Acorda o tambor
na beira do rio,
em dia de sol,
em noite de frio.
Vai juntando gente
no sol ardente,
não pede licença
a dança é diferente.
Bandeira sem mastro,
sem corda nem fio,
é canto da roça,
é rumo do cio.
De raiz de madeira,
de água e de vento,
o tambor resiste
corpo em movimento.
No canto do arado,
no barro forjado,
nas vozes antigas
de rotas banidas,
das diversas etnias,
dos becos que narro.
Um canto de fogo,
outro de pássaro,
um jogo arriscado
no campo queimado.
E quando a roda chega
na cidade,
ela se veste de verdades.
No palanque
cerimonioso,
com medalhas e diplomas,
a cultura é portentosa,
mas as mestras, as donas,
ficam de fora.
Carimbó é livre,
não tem decreto,
não mora em cartório,
nem serve a projeto.
É fora da lei,
escapa do selo,
é riso, protesto,
é corpo desvelo.
E se a política tenta
se apossar,
o batuque responde: ninguém vai calar.
O curimbó pulsa,
faz sua denúncia,
na palma da mão,
no batuque da praça.
CARPINTEIRO DE POESIA
02.10.2025
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