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Mostrando postagens de setembro, 2025

Pedagogia do Caminho: cinema comunitário e a boneca ancestral

A estrada de Belém a Bragança se prolongava como se quisesse prolongar o tempo. Cada quilômetro se desenrolava entre matas densas e rios que se entrelaçavam como veias da terra, levando o olhar a vagar por águas barrentas e verdes que refletiam o céu em fragmentos de azul quebrado. O vento trazia odores de peixe fresco, folhas molhadas e maré, e nos ouvidos, um coro invisível de aves, sapos e insetos. Nega Benedita, sentada ao centro do carro, parecia escutar e absorver tudo, transformando cada movimento da natureza em presença viva, cada som em memória ancestral. Não era apenas viagem, era prática poética, antropológica e pedagógica: cada instante reverberava com o estudo de campo que costumo registrar em minhas pesquisas sobre cinema comunitário na Amazônia, onde o território, a cultura e a memória se tornam atores do próprio filme da vida. Mas antes da estrada, da poeira, do vento e do carro que transportava algo mais que madeira e pano, é preciso voltar à origem de Benedita, ao ins...

Cordel do Blues da Marambaia Ou A tragédia do Buscapé Blues - Por Carpinteiro de Poesia

PÁRODO Eu sou Francisco Weyl, Carpinteiro de Poesia Filho de Exu, marqueteiro dos Orixás É pela encruzilhada que conecto As forças da natureza sagrada Sou nômade, itinerante, estrangeiro Faço da palavra meu cavalo Do silêncio, meu tambor Do erro, meu acerto Trago o riso debochado dos profetas A ginga das ruas A sabedoria dos Erês E a ironia que corta como navalha Não escrevo para os palácios Nem para as academias de sombras Escrevo para a Marambaia Para o beco, a praça, o gueto Onde a poesia ainda sangra Mas não se ajoelha Eu sou aquele que planta metáforas Como quem semeia milho No quintal dos Orixás O que colhe sonhos No terreiro dos esquecidos E digo que a poesia é feitiço É macumba de palavra É tambor que chama os vivos E desassossega os mortos E no meio desse batuque, encontro Buscapé Blues: menino-sol da Marambaia, profeta de esquina, rindo do mundo, astro-rei que dança sem coroa. Ele mistura brega e funk, samba, reggae, soul e blues, faz da guitarra um cajado, da calçada um alta...