Pular para o conteúdo principal

SAUDADE DE GAZA



Jamais esquecerei as vezes que íamos à Missa, Dona Josefa e eu, e a gente pela quarta Rua, descendo, em direção à Paróquia de São Jorge,, ao lado da feira da Marambaia, com os galhos de plantas que levávamos, e até recolhendo outros que pegávamos, juntando-nos a outras pessoas, algumas anônimas, nem sabíamos quem eram, outras, conhecidas da Dona Zinha, que seguia ora ao meu lado ora à frente, sempre altiva, isso, desde quando tinha eu uns treze, quatorze anos, repetindo-se esta andança até a minha maturidade,  quando já nem morava mais na casa dos pais, mas combinava de chegar de manhãzinha e até amanhecido, só pra ir à Paróquia de São Jorge, onde  Mamãe entoava cantos e louvores tão lindos que eu me emocionava e chorava. Talvez seja por isso que, algumas vezes choro, quando vou à Missa, eu que hoje professo minha afroreligiosidade híbrida, quase indígena a partir de uma intuição ancestral e espiritual pessoal, cujo caminho de retorno ainda percorro.

Mamãe não se cansava de narrar a entrada de Cristo em Jerusalém e como as pessoas o saudaram, mas hoje ao pensar em Gaza minha dor é ainda  maior que esta saudade que sinto da mãezinha.

Aqui entre meus próprios Ramos, pensando, quero desejar a todos, um abençoado e Feliz Dia de Ramos, em nome da Josefa Weyl, Seu Zenito e este caçula narrador autodenominado Carpinteiro de Poesia.


TEXTO @o_carpinteiro

FOTO @dicaweylfotografia

Jurunas, 24.03.2024

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Panacarica: dois Anos sem Rô, mas a eternidade ainda Navega

A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi.   Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva.   Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Cláudio Barradas: Do lugar onde se vê o último Ato

A partida do Cláudio Barradas encerra um ciclo do teatro paraense.   Assim como foi, há cerca de vinte anos, a partida do Luiz Otávio Barata. Entre um e outro adeus, perdemos também muitos outros. Atrizes e atores que, como eu, foram crias desses dois mestres — Cláudio e Luiz Otávio — que, ao lado de Geraldo Salles e Ramon Stergman, compuseram, ali entre meados da década de 1970 e o início da de 1980, um respiro vital para o teatro feito em Belém do Pará. Era um tempo de afirmação. Um tempo em que se confundiam os passos da cena  teatral  com a própria origem da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará. Cláudio foi, sem dúvida, uma escola dentro da escola.   Passar por ele era passar pelo rigor, pela entrega, pela sensibilidade.   E, claro, pelo amor à arte. Os que o tiveram como mestre — nas salas da Escola Técnica, no Teatro do Sesi , mesmo nos ensaios, onde eu ficava à espreita, para aprender, em espaços acadêmicos, institucionais ou alternativos...