Pular para o conteúdo principal

A África tem de se reapropriar de sua História

O realizador angolano Dom Pedro foi um dos convidados para a Roda de Conversa que ocorreu nesta terça, 25/11, no Palácio da Cultura Ildo Lobo, no âmbito do #PLATEAU – Festival Internacional de Cinema de Cabo Verde.


Antes, entretanto, conversamos sobre diversos assuntos relacionados à sua cinematografia e a produção do cinema no Continente Africano, assunto que ele tematizou na Roda, logo depois de eu falar sobre “Cineclubismo de Resistência”, cujo “discurso” publicarei breve neste espaço, de forma a contribuir com a História que se está a construir neste momento na Cidade da Praia, capita de Cabo Verde.


Dom Pedro afirma; “Com o cinema, podemos conscientizar e educar facilmente, porque é instrumento muito importante para comunicar com o mundo e valorizar a nossa cultura, para que os mais jovens conheçam o passado e possam intervir no presente, ou seja, evitar os erros dos antigos, e permitir aos mais jovens, que amanhã ou depois serão os governantes africanos, uma melhor visão da realidade”.


O realizador diz que seus filmes seguem este caminho, histórico, e acredita que muitos também vão trilhar este percurso do cinema documental. Ele diz que é a partir do documentário – “que tem este grande papel, para ser um guião dos nossos tempos, para passar as informações para as gerações, para que possamos saber, por exemplo, quem são os nossos heróis”, avalia.


O realizador angolano tem uma preocupação com o Continente Africano, que, segundo ele, tem um grande contingente de pessoas analfabetas, que são facilmente manipuladas de diversas formas, inclusive pela televisão: “A África em partícula tem pessoas que não sabe ler alguns nem consegue, compreender o que leem, então, o documentário desempenha este papel importante, para bem compreender o papel do cinema numa sociedade capitalista”, analisa.
Os jovens, segundo ele, consomem muita televisão, e se identificam, por isso mesmo, com o estrangeiro, entretanto, ele acredita que é preciso se reapropria da história, para mostrar aos mais jovens os valores culturais africanos.
“Temos de nos reapropriar da História, só a partir desta reapropriação histórica é que podemos entender o presente”, finaliza.
No debate do qual participamos na terça, 25/11, falei sobre “Cineclubismo de Guerrilha”, sendo, basicamente, uma fala de enfrentamento, mas, para além dos discursos, fundamentos teóricos e ações, experiências forjadas nesta guerra contra todas as formas de colonização humanas.
Comecei pelos anarquistas, passei pelas resistências às ditaduras (Vargas/militar), lancei olhos no ABC paulista, de seguida entrei numa Belém dos anos 60 referenciei nomes que construíram esta história, mas ao mesmo tempo fiz a crítica que sempre construí, de forma responsável e de sérios conteúdos, até que entrei nestes tempos cuja velocidade tecnológica por pouco não nos rouba a alma, ao mesmo tempo em que avancei na seara digital e nas respostas que vírus como nós podemos dar a este sistema, revelando as experiências cineclubistas e cinematográficas de guerrilha e de resistência, projetando filmes coletivos produzidos sob a estética da gambiarra.
Nota: Como já afirmei a fala original eu transcreverei neste blog assim que tiver tempo para isso. Não há dúvidas de que o Plateau acerta no alvo de forma simbólica. Abrir as rodas de conversas é de uma honra absoluta. Sou muito grato a Cabo Verde e ao Júlio Silvão Tavares, à Câmara Municipal da Praia ao FICINE e aos organizadores deste Festival histórico. Espero responder aos desafios que me estão a ser colocados.


© Carpinteiro

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cinema de Guerrilhas volta a Braga para segunda Edição

 Será no dia 26 de março de 2025, na sede da Associação Observalicia, em Braga, a segunda sessão das “Vivências do Cinema de Guerrilha – Resistência Climática”. Organizada por essa associação sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e atuação em alimentação, tecnologia e ecologia social, a ação propõe uma imersão no audiovisual como ferramenta de resistência e transformação social. Vamos continuar a trabalhar juntos na construção coletiva de filmes que denunciem as urgências climáticas e ecológicas atuais. A oficina busca democratizar o acesso ao cinema, utilizando tecnologias acessíveis, como celulares, para que comunidades e indivíduos possam contar suas próprias histórias e fortalecer sua luta ambiental. Como facilitador, trago minha experiência no cinema amazônico, onde venho desenvolvendo pesquisas e produções voltadas para a resistência cultural e ecológica. Como criador e curador do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA), sigo explorando as estéticas de guerrilha,...

Entre aforismos e reflexões sobre a existência - análise crítica da obra de Jaime Pretório

A obra, mesmo não sendo uma extensão do artista ou propriedade do público que a ressignifica, é uma potência inerente e transcendente ao próprio artista, entretanto, um escritor, como, em geral, um artista, não se resume ao que ele escreve, ao que ele concebe. A obra de Jaime Pretório, em especial sua coletânea “1000 Aforismos recortes de uma vida” vai além das palavras e das ideias que ele usa para expressar sua ampla reflexão sobre a condição humana, nestes tempos em que já nem sabemos ao certo se sobre ou sub vivemos. Nesta obra, o autor discorre sobre questões cotidianas, convocando-nos a uma jornada de introspecção, a partir de aforismos sobre normas sociais, dogmas religiosos, convenções filosóficas, mensagens poéticas. L er o autor impõem-nos desafios, ainda que na sua estilística aforística ,  o sinta gma  frasal se encerre em si próprio ,   através de  uma mensagem fragmentária, no caso d e  Pretório, uma mensagem fragmentária sobre os diversos temas qu...

Um Encontro de Arte e Reflexão: X FICCA na Livraria Gato Vadio

A Livraria Gato Vadio será palco de um dos momentos mais inspiradores do X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, que celebra a arte de resistência da Amazônia. Entre histórias contadas pelas telas e diálogos que se desdobram em ideias e ações, o espaço se tornará uma confluência de arte, literatura e cinema. Uma das joias da programação do X FICCA será a Oficina de Cinema CADA REALIZADOR UM TERRORISTA E CADA FILME UM ATENTADO, que convida amantes da sétima arte, estudantes e curiosos a mergulharem no universo da criação cinematográfica, sob a perspectiva da arte de resistência social. O festival tem como referencial teórico as estéticas de guerrilhas, as poéticas da gambiarra e as tecnologias do possível, que são conceitos resultantes das práxis pesquisadas e aplicadas pelo criador, diretor e curador do FICCA, Francisco Weyl. Estes elementos para a construção de uma tríade conceitual do cinema de resistência social serão apresentados e dialogados com os participantes, send...