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a importância é uma merda


a importância é uma merda é uma merda t’esperar na mesa de um bar um táxi para eu piro com teu ar negro ar o bar não dorme sonha o bar não sonha o tesão a paixão o orgasmo por acaso quantos homens eu desejo o saber e o pau duro ou o pénis erecto não quero ser babaca babaca do bar do parque quiosque tenho duas camisinhas te gozei sem elas e tu mastigavas chicletes adans homem como qualquer outro como qualquer outra eu não tô nem aí rock nacional glauber rocha tragédia ante tragédia rodriguesniana tua clara negritude cristal de ãnima te amo paixão baudellairiana fôlego de buceta pernas enroscadas lambidas no umbigo o mel é fel e rima com o que não tem sentido mais um gole eu vomito diante da guarda municipal a guarda passeia com seus andares frescos andam frescos por todas as praças marguerite yourcenar à duras penas à pernas pernas

© Carpinteiro
Belém do Pará, 2003

(...)

Bem vinda ao deserto
(Para Dri Trindade)

Conheço pessoas que defendem bandeiras
Políticas ideológicas partidárias religiosas sexuais
E são tão parasitas quanto os burgueses
Que elas fingem combater enquanto classe
Mas também conheço burgueses filhos da puta
Que nem são tão filhos da puta assim
Ainda que sejam filhos da puta
Mas sei que há pessoas que ninguém conhece
Pessoas em qualquer lugar 
Em Cabo Vede no Brasil na Índia
Em Portugal na Marambaia
Gente que a gente nem olha
Gente que a gente olha mas nem vê
Alguém que nem fale
Ou ainda que fale e nem tenha poder de persuasão
Para sustentar o seu pensamento 
Mesmo que acredite nele
Gente que nem pensa
Mas é real
Invisível
No deserto

© Carpinteiro de Poesia
Porto, 21 de Setembro de 2019

(...)

Ela fala mas não a escuto
E se me olha não a vejo
Entretanto sinto no ar
O movimento de suas mãos
São longas e de anelares curtos 
Um gesto corta o espaço
Entre carpo e metacarpo
Perto e longe de suas falanges
Emaranhado em seus cabelos
Cego diante de seu espelho
Em que vejo um Hamsá se revelar
Digo coisas pelas quais me interesso
O simbolismo destes encontros
Em noites tão claras mas escuras
Onde perder-se é uma procura
E ela que me parece tão segura
Não dá o primeiro passo
Mas eu dou um passo atrás
Perdi o jeito e corro riscos
Arrisco um poema sobre mãos
Ela gosta de mãos e de poesias
Que as recito em silêncio
Enquanto observo seus braços
E os dedicados gestos de suas mãos
Ela tem mãos tão delicadas
E com linhas marcadas
Que nem as vi mas senti
O que lhe é sutil 
E em mim agressivo
Na linha do sol
Ou no monte de Vênus
E isso diz mais sobre o mindinho
Do que os traços do destino

© Carpinteiro
Porto, 12/02/2020

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Estes textos aqui reunidos constituem a segunda sessão 
do Microprojeto TERÇA TRÍADE, 
pela via da qual publico três textos poéticos autorais neste espaço.
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Comentários

Unknown disse…
Grato, por compartilhares.

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