Nós, os poetas, olhamos para as palavras como se nelas não se pudesse conter a essência das coisas, depois, limitamos a vida ao significado do verbo que não pronunciamos, no segredo desvelado, rebelamos a alma que não se orienta na pedra filosofal do entendimento, nós os poetas olhamos para o poema como se ele não existisse e por isso tornamo-lo absoluto, o que há de sublime no sentido é o que não percebemos, nós, os poetas não falamos com Deus porque já nascemos no eterno, o que de nossa ãnima permanece é o símbolo do corpo, um caráter, um som, uma aliteração e mais qualquer coisa que não comunicamos com a poesia, nós, os poetas, sentimos o desconhecido como se já o compreendêssemos, pois temos a alma sem um conceito, somos vagas nebulosas, rastos estrelares, poeiras cósmicas, em nosso poetar.
© Carpinteiro
Porto, 1998
Assista e/ou ouça a declamação do poema pelo autor
Verso Bandido
Era uma vez um verso bandido
Que se escondia na cólera dos deuses
E que não era verso
Dos deuses que não eram deuses
É que os pássaros que passam por aqui
Também se repartem em passos por lá
Perdidos n’alma da crise
Do pulsar do broto viver
Viver como um verso
Que poderia ter sido
O ter de vir a ser
O seu zen
Sem pelo menos morrer
Talvez
Era uma vez um verso
E outra vez bandido
E a polícia perseguia a ambos
Com suas pseudo-inquietudes
De leis reis rainhas
Das ruas salas e becos
Prostitutos prostitutos
Era assim um verso e outra vez bandido
Pedaços de coisas que se chuta
E se respira no quotidiano aflito
De anjos e demónios
O que não era
O que não poderia ter sido
Como o olhar
O andar do paladar
O beijar a mão do homem
O andor da santa moral
Neopoética
Profética
Peripatética
Era uma vez um por do sol azul
E outro quase verde
Lilás
Poesias á meia luz
Ao meio tom da cor de verão
Muito pequeno burguês
Nada bandido
Isaías
Vamos chamar assim a esse personagem fictício
Chorava e ria e era poeta
Não ísaías
© Carpinteiro
Belém do Pará, 1995
Assista e/ou ouça a declamação do poema pelo autor
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Trova Beneditina
Oh! Meu Santo Benedito!
Protegei teu povo aflito
Do desvio dos políticos.
Oh! Meu Santo Bendito!
Iluminai teus filhos sofridos
Para que eles vejam
A injustiça dos bandidos.
Oh! Meu Santo Protetor!
Dai força à resistência
Deste povo trabalhador
Que te louva com tanto amor.
Este povo pescador,
E este povo roceiro,
Que ara a terra o ano inteiro.
E te segue com fervor.
Oh! Meu Santo Preto!
Clareai a cegueira dos brancos
Para que nunca mais
Humilhem os negros-santos.
Oh! Meu Santo Cozinheiro!
Dai terra a quem não tem
Nenhum vintém.
A quem não tem mais esperanças
Além das suas próprias andanças
Neste mundo de errâncias.
Oh! Meu Santo da Cura!
Fazei-me candura
Desde a semeadura
Para que a colheita
Seja farta de doçura.
Oh! Meu Santo Amado!
Fazei-me um navegador
Sem medo dos naufrágios.
Fazei-me aves
Por sobre todos os mares.
Oh! Meu Santo-Menino!
Fazei-me um peregrino
Das estradas e caminhos.
Oh! Meu Santo Bené!
Dizei-me se Maria e José
Abençoam a minha Fé!
Oh! Meu Santo Sagrado!
À noite, quando Rezo
Digo à Deus
Muito Obrigado!
E de manhã quando acordo
Sinto a vida renovada
Como uma grande revoada
De guarás em meus quintais
Ajuruteua nos meus sonhos
Me banha nesses encantos
Onde passeia meu espírito
Até os portais do infinito
Oh! Meu São Benedito.
Dizei-me uma só palavra
Para que meu poema
Tenha a marca da tua pena
E que a minha alma
Lavrada seja
pela tua Paz.
Oh! Meu Santo Belo!
É tua a Luz que me conduz.
Tal qual um Preto Velho,
Exu e Menino Jesus.
Oh! Meu Santo do Caeté!
Que teu Rio me lave
E me torne leve
E ainda mais forte a minha fé.
© Carpinteiro
Bragança do Pará, 2017
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