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Mostrando postagens de setembro, 2020

Há pessoas que mal olho e logo quero beijá-las

Há pessoas que mal olho e logo quero beijá-las.  E outras que eu desejo mas nem as vejo. Há pessoas cegas, e eu, Tirésias.  Pessoas para as quais eu nem dirijo o meu olhar,  e delas sinto o sentimento que lhes move escapar. Conheço pessoas que andam para todos os lugares  mas que são parasitas, na verdade.  E andarilhos,  que nunca foram a lugar nenhum.  Há nômadas demasiados nesta Babilônia.  Gentes que se deslocam nas sombras  de seus universos paralelos.  Mas há passantes que são como o Sol, com a sua Luz radiante, a arrastar os planetas.  E transeuntes a cair nos buracos obscuros.  Estrelas, que de manhã acendem  e não se apagam, no crepúsculo.  Corpos que se afetam com efêmeras estéticas.  Espíritos lunares, tempestuosos mares,  e naus, à deriva.  Há poetas errantes e solitários amantes. E silêncios, que ecoam em cavernas primevas.  Figuras rupestres, pixos.  Bichos domésticos, seres humanos enjaulados.  Selvagens contidos, psicopatas, disfarçados.  Conheço monges rockeiros e estr

CRÔNICAS BRAGANTINAS: A Escola de Poetas Dom Miguel Maria Giambelli

  Quem trafegou pela Rodovia José Maria Machado Cardoso (PA-458), que liga o núcleo urbano de Bragança até Ajuruteua, para se banhar nas praias do Campo do Meio, Vila dos Pescadores, Pilão e  Buiuçucanga, sabe porque, apesar de ser o segundo mais pobre do país (G100), o Município possui uma riqueza poética pela própria natureza. Com a sua arquitetura de casarios que ainda guardam traços da Belle Epoque, período em desfrutava da localização privilegiada de entreposto comercial entre Pará-Maranhão, no ciclo áureo da borracha, Bragança hoje ainda atrai visitantes, por causa de sua biodiversiade, e de sua tímida economia, baseada no pescado, que exporta, e na farinha mais deliciosa do planeta.   A despeito das mazelas econômicas e sociais, que geram um povo omisso e dependente dos agentes políticos, o povo bragantino hoje é híbrido, formado por muitos visitantes que ocupam a área urbana, enquanto que a maior parte da população reside na zona rural, em colônias, campos e praias. E é

Há noites em que de tanto sono eu nem durmo

não digas nada, gosto imenso quando falas eu sinto a voz de teu silêncio, se te calas e a sucessão de sentimentos que disparas neste rio que me navega em tuas palavras  e que me afoga lentamente em tuas águas como conter a travessia em segredo se há tempestades em meus desejos? © Carpinteiro Assista e/ou ouça a declamação do poema pelo autor ................................................................... “Quase um Soneto numa manhã de chuva” Pouco tenho, se muito desejo Mas costumo seguir, se quero ficar Do contrário, eu não vou, se penso ir E tudo permanece neste perene devir. Se penso demais, falo de menos Mas, se me calo, penso demasiado Meu silêncio diz mais que palavras E meus olhos, os estados da alma Eu quero odiar, entretanto, amo Quanto mais desejo, menos almejo Sinto muito, mas nem tanto Portanto não faço nada, mas encanto Escrevo versos que os apago E recito poemas que esqueço Nas areias de teu mar eu me afago Nas lavas de teu vulcão desfaleço © Carpinteiro Porto, 04/11/

CRÔNICAS BRAGANTINAS: Bacuri me deu a mim e a minha paixão muitas alegrias

Todo paraense tem uma história para contar do clássico de futebol mais disputado do mundo, mas esta não é uma crônica sobre confrontos entre rivais no esporte, nem sobre as duas maiores paixões dos paraenses, depois do açaí. Esta é uma narrativa sobre o economista Roberto Batista de Paula Filho, que adotou e foi adotado por Bragança do Pará, há cerca de 45 anos, mas cujo apelido refere uma das delícias do Pará, e um dos frutos que outrora era bastante produzido na Região Bragantina. O apelido “Bacuri” foi ideia do treinador João Avelino, para quem o nome de um jogador tinha de ser de fácil assimilação, para o torcedor gravar, como Didi, Pelé, Dida. Marido da pedagoga Conceição de Maria Schwartz Martins de Paula, e pai do Roberto e da Roberta, ele, que já tinha um apelido (“bacurau”), nem sabia o que era nem nunca tinha visto ou comido bacuri na vida. Recordo, quando ia ao campo da Curuzu com meu falecido irmão Péte (José Raimundo), para ver aquele poderoso Paissandu, comandad

Nada que você leve do rio irá trazê-lo de volta

Você pode indagar o rio  E com ele murmurar. Você pode falar com o rio E com ele calar. Você pode até beber o rio E com ele mergulhar. Mas, o que quer que se diga do rio, Dele não se pode dizer duas coisas: Que ele não seja efêmero, E que também não seja eterno. Que continue assim, sendo. Atravessado. De tudo o que você deixe de dizer do rio Não esqueça de dizer que ele transborda. Mas, nada do que você diga sobre o rio Irá transpô-lo, Ou torná-lo navegável. Nada do que você pense do rio Irá inundá-lo, ou assoreá-lo. Nada que você leve do rio Irá trazê-lo de volta. Não seque o rio, Deixe-o seguir seu destino. Não barre o rio que ele é menino E avoa que nem passarinho. © Carpinteiro  (“O rio doce morre no mar”) Assista o videopoema de Francisco Weyl (Carpinteiro de Poesia), narrado, filmado e editado pelo próprio autor, no Rio Caeté, em Bragança do Pará, com trilha sonora de guitarrada d André Macleuri   ......................... O rio sangra a montanha: corta o tempo do não vir a ser o

CRÔNICAS BRAGANTINAS: E o barco Novo Rumo foi por águas abaixo

  Palavra de origem Tupy, Caeté é o rio que banha a minha aldeia, tendo, junto com a sua orla e as suas embarcações, constituído uma espécie de tríade, que estrutura a vida, e os imaginários das populações, nas zonas rurais, urbanas e ribeirinhas, em campos, colônias, e praias, por onde também circulam as comitivas dos esmoleiros de São Benedito.  Junto com o nascer da Lua, por detrás das matas do Camutá, seu espelho revela um espetáculo mágico aos moradores e visitantes da cidade de Bragança do Pará, de cuja orla, partem e chegam dezenas de embarcações, principalmente, com pescado, que é um produto que move a economia e alimenta grande parte da população local. Antes de desaguar no oceano Atlântico, o rio, com 115 quilômetros de extensão, atravessa e influencia o trabalho e a vida de diversas comunidades do nordeste paraense, nascendo na cidade de Bonito, banha Arraial do Caeté (Ourém), e Tentugal (Santa Luzia), e percorre algumas comunidades bragantinas. Apesar de receber as

Versos bandidos para a Décima TERÇA TRÍADE

Nós, os poetas, olhamos para as palavras como se nelas não se pudesse conter a essência das coisas, depois, limitamos a vida ao significado do verbo que não pronunciamos, no segredo desvelado, rebelamos a alma que não se orienta na pedra filosofal do entendimento, nós os poetas olhamos para o poema como se ele não existisse e por isso tornamo-lo absoluto, o que há de sublime no sentido é o que não percebemos, nós, os poetas não falamos com Deus porque já  nascemos no eterno, o que de nossa ãnima permanece é o símbolo do corpo, um caráter, um som, uma aliteração e mais qualquer coisa que não comunicamos com a poesia, nós, os poetas, sentimos o desconhecido como se já o compreendêssemos, pois temos a alma sem um conceito, somos vagas nebulosas, rastos estrelares, poeiras cósmicas, em nosso poetar. © Carpinteiro Porto, 1998 Assista e/ou ouça a declamação do poema pelo autor ....................................................................................................................