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Mostrando postagens de 2025

Arte Fora do Curral: a resiliência como guerrilha simbólica em tempos de retrocesso

O cenário cultural brasileiro vive uma contradição profunda. Após décadas de luta por políticas públicas de cultura e pela institucionalização de editais de fomento, esperava-se um ambiente mais democrático e acessível. No entanto, o que se vê, na prática, é a reprodução de lógicas excludentes , onde os mesmos grupos historicamente privilegiados continuam sendo beneficiados , muitas vezes por meio de relações pessoais, alianças políticas locais e articulações de bastidores que transformam os editais em instrumentos de manutenção de poder — e não de redistribuição simbólica ou econômica. No Pará, essa realidade se intensifica. O estado vive um cenário de disputas constantes na política e na cultura, marcado p or circuitos institucionais  de grupos privilegiados , currais culturais  em municípios  e clientelismos disfarçados de meritocracia . Em vez de promover diversidade e descentralização, os editais frequentemente legitimam um sistema de favorecimentos que exclui projet...

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

COBRA GRANDE NO GATO VADIO

 Atravessando margens entre o ancestral e o experimental, os artistas Ana Tinoco e Francisco Weyl se encontram para costurar territórios e ressignificar caminhos. Entre o Douro e o Amazonas, sua arte desliza como a Cobra Grande, entidade dos rios e das memórias. No dia 21 de março de 2025, às 22h, a Livraria Gato Vadio (Porto) recebe a performance Sete Espadas e Duas Cabeças: A Travessia da Cobra Grande. O evento integra a leitura poética do mito amazônico em uma interferência poesófica dos artistas, entrelaçando a espiritualidade de Exu e Ogum com a força dos rios encantados. A programação começa às 21h com a estreia do filme Cada Realizador um Terrorista, Cada Filme um Atentado, produzido nas oficinas de Cinema de Guerrilha do X FICCA. Às 21h30, uma roda de conversa antecede a performance de Ana Tinoco e Francisco Weyl, com trilha sonora de Zé Macedo. [A cobra de duas cabeças desliza, entre Douro e Amazonas. A serpente que se arrasta pela Terra descama de pele sem perder a aura d...

Sete Espadas e Duas cabeças: a travessia da Cobra Grande

A cobra de duas cabeças desliza, entre Douro e Amazonas.   A serpente que se arrasta pela Terra descama de pele sem perder a aura do corpo. Ela se contorce no lugar que nos habita, à fúria de uma alma em transe. O brilho de Exu na lâmina das Sete Espadas de Ogum, o chamado de Yemanjá no voo da Arara-Encantadeira. A presença se dissipa com o vento, mas deixa rastros impressos nas lamas dos rios  de nossas memórias. Nestas travessias por territórios pantanosos, arte, espiritualidade e resistência se entrelaçam. Do filme Anaís  (1998) ao EXERCITO.Ogum  (2020), a obra de Ana Tinoco flui pela arte de Francisco Weyl, assim como a poesia do Carpinteiro se dissolve na pintura de Ana. Como dois rios que desaguam no oceano, correm em contracorrentes de culturas díspares. No cruzar destes caminhos e territórios, a leitura poética do mito da Cobra Grande se constitui como parte de uma pentalogia antecedida pelas Interferências Pesóficas  de Francisco Weyl : Sete Espadas par...

Resistência Climática e a arte como prática de sobrevivência do Cinema de Guerrilhas

Nestas "Vivências do Cinema de Guerrilhas - Resistência Climática" , iremos pensar   a  arte como prática de sobrevivência, onde o cinema se apresenta como uma ferramenta vital para a resistência contra a homogeneização das culturas e os impactos climáticos que ameaçam as identidades locais.   A proposta envolve a reflexão sobre o papel das estéticas de guerrilhas, das poéticas da gambiarra e das tecnologias do possível , n o contexto do projeto de Tese "KYNEMA ” , que desenvolvo no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará e no Instituto Politécnico de Lisboa . Provocamos uma articulação entre cinema  de resistência , espiritualidade e ativismo climático . E  reflexão crítica sobre atitudes insurgentes, com ênfase em questões interculturais e étnicas, abordando desafios climáticos contemporâneos através de uma linguagem poética e documental, com foco na realidade da Amazônia Paraense e suas relações com as práticas cinematográficas da Á...

Vivências do Cinema de Guerrilhas - Resistência Climática em Braga [FICCA 2025]

A  Associação Observalícia, sem fins lucrativos e dedicada à pesquisa e atuação em questões de alimentação, tecnologia e ecologia social, convida o público para a oficina Vivências do Cinema de Guerrilhas – Resistência Climática em Braga [FICCA 2025] , que ocorrerá no dia 3 de março de 2025, na sede da associação em Braga. Sob o mote "Cada Realizador um Guerrilheiro, c ada Filme uma e mboscada pela Justiça Climática" , a oficina visa engajar os participantes na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais, utilizando o cinema como uma ferramenta de transformação social. Em um contexto global marcado pela crise climática, o audiovisual, na sua essência de captação e transmissão, é uma resposta direta às ameaças ambientais que enfrentamos, quando apresentado como arma de intervenção. O Cinema de Guerrilha emerge como uma ferramenta pedagógica de resistência e transformação, podendo afetar profundamente o imaginário coletivo, especialme...

(In)certas Memórias de uma Benquerença que vive na pena de Corisco

Antonio Maria Fonseca Pereira foi a primeira criança a nascer no Hospital Santo Antônio Maria Zaccaria, há 73 anos, em Bragança do Pará. Leitor voráz, interessado em história, filosofia, ciências, biografias, romances e poesia, começou escrevendo o que chamou de Nano Contos: Pequeníssimas histórias ou "coisas". Este trabalho serviu de base para poesias, contos e crônicas autorais, algumas reunidas na obra “(In)certas memórias”, lançada em 2022, pelo selo Populivros (Guigar Editorial). Autodenominado “Corisco”, o narrador escreve sobre o território em que Antônio Maria nasceu e que ele chama de “Benquerença”, sendo este o lugar onde teriam ocorrido os causos contados e recontados na obra, em cujo texto assume a influência de poetas como Manuel de Barros, para quem 90% do que escreve é invenção e os restantes 10%, mentira. Antonio Maria Fonseca Pereira (“Corisco”) é um daqueles raros escritores cuja primeira obra transcende as palavras impressas e se projeta nas ruas, nas praça...

Contribuição à História do Cineclube e do Cineclubismo no Pará

Há 21 anos, o projeto do Cineclube Amazonas Douro tem atravessado oceanos e percorrido algumas cidades pelo mundo, estabelecendo a comunhão artística entre poetas e realizadores amazônidas, africanos e lusitanos, através de encontros em que se fazem projeções de filmes, exposições de fotografias, leituras de poemas e conferências artísticas e filosóficas, além de projetos editoriais, como revistas e livros, entre outros, articulados aos mesmos propósitos. O Cineclube Amazonas Douro reúne dois rios, o Douro e o Amazonas, que desaguam em um único oceano: o Atlântico. Oceano que divide e une estes rios de culturas díspares, rios em que o som de suas correntes sintetizam as diversas línguas que unem amazônidas, africanos e lusitanos. Rios dialéticos que interferem na filosofia e transformam a vida destes povos, distantes mas vizinhos por meio de uma estética que compreende a arte como um acto de coragem: nadar contra a corrente. O Cineclube Amazonas Douro é uma praxis definida através de ...