Pular para o conteúdo principal

Ajuruteua-Bragança



(...)
enviei este poema para comungar convosco do meu amor pela minha terra, mas, na verdade, não posso nem dizer que eu vou até ajuruteua, porque é ajuruteua que sempre vem até mim, carrego-a comigo, mas não como um cristão suporta o seu fardo, transporto-a, em minha alma, toda aquela paisagem de ajuruteua está impregnada com minhas energias, porque ali estão pedaços indizíveis de mim, e toda aquela paisagem impregna-se em mim, está comigo onde estou, sou-me todo e tudo, dela e nela, por isso a amo, e entristeço-me que muitos que por ali passam apenas deixam seus rastros, sujos, seus lixos, que trazem das cidades, sem nenhuma atitude pessoal de pelo menos não poluir a praia, já que estes que se pretendem políticos, sempre demagogos, nada fazem, nem ao menos uma, apenas usam aquele povo e destroem o ambiente, lamento que também nós, filhos de Bragança e mesmo aqueles que apenas passam por lá, aceitem que a praia fique suja e nada façam, e ainda joguem lixo na praia, e deixem garrafas, plásticos, essas merdas, entristeço-me que tenha quem vá para ajuruteua e nem ao menos escute o som do mar, pois que o som de seu ridículo carro está ligado em alto volume, odeio esses vermes, amo ajuruteua
(...)

são cinco da tarde, agora, vou para casa, amanhã e depois e depois não estarei conectado, mas me sentirei plugado a você, pelo que somos, em sangue e espírito, se fores até Bragança, sente o som dos tambores marujos, eles vêm de dentro de nossa ancestralidade, traduzem, de forma indizível (só poeticamente) o que somos neste tempo, e sempre nos remetem ao sagrado lugar da poesia, se fores até Ajuruteua, conta algumas estrelas, coloca-te à beira da fogueira e canta (e bebe vinho, como nos rituais dos antigos deuses pagãos, o meu deus é Dioniso, que é artista e sabe dançar) e agarra um pouco de areia e deixa escorrer por entre tuas mãos, é o tempo, esse velho companheiro, a encantar a vida, o que quer que ela seja, eu, aqui, a meio do oceano, estarei ao teu lado - já lá estou, agora e sempre - mesmo que nada disso aconteça, já o senti em meu coração, e isto me faz sentir um homem feliz
(...)
© Francisco Weyl
Carpinteiro de Poesia e de Cinema

Comentários

Francisco Weyl disse…
Estive em Bragança e em Ajuruteua este final de semana, estou a cuidar da nossa casa na praia.

Postagens mais visitadas deste blog

Panacarica: dois Anos sem Rô, mas a eternidade ainda Navega

A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi.   Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva.   Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Cláudio Barradas: Do lugar onde se vê o último Ato

A partida do Cláudio Barradas encerra um ciclo do teatro paraense.   Assim como foi, há cerca de vinte anos, a partida do Luiz Otávio Barata. Entre um e outro adeus, perdemos também muitos outros. Atrizes e atores que, como eu, foram crias desses dois mestres — Cláudio e Luiz Otávio — que, ao lado de Geraldo Salles e Ramon Stergman, compuseram, ali entre meados da década de 1970 e o início da de 1980, um respiro vital para o teatro feito em Belém do Pará. Era um tempo de afirmação. Um tempo em que se confundiam os passos da cena  teatral  com a própria origem da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará. Cláudio foi, sem dúvida, uma escola dentro da escola.   Passar por ele era passar pelo rigor, pela entrega, pela sensibilidade.   E, claro, pelo amor à arte. Os que o tiveram como mestre — nas salas da Escola Técnica, no Teatro do Sesi , mesmo nos ensaios, onde eu ficava à espreita, para aprender, em espaços acadêmicos, institucionais ou alternativos...