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Mostrando postagens de maio, 2020

Pará Zero Zero estreia 31 de Maio de 2020 no Youtube

Este filme que estreia hoje no Youtube (31/05/2020, 14h30 - Brasil / 18h30 - Portugal) foi realizado em Março/Abril de 2003, durante o Concílio Artístico Luso-Brasileiro, tendo reunido em Belém o José Mojica Marins (Zé do Caixão) e o Mestre de Cinema da Escola do Porto (Sério Fernandes), que eu organizei e produzi em Belém do Pará, Brasil.  A cena artística do Concílio aconteceu em vários espaços como o CCBEU, o (antigo) Centur, o (finado) IAP, e a Praça da República, onde realizamos uma sessão histórica de filmes Super-8 milímetros no que um dia foi o Bar do Parque, e ainda um deslocamento até Colares para uma sessão de Daime. Durante o Concílio, realizamos uma oficina de cinema, tendo como resultado este filme cujo nome batizou a revista PARA ZERO ZERO, que eu criei e editei, com o apoio, na altura, do Rilke Penafort Pinheiro , Simona Di Maggio e Célia Gomes (ainda que esta informação seja omitida do Expediente da publicação).  O filme PARÁ ZERO ZERO teve sua estreia no próprio Conci

Um único verso, simples, como um sopro, passageiro, passarinho

Um único verso, simples, como um sopro, passageiro, passarinho   Por muitas vezes quero falar de uma coisa e me sai outra, e estes pensamentos que me escapam, na verdade, apesar de se parecerem inteligíveis, não os compreendo, por não saber expressá-los, apesar de senti-los. Isso não me traz nenhum estado de angústia, entretanto, mesmo sem sofrer, eu sinto que seriam preciosas estas revelações que se ocultam de alguma forma dentro de minha alma como uma matéria bruta do meu pensamento e de minha poesia. Por não traduzir estes pensamentos e estes sentimentos, esforço-me por decodificá-los, criando signos que os representem, e pela via dos quais, eu possa enfim dizer o que eu quero dizer, mas, não o consigo. Por vezes, como agora, sou tomado por este impulso de escrever sobre este acontecimento, que em verdade é um processo dentro do qual eu afundo e que toma de fato muito tempo de meu pensamento, e de minhas indagações. Este momento-processo que se estende além de meu sentimento, e além

A última vez que vi a minha Mãe

A última vez que vi a minha mãe Olhei-a nos olhos e a senti na alma Já não podia dizer-lhe mais nada Havia entre nós dois qualquer coisa de silêncio O mesmo silêncio que separa-nos dos anos Que nos conduzem à morte A última vez que vi a minha mãe Foi como se não a visse Porque ela já não era mais ela E eu já era mais eu Éramos dois corpos A ocupar o mesmo lugar naquele espaço Naquela casa em que moramos por longos anos Naquele bairro da periferia de Belém do Pará A Marambaia periferia do Brasil Periferia do mundo Periférico de nós dois, eu e minha mãe A última vez que vi a minha mãe Disse-lhe pela última vez Que eu iria viajar mais uma vez Ela pousou as mãos sobre a minha cabeça Ofereceu-se-me Através de si as benções de Deus E ficamos em silêncio Eu de olhos fechados sobre o seu colo Ela com os olhos fixos nas paredes Os mesmos olhos da avó cega Que lhe ensinou a ler e a escrever Olhos de Tirésias Míticos e proféticos Como o é esta história qu

Verso bandido

Era uma vez um verso bandido Que se escondia na cólera dos deuses E que não era verso Dos deuses que não eram deuses É que os pássaros que passam por aqui Também se repartem em passos por lá Perdidos n’alma da crise Do pulsar do broto viver Viver como um verso Que poderia ter sido O ter de vir a ser O seu zen Sem pelo menos morrer Talvez Era uma vez um verso E outra vez bandido E a polícia perseguia a ambos Com suas pseudo-inquietudes De leis reis rainhas Das ruas salas e becos Prostitutos prostitutos Era assim um verso e outra vez bandido Pedaços de coisas que se chuta E se respira no quotidiano aflito De anjos e demónios O que não era O que não poderia ter sido Como o olhar O andar do paladar O beijar a mão do homem O andor da santa moral Neopoética Profética Peripatética Era uma vez um por do sol azul E outro quase verde Lilás Poesias á meia luz Ao meio tom da cor de verão Muito pequeno burguês Nada bandido Isaías Vamos chamar assi

Nós, os Poetas

Nós, os poetas, olhamos para as palavras como se nelas não se pudesse conter a essência das coisas, depois, limitamos a vida ao significado do verbo que não pronunciamos, no segredo desvelado, rebelamos a alma que não se orienta na pedra filosofal do entendimento, nós os poetas olhamos para o poema como se ele não existisse e por isso tornamo-lo absoluto, o que há de sublime no sentido é o que não percebemos, nós, os poetas não falamos com Deus porque já nascemos no eterno, o que de nossa ãnima permanece é o símbolo do corpo, um caráter, um som, uma aliteração e mais qualquer coisa que não comunicamos com a poesia, nós, os poetas, sentimos o desconhecido como se já o compreendêssemos, pois temos a alma sem um conceito, somos vagas nebulosas, rastos estrelares, poeiras cósmicas, em nosso poetar. © Carpinteiro Porto, 1998

Trova Beneditina

Oh! Meu Santo Benedito! Protegei teu povo aflito Do desvio dos políticos. Oh! Meu Santo Bendito! Iluminai teus filhos sofridos Para que eles vejam A injustiça dos bandidos. Oh! Meu Santo Protetor! Dai força à resistência Deste povo trabalhador Que te louva com tanto amor. Este povo pescador, E este povo roceiro, Que ara a terra o ano inteiro. E te segue com fervor. Oh! Meu Santo Preto! Clareai a cegueira dos brancos Para que nunca mais Humilhem os negros-santos. Oh! Meu Santo Cozinheiro! Dai terra a quem não tem Nenhum vintém. A quem não tem mais esperanças Além das suas próprias andanças Neste mundo de errâncias. Oh! Meu Santo da Cura! Fazei-me candura Desde a semeadura Para que a colheita Seja farta de doçura. Oh! Meu Santo Amado! Fazei-me um navegador Sem medo dos naufrágios. Fazei-me aves Por sobre todos os mares. Oh! Meu Santo-Menino! Fazei-me um peregrino Das estradas e caminhos. Oh! Meu Santo Bené! Dizei-me se Maria e José Abençoam a minha Fé! Oh! Meu Santo Sagrado!

Sophia de Mello Breyner Andresen

Poema "Porque" declamado pelo Carpinteiro de Poesia

Poetas comunistas

Fonteles, Barata, e Tourinho, poetas comunistas paraenses recitados pelo Carpinteiro de Poesia.

Versos íntimos

Augusto dos Anjos recitado pelo Carpinteiro de Poesia

Poema para Satã

Marco da Lama recitado pelo Carpinteiro de Poesia (Poema para Satã)

A Caratateua de Raul Bopp

A poesia negra de Raul Bopp na interpretação do Carpinteiro de Poesia

O beija-flor

Há pessoas que mal olho e logo quero beijá-las.  E outras que eu desejo mas nem as vejo. Há pessoas cegas, e eu, Tirésias.  Pessoas para as quais eu nem dirijo o meu olhar,  e delas sinto o sentimento que lhes move escapar. Conheço pessoas que andam para todos os lugares  mas que são parasitas, na verdade.  E andarilhos,  que nunca foram a lugar nenhum.  Há nômadas demasiados nesta Babilônia.  Gentes que se deslocam nas sombras  de seus universos paralelos.  Mas há passantes que são como o Sol, com a sua Luz radiante, a arrastar os planetas.  E transeuntes a cair nos buracos obscuros.  Estrelas, que de manhã acendem  e não se apagam, no crepúsculo.  Corpos que se afetam com efêmeras estéticas.  Espíritos lunares, tempestuosos mares,  e naus, à deriva.  Há poetas errantes e solitários amantes. E silêncios, que ecoam em cavernas primevas.  Figuras rupestres, pixos.  Bichos domésticos, seres humanos enjaulados.  Selvagens contidos, psicopatas, disfarçados.  Conheço monges rockeiros e estr

Quase um soneto numa manhã de chuva

Pouco tenho, se muito desejo Mas costumo seguir, se quero ficar Do contrário, eu não vou, se penso ir E tudo permanece neste perene devir.   Se penso demais, falo de menos Mas, se me calo, penso demasiado Meu silêncio diz mais que palavras E meus olhos, os estados da alma   Eu quero odiar, entretanto, amo Quanto mais desejo, menos almejo Sinto muito, mas nem tanto Portanto não faço nada, mas encanto   Escrevo versos que os apago E recito poemas que esqueço Nas areias de teu mar eu me afago Nas lavas de teu vulcão desfaleço © Carpinteiro Porto, 04/11/2018

Poema para você, de Marco da Lama

Carpinteiro de Poesia recita o clássico POEMA PARA VOCÊ, de Marco da Lama.

Não digas nada

não digas nada, gosto imenso quando falas eu sinto a voz de teu silêncio, se te calas e a sucessão de sentimentos que disparas neste rio que me navega em tuas palavras e que me afoga lentamente em tuas águas como conter a travessia em segredo se há tempestades em meus desejos? © Carpinteiro

Há noites em que de tanto sono eu nem durmo

Há noites em que de tanto sono eu nem durmo Há dias em que de tanta fome eu não como Há poemas nem sei quê de tantos versos Há amigos que de tão dentro atravesso Há corações que de tanto aperto eu guardo Há palavras que de tão sagradas esqueço Há coisas que de tão humanas eu mato Há pensamentos que de tão complexos  eu enterro Há livros que de tão amigos eu guardo Há flores que de tantas abelhas eu beijo Há frutos que de tão maduros eu os semeio Há males que de tão poéticos eu bebo Há sede que de tão intensas transcendo Há ruas que de tão infinitas escalo Há montanhas que de tão grandes eu caio Há versos que de tão simples levito Há mares que de tão revoltos me acalmo Há sonhos que de tão medonhos desperto Há tempos que de tão fecundos mergulho Há cenas que de tão transparentes opacas Há pedras que de tão frágeis atiro Há balas que de tão dóceis suspiro Há bocas que de tão acesas eu mordo Há beijos que de tão loucos eu curo © Carpinteiro de Poesia