Há quem celebre os anos com festa. Caeté de José celebra com sarau — e isso diz muito mais sobre ele do que qualquer cronologia. O tempo, para Caeté, não se mede apenas pelos anos, mas em versos espalhados como sementes, em escutas abertas à dor do outro, em pontes lançadas entre a terra e céu.
O poeta que nasceu Raimundo José Weyl Albuquerque Costa, mas se fez múltiplo em nomes e vozes — Caeté de José, Disseus, Madalena de Caeté, Raio de Luz — completa agora 70 anos de uma existência consagrada à arte, à espiritualidade, ao amor, à família e ao povo.
Ele é, antes de tudo, um educador de almas, um construtor de passagens simbólicas, missionário da poesia, missionário de uma escola cósmica. E celebra esse marco como vive: abrindo as portas de sua casa, que é também casa de todos que sentem, pensam e resistem.
É uma Casa que é tanto um Ponto de Cultura quanto de Cura.
Na Marambaia, Belém do Pará, a Casa do Poeta Caeté se ergue como um ponto de cultura, mas também como um ponto de reza, de cura e de reexistência. Mais que um espaço físico, é um território espiritual em construção. Um altar coletivo de palavras, onde a poesia não é luxo nem ornamento: é ferramenta, oração e instrumento de libertação.
Caeté é o fundador do Apostolado da Poesia, projeto que levou e leva versos a praças, ônibus, barcos, corredores escolares, salas de espera — transformando o cotidiano em rito poético. Através desse apostolado, ele ensina que a poesia é uma necessidade tão vital quanto água limpa e alimento justo.
Sua trajetória é marcada por oficinas, encontros e saraus, ele planta escuta, palavra e afeto. Não escreve para os livros apenas — escreve para a vida. Já participou da Feira Pan-Amazônica do Livro, através do Sarau do Recomeço, e coordena hoje a área cultura do Museu Surrupira de Encantarias da Amazônia, onde os espíritos da mata, os caboclos das águas e os saberes dos encantados têm vez e voz.
Mas talvez o traço mais singular da obra e da vida de Caeté seja sua espiritualidade cósmica e radicalmente inclusiva. Autodidata, leitor de grandes mestres da transcendência — Blavatsky, Krishnamurti, Gandhi, Gibran —, Caeté construiu ao longo de décadas uma poética que transcende o verso e se aproxima da revelação. Participou do Comitê Interreligioso do Pará e da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, consolidando sua caminhada como ponte entre fé, arte e justiça.
Seu primeiro livro, "Poemas do Bom Amor para o Bem Amar", publicado pela WEYL EDITORA, matriz da Arte Usina Caeté, foi assinado por Caeté e Disseus — ele mesmo em dois —, e abriu caminho para uma série de outras obras que dialogam com a paz, o amor, a esperança, o sonho, a memória. Sua escrita ecoa vozes do sagrado.
Aos 70 anos, como quem funda pequenas igrejas profanas onde o culto é à beleza, à diferença, à dignidade, ele segue criando coletivos, entre os quais o Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP-30, do qual particcipam o Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), o Cordeiro do Urubu, o Vagalume Boibumbá da Marambaia.
E toda essa irmandade, além da Família Weyl, e dos amigos do poeta estão no sarau de 70 anos de Caeté, que será realizado na própria Casa do Poeta.
Será um rito de passagem. Uma oferta à comunidade. Um momento de encontro entre o que fomos, o que somos e o que ainda podemos ser. Estar junto para celebrar uma vida, comungar de um projeto maior de cultura, espiritualidade e amor.
Oxalá abençoe, Caeté.
Evoé !
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