Pular para o conteúdo principal

NOTA DE DESAGRAVO - Em defesa da dignidade e da cultura da Marambaia


Nós, profissionais, artistas, entidades culturais, militantes e cidadãos comprometidos com a construção coletiva do Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas da Marambaia, vimos a público manifestar nosso profundo repúdio à atitude desrespeitosa e agressiva do ex-senador Paulo Rocha (PT) durante o ato "Tributo a Joel", evento político-cultural realizado em memória de Joel, figura fundamental para a história e a resistência de nosso território.


Em um momento de dor, de memória e de luto compartilhado por toda uma comunidade mobilizada por amor, arte e justiça, o ex-senador protagonizou uma cena lamentável: ao ser interpelado com civilidade por um dos organizadores do ato, reagiu de maneira exasperada, despropositada e violenta, chegando a gritar e a agarrar o interlocutor, num gesto absolutamente incompatível com a postura que se espera de alguém que já ocupou cargos públicos. A situação, contida com o apoio dos populares presentes, gerou tensão generalizada e constrangimento, atrasando e ofuscando o início de uma homenagem que deveria ter sido marcada apenas pela celebração da vida e da luta de Joel.


Além do desrespeito ao organizador do evento, o referido ex-senador também destratou outras pessoas da comunidade, ampliando ainda mais o mal-estar e ferindo a memória coletiva daquele momento. Esse comportamento agride não apenas os indivíduos diretamente envolvidos, mas toda uma rede de pessoas, coletivos e instituições que se reuniram para construir o ato com afeto e responsabilidade — entre eles, o Boi Vagagalume, o Cordel do Urubu, o FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté e a Casa do Poeta do Caeté.


A fundação do Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas da Marambaia tem como horizonte a organização de debates, proposições e ações concretas voltadas à valorização dos territórios periféricos, da cultura viva de base comunitária e da intervenção qualificada nas pautas climáticas e ambientais, especialmente diante da realização da COP30 em Belém, momento estratégico para o mundo ouvir o que têm a dizer as margens.


Reafirmamos nosso compromisso com a memória de Joel, com a ética nos espaços públicos, e com uma política feita com escuta, diálogo e respeito. Repudiamos toda forma de violência, simbólica ou física, principalmente quando praticada por figuras que deveriam zelar pela integridade dos espaços populares. Não aceitaremos que a arrogância institucional ou pessoal se sobreponha à força legítima de nossos corpos, territórios e vozes.


Por Joel. Pela Marambaia. Pela cultura periférica viva.


Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas da Marambaia

18 de maio de 2025



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Panacarica: dois Anos sem Rô, mas a eternidade ainda Navega

A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi.   Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva.   Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Entre aforismos e reflexões sobre a existência - análise crítica da obra de Jaime Pretório

A obra, mesmo não sendo uma extensão do artista ou propriedade do público que a ressignifica, é uma potência inerente e transcendente ao próprio artista, entretanto, um escritor, como, em geral, um artista, não se resume ao que ele escreve, ao que ele concebe. A obra de Jaime Pretório, em especial sua coletânea “1000 Aforismos recortes de uma vida” vai além das palavras e das ideias que ele usa para expressar sua ampla reflexão sobre a condição humana, nestes tempos em que já nem sabemos ao certo se sobre ou sub vivemos. Nesta obra, o autor discorre sobre questões cotidianas, convocando-nos a uma jornada de introspecção, a partir de aforismos sobre normas sociais, dogmas religiosos, convenções filosóficas, mensagens poéticas. L er o autor impõem-nos desafios, ainda que na sua estilística aforística ,  o sinta gma  frasal se encerre em si próprio ,   através de  uma mensagem fragmentária, no caso d e  Pretório, uma mensagem fragmentária sobre os diversos temas qu...