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Minha critica de cinema censurada pelo Facebook

Minha despretensiosa crítica ao filme “En El Ultimo Trago”, de Jack Zagha Kababie, ao qual assisti na Quinta da Caverneira (Maia, Portugal) foi censurada pelo Facebook.
A película é uma espécie de road movie na terra natal do mexicano Alfredo Jimenez, e tem guião de David Desola, que estava na sessão para dialogar sobre o filme após a sua exibição no espaço do Teatro Art’Imagem, que promoveu a cena, no dia 22 de Dezembro.
De acordo a repressora rede social, a postagem desrespeita os padrões da comunidade, razão pela qual a republico com a intenção mesmo de provocar o interesse de leitura por alguma alma rebelde e não-alienada.
A CRÍTICA
O mexicano José Alfredo Jiménez Sandoval criou temas que tocaram os corações da América Latina.
Nascido em Dolores Hidalgo, Guanajuato (19/01/1926 -  Cidade do México) e falecido a 23/11/1973, compôs sensíveis huapangos, corridos, rancheiras.
Entre as quais, “En El Ultimo Trago”, que dá nome a um filme produzido em 2014, sob a direção de Jack Zagha Kababie.
É um tema tão popular que tem versões nas vozes de Júlio Iglésias e de Chiavela Vargas.
Escrita por David Desola, a película é uma espécie de road movie na terra natal de Alfredo Jimenez.
E tem no elenco atores veteranos conhecidos do México, alguns falecidos após as filmagens.
Inclusive, uma atriz que trabalhou com Buñuel, Columba Dominguez, morreu após o filme.
Além dela, Hernán Mendoza, Luisa Huertas, e Pilar Pellicer completam a constelação do elenco secundário deste filme que relata a aventura de três idosos, Emiliano (José Carlos Ruiz), Benito (Eduardo Manzano) y Agustín (Luis Bayardo).
Eles se destinam a cumprir o último pedido de um amigo, Pedro (Pedro Weber 'Chatanuga'), qual seja, levar um guardanapo autografado pelo cantor Jose Alfredo Jimenez Sandoval, desde a Cidade do México até Dolores Hidalgo.
Com o mote, este tragicômico road movie põe em cena diversas situações que são vividas pelos personagens ao longo dos encontros e desencontros em que vivem conflitos pessoais, psicológicas, econômicas e familiares, apesar de suas limitações de idade.
Prêmio do Público no Festival de Guadalajara de 2014, o filme surge a partir do momento em que seus produtores passam a deter direitos sobre algumas canções de Jimenez, razão pela qual o guionista David Desola recorreu a alguns elementos que compõem o universo de suas canções para ambientar o filme.
No debate do qual participei com o próprio Desola no Castelo da Caverneira, espaço do Teatro Art’Imagem, que promoveu a exibição, mediada pelo estudioso e cineclubista José Bastos, Desola afirmou que o filme poderia ser mais “fantástico”.
Desola se refere ao misticismo característico do México, que ele tenta levar à tela,  com a presença de “fantasmas” de mortos que dialogam com vivos, e mesmo com a rápida introdução de uma Bruxa, que prevê um acidente de automóvel envolvendo os personagens que conduzem a trama.
Inevitavelmente, o filme faz lembrar David Linchy (História Simples), apesar da autocrítica do guionista David Desola, que procurou mexicanizar e popularizar os diálogos, dentro do universo das letras de Alfredo Jimenez, mas, mesmo assim, limitado apenas ao temas das  canções cujos direitos são detidos pelos produtores.
A saída criativa, segundo o guionista, foi tentar introduzir outros elementos referenciais de forma simbólica, como, por exemplo, um místico cavalo branco, que aparece repetidas vezes em cena, bem como repetir alguns versos conhecidos do cantor Alfredo Jimenez pelas vozes dos personagens do filme, entre os quais “o importante não é chegar primeiro, mas saber chegar”.
Destaque-se ainda o personagem “El Catalan”, que faz um link do México com Espanha, e é uma espécie de alterego do guionista Desola, que é natural de Barcelona, e casado com uma mexicana (Catalan se destaca porque estáno acidente automobilístico previsto pela Bruxa de estrada, e cujo realismo mágico poderia ser melhor explorado).
É um filme bem feito para os seus padrões culturais e objetivos de entretenimento da grande indústria, ou seja, agradar ao público durante 90 minutos, com pitadas de magia e humor, sensibilidade e tensão.
Tem fotografia razoável, boa produção, sendo bem realizado e escrito, mas falta-lhe a força trágica da arte cinematográfica, uma força primitiva, antropológica, sem dúvida, dispersa no tema da memória e do Amor-amigo, que são abordados pelo filme.
Este não é dos meus filmes preferidos, em razão de minhas preferências estéticas se dirigirem às obras cujas sequências sejam mais lentas, e de planos mais abertos, mais densos, e menos cômicos, e que na sua perspectiva filosófica, remetam o público à sua condição humana essencial e não o tentam libertar desta dor da qual ele foge mas que não pode escapar.
© Carpinteiro de Poesia

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