Acorda o tambor na beira do rio, em dia de sol, em noite de frio. Vai juntando gente no sol ardente, não pede licença a dança é diferente. Bandeira sem mastro, sem corda nem fio, é canto da roça, é rumo do cio. De raiz de madeira, de água e de vento, o tambor resiste corpo em movimento. No canto do arado, no barro forjado, nas vozes antigas de rotas banidas, das diversas etnias, dos becos que narro. Um canto de fogo, outro de pássaro, um jogo arriscado no campo queimado. E quando a roda chega na cidade, ela se veste de verdades. No palanque cerimonioso, com medalhas e diplomas, a cultura é portentosa, mas as mestras, as donas, ficam de fora. Carimbó é livre, não tem decreto, não mora em cartório, nem serve a projeto. É fora da lei, escapa do selo, é riso, protesto, é corpo desvelo. E se a política tenta se apossar, o batuque responde: ninguém vai calar. O curimbó pulsa, faz sua denúncia, na palma da mão, no batuque da praça....
Estéticas de guerrilhas, poéticas da gambiarra e tecnologias do possível na Amazônia Paraense