Desde que voltei de Cabo Verde que tenho me dedicado a estar em Bragança, onde nasci. Final do ano passado, estive na Marujada de São Benedito e este ano fui ao carnaval, à páscoa, e no feriado do Tiradentes. E mesmo na semana passada estive lá. E lá vou eu outra vez, hoje, todo contente, com Rudá, meu filho, e Helga, minha mulher, e, claro, meus cães corisco e dadá. Atravessaremos estes 200 kilômetros de estrada, para, finalmnente, percorrermos mais 36 kilômetros que levam até Ajuruteua, onde haverei de dormir esta noite, embalado pelo som do vento e do mar.
A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi. Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva. Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...
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