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Armas, lavas e palavras de um moçambicano em Cabo Verde

O escritor, poeta, romancista e jornalista moçambicano Nuno Rebocho, 69 anos (40 de jornalismo) foi detido pela foi detido (em Peniche), julgado e condenado a 5 anos de prisão pelo Estado Novo de Salazar (1967 e 1972).
Nascido em 1945, estudou direito mas desistiu da profissão: “Foi a vida que me ensinou, porque, se tivesse me formado em Direito, eu seria um péssimo advogado”, diz. Líder comunista estudantil, Nuno afirma ter conhecido os “camaradas do Araguaia”, entre os quais o (João) Amazonas e (Diógenes) .


Antes de começar a praticar o jornalismo, entretanto, Nuno foi (“com muito orgulho”) o que a maioria dos anarquistas foram, tipógrafo. “Oficial de vários ofícios”, chegou a ser comissário de uma Bienal de pinturas na Croácia, fez filme sobre Eugênio Tavares (com o documentarista cabo-verdiano Júlio Silvão).
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Senegal, Angola, Portugal, Espanha, França, e Brasil, entre outros, são países que estão na sua rota nômade, tornando-se amigo, por isso mesmo, de personalidades como o pintor espanhol Tchillida, o poeta catalão Manoel Maria, o escritor Jorge Amado, entre outros.



Fez de tudo um pouco na sua profissão de jornalista, “desde estágio até chefia de redação”, conta. Antes mesmo de ser detido na década de 1960, ele já escrevia para pequenas publicações como Diário de Lisboa (1963), passando, de seguida, ao sair da prisão, a atuar e colaborar em dezenas de veículos, impressões e eletrônicos.




Entre outros jornais, ele escreveu para diversos diários, semanários e revistas portugueses, entre os quais: “Jornal Novo”, “Tribuna”, “A Tarde", "Jornal de Economia", "O Século"; "Vida Mundial", "Novo Observador", "O Sinal", "Dez de Junho", "Ideal"; "Pesca & Navegação", "TT-Todo o Terreno", "Motor"; "Notícias da Amadora", "Comércio do Funchal", "Aponte"; e "A Nossa Terra".
Irrequieto, acumulou as atividades de impressões com as de programas radiofônicos, a partir de 1989, quando ingressou na RDP (Radiodifusão Portuguesa. Em Cabo Verde, colaborou com o semanário "Horizonte"; "Expresso das ilhas"; e "Liberal on-line".


Político, participou de entidades representativas e agitou cenas culturais diversas. E como escritor, faz incursões na poesia, na crônica, no conto e no romance, tendo publicado – por diversas editoras - cerca de 30 obras, entre as quais: Breviário de João Crisóstomo (1965); Uagudugu (1994); O Onanista (1994); Um Poema a Lenine (1994); Manifesto (Pu)lítico (1995); Memórias de Paisagem (1996); A Invasão do Corpo (1997); Santo Apollinaire, meu santo (1997); Xblung Cascais (1997); A Nau da India (1999); A Arte de Matar (2001); Cantos Cantábricos (2002); Poemas do Calendário (2003); Manual de Boas Maneiras (2005); A Arte das Putas (2006).

NOTA:
Uma tarde, em 2006, estava a dar aulas de Estética na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, quando observei à porta dois sujeitos que naquela altura me eram desconhecidos. Interrompi a aula e perguntei se poderia ajudar em alguma coisa. E eles disseram que queriam falar comigo. Pedi que esperassem até o fim da aula, que já estava a acabar. Assim o fizeram. Eram eles Apolinário das Neves (empresário da comunicação) e Nuno Rebocho. Nascia naquele dia uma das amizades mais profícuas de minha vida, considerando-se as parcerias e as colaborações que mantivemos desde então e que a retomo nesta volta à terra.


© Carpinteiro

De: Nuno Rebocho <nrebocho45@gmail.com>
Data: 26 de novembro de 2014 13:11
Assunto: Re: nuno reobocho no meu blog
Para: Carpinteiro de Poesia <carpinteirodepoesia@gmail.com>, Apolinário das Neves <apolineves@hotmail.com>, Júlio Silvão Tavares <juliosilvao@gmail.com>, Ademir <ademirbs@ig.com.br>

"Contém algumas incorrecções, mas agradeço: o Manuel Maria, já falecido, não era catalão, mas galego: um dos grandes poetas da Galiza, conhecido por "poeta de Lugo". Conheci o Jorge Amada, como o Ferreira de Castro, como o Alves Redol e muitos outros, No "Horizonte" não fui jornalista, mas assessor da administração. Podias falar dos meus professores como o Cansado Gonçalves (foi dirigente comunista), Mário Dionísio, Vergílio Ferreira​, Bénard da Costa, fundamentais para a minha formação.
Uma vez mais, obrigado
NR"

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