos de coisas banais e filosofávamos quando nos encontrávamos.
Entre um e outro café, ou abraço, a ideia de publicar um livro brotava como a ponta de um iceberg, cujo Mar oculta o quase infinito sólido que é um pensamento líquido.
E cada vez que Diego W. lia seus poemas, mais ele se enchia de coragem de trazer à luz o concreto de sua obra.
Revelar sua mensagem de e por amor, em livro.
Sim, de amor, porque é em nome do Amor que Diego W. escreve.
E sua pena é tão leve, que, quando ele escreve, ou recita sobre o amor entre dois homens, ou entre duas mulheres, o leitor flutua, e se eleva – para além dos preconceitos.
O jovem Wayne é por isso mesmo um poeta de afeto, e de combate.
Como poeta, não diz, sugere.
E assim ele faz com que entremos em sua casa, em seu quarto, e deitemos em sua cama.
E então escutamos a sua doce voz de jovem-menino, que é como um canto, apaixonado.
Diego participou de uma Coletânea, editada pela Para.Grapho, junto com outros poetas bragantinos (2016).
Ao ver seu texto grafado, para além do objeto-livro, DW vislumbrou ainda novos horizontes.
Seus poemas são curtos, mas intensos.
E têm a simplicidade de pessoas comuns, que súbito se identificam com os seus versos.
Pessoas que amam um amor às vezes considerado proibido.
Um amor que sofre dos males, mas que não sente as dores do mundo.
Um amor sublime que supera o preconceito e afronta os desalmados.
Um amor pulsante, e colorido.
Amor divertido, traduzido em sorriso, que desconhece o perigo.
Diego W. fez da poesia a razão de ser deste Amor que ama sem fronteiras.
Com seus versos, ele rompe cercas, e ocupa territórios.
E com seus gestos e palavras, ele se engaja nas causas nobres de seu tempo-espaço, em simultâneo.
E foi assim que deu asas ao “Coração de Unicórnio”, seu primeiro livro-solo, editado pela Rico (2018).
Bem humorado, retirou os textos do armário, e os recolocou de volta, em tomo.
E os lança ao espaço das redes virtuais, pelas quais media o envio e a venda de seu livro-produto.
Assim como os unicórnios são animais míticos, o poeta é um místico que revela as vozes que falam ao inconsciente, e que são ouvidas, desde o Big-Bang, este som universal, e atemporal.
E, quando não traduz, o poeta dá sentido à sua própria metafísica.
Com o seu “Coração de Unicórnio”, Wayne adentrou vales e florestas do imaginário.
Atravessou a estranha névoa que encobria o Amor Homoafetivo.
E se banhou nas águas de um encantamento que apenas as paixões humanas podem sentir.
Professor e estudioso, DW transporta consigo esta magia que é a de escrever poesias.
E por ela, transmuta a existência, a sua própria, e a de seus leitores.
Ou daqueles que o ouvem recitar, um poema, ou narrar, uma experiência de vida.
Porque o Amor, como a Poesia, são feitos de um mesmo coração de Unicórnio.

Francisco Weyl, Carpinteiro de Poesia
 


Poemas do livro CORAÇÃO DE UNICÓRNIO, de Diego Wayne

COSTELAS
És meu Adão
sou teu Adão
porque assim decidimos.
Unimos nossas costelas
e que mal tem isso?!
Se tu me amas,
se eu te amo
se nós nos amamos,
o que importa?
Diante do que sentimos
quem ousará nos dizer o contrário?


HUMANOS DESUMANOS
Vivo entre injustos
convictos até suas raízes.
Há tempos
nessa guerra de cor e sangue,
o mundo é um curral dividindo os sexos
Humanos, desumanos.
Aos que me julgam, aponto o dedo do meio
em sinal que sou de esquerda.
Me alimento do que é real.
Enquanto tem gente que só há aparência
e por isso se emudece
Sem máscara sou o que sinto
graças ao que agora sei
posso gozar sem culpa.


RAINBOW
Meu coração
tem sete cores
e inúmeras formas de amar.
Alguns veem o mundo
 em duas cores:
azul e rosa,
eu vejo em 7.


HUMOR
Qualquer dia
sou
aquarela.


NATURAL
Assim é nosso destino comer e beber,
pular de uma infância a outra.
Aprender que não somos muita coisa
e que valemos bem menos do que pensamos.
Somos mortais sem exceção “belos” ou não
chão é o que nos espera.

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