Pular para o conteúdo principal

#POEMA "Pequenas coisas" (Carpinteiro de Poesia Francisco Weyl)

Há (pequenas) coisas que eu realizo
e outras que eu desejo realizar.

Essas coisas, juntas, são (pequenas) coisas.

São (pequenas) coisas que eu escolho,
(pequenas) coisas pelas quais eu sou o escolhido.

Eu e essas (pequenas) coisas,
realizado(a)s e desejado(a)s,
somamo-nos
à complexidade de outras (pequenas) coisas,
à nossa revelia.

Estas (pequenas) coisas,
realizadas e desejadas,
pertencem-me,
pertencendo também ao universo.

São (pequenas) coisas de infinita grandeza,
universais,
em convulsões nas (pequenas) coisas que eu realizo
e desejo.

Essas (pequenas) coisas,
somadas
ao meu desconhecimento e à minha ignorância,
gritam, grunhem, falam, e, finalmente, calam.

No silêncio, na paz das (pequenas) coisas,
silenciosas,
no mistério das (pequenas) coisas,
interiores,
na sacralidade da natureza,
oculta-se
o ser que eu sou.

Este ser,
estando oculto, não se consegue
esconder.

Desvelo-se-me,
no que eu sou, em essência natural, 
homem com as suas (pequenas) coisas.

(Pequenas)
coisas são coisas de um homem como eu.
(Pequenas)
coisas que eu realizo e desejo,
desejando-as,
realizando-as,
realizando-me, através delas.

Pulso-me nessas (pequenas) coisas.

Pulso-me na poesia dessas (pequenas) coisas.

Pulso-me na poesia das (pequenas) coisas
dos homens, homens
que desejam e realizam (pequenas) coisas,
desejando-se
e realizando-se a si próprios
com as suas (pequenas) coisas.

Pulso-me nos homens que se realizam nas (pequenas) coisas.

Pulso-me nas (pequenas) coisas que se realizam na poesia dos homens.

Pulso-me nestes homens porque eles são tão poucos
e porque eles são grandes homens.

São grandes homens
aqueles que canalizam o espírito e o desejo dos deuses do universo.

A natureza chama a estes grandes homens.

A natureza chama-os,
reúne-os, destrói-lhes
o corpo,
liberta-lhes o espírito.

O homem, já o sabemos, é o câncer da terra,
tem que ser extirpado do planeta.

O homem destrói,
mata, vilipendia, tem medo.

Pobre homem,
deve abandonar o planeta e migrar para o seu nada absoluto.

A terra é mãe e nela não cabe um tumor maligno
como o homem.

O homem tem ideais humanos tão vis.
O homem é tão vil que idealiza
a felicidade, o amor e a caridade.

O homem acredita  que é capaz de crer e mente
a si próprio.

O homem acredita que crê quando não crê.

O homem afirma o seu credo porque tem medo.

Hipócrita por crer, hipócrita por ter fé
e força apenas na covardia.

O sentimentos desse homem pequeno
são jóias
da vaidade, são morais escarnadas.

Este homem deve desaparecer
e com ele os seus falsos sentimentos.

Sentimentos irreais, idealizados e fingidos.

De tanto pensar em tais sentimentos,
o homem
nunca será capaz de desejá-los ou realizá-los.

© Carpinteiro
(FOTO #DRITRINDADE)


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Panacarica: dois Anos sem Rô, mas a eternidade ainda Navega

A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi.   Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva.   Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Cláudio Barradas: Do lugar onde se vê o último Ato

A partida do Cláudio Barradas encerra um ciclo do teatro paraense.   Assim como foi, há cerca de vinte anos, a partida do Luiz Otávio Barata. Entre um e outro adeus, perdemos também muitos outros. Atrizes e atores que, como eu, foram crias desses dois mestres — Cláudio e Luiz Otávio — que, ao lado de Geraldo Salles e Ramon Stergman, compuseram, ali entre meados da década de 1970 e o início da de 1980, um respiro vital para o teatro feito em Belém do Pará. Era um tempo de afirmação. Um tempo em que se confundiam os passos da cena  teatral  com a própria origem da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará. Cláudio foi, sem dúvida, uma escola dentro da escola.   Passar por ele era passar pelo rigor, pela entrega, pela sensibilidade.   E, claro, pelo amor à arte. Os que o tiveram como mestre — nas salas da Escola Técnica, no Teatro do Sesi , mesmo nos ensaios, onde eu ficava à espreita, para aprender, em espaços acadêmicos, institucionais ou alternativos...