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Nada de novo sob o sol

Passam propagandas do Poder

Tem gente nas praças

E nas favelas e baixadas

A fome

Denúncia o desespero da mortalidade

                                                            infantil

Há um gosto de revolta nas ruas!

Nada de novo sob

o sol

Filas e doenças

Rompem a epiderme

E os vermes

Posam para fotos em coluna social

Do jornal

Onde a página policial

Enche o prato dos insanos mentais

Corações e sangue

Explodem

Na memória do povo!

Nada de novo sob

o sol

Não há vida

Na próxima esquina

A repressão soou campainha

Contra as manifestações dispersas

Que pedem abaixo eles

Os burgueses!

Nada de novo sob

o sol

E o que há a perder

Neste chão sem dono?

Onde milhões anseiam

Pelo cortar da foice?

(E o toque de um martelo

Não pode cravar um prego)

Nada de novo sob

o sol

Tudo passa

Pelas mãos massacradas

Parafuso por parafuso

Talões de ponto

Apitos

Que se confundem

Com partidas de futebol

Nada de novo sob

o sol

Cobra-se o alvoroço dos votos

Almoça-se a cólera

Dos oprimidos

Nada de novo sob

o sol

Merda não é boa sorte

E a morte acorda

O primeiro transeunte

Se estás sem rumo e sem fumo

Buscando no deus

A ilusão do álcool

Em que afogas a tua existência

Onde vais senão a ti próprio

E portanto a lugar nenhum?

Nada de novo sob

o sol

Nada temas

Nada temos

Não sabemos o que Sócrates sabe

Que nada sabe

E nem preciso dizer

Que o prazer da tarde

É o amanhecer

Tal qual a lua

É a tua vida

Nada de novo sob

o sol

Putas esmolam

Seus corpos aos mendigos

Mais mendigos do que os homens

Jogados nas valas do país

Onde a Polícia pede documentos

Para acreditarmos que existimos

Nada de novo sob

o sol

Nu no carnaval

Com suas velhas fardas

Sem fadas madrinhas

Mas com padrinhos

E cabides sem roupas

Nada de novo sob

o sol

O Império está deserto

De ouro amarelo

E verde Nação

Revolução Azul

Branca sem paz

Vermelha de bactérias

Usinas e epidemias de meninas

Banidas pelo machismo

Latino-Americano

 

Nada de novo sob

o sol

América!

Ame a rica latrina

De operários enfabricados

Onde terra não existe

Para quem precisa

Nada de novo sob

o sol

Modas e discos voadores

Invadem o espaço

Transcendental

De gentis madames

Porcas

Com suas esquizofrenias

Pseudomoralistas

Mais antigas que a sífilis

Dos Europeus

Que nada descobriram

Quando navegarem

Mares antes navegados

Nada de novo sob

o sol


© Carpinteiro 

Rio de Janeiro, 11/06/1987

POEMA "Nada de novo sol o sol", dedicado à Paulo César Fonteles de Lima, assassinado pelo crime organizado, que reúne latifundiários, famílias oligárquicas, e empresários burgueses, que controlam o Estado, a Política e a Mídia no Estado do Pará)

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