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Terça Tríade


Há momentos que palavras confortam

Embora não tenham muito o que dizer

Outras vezes é o silêncio

Que toma a forma

Solidária

E nutre o pacto

De uns com os outros

Que somos todos nós

Seres humanos

Iguais em fragilidade

Mas não em arrogância

Ou na ganância

Talvez na comunhão

Assim dito eu fecho o pano

E saio de cena

Com o meu ego

Doentio

Sem moral da História

Mas com este poema

Que estava engasgado

Na garganta

E preso à míngua

De uma velha gaveta

Num quarto mofo

Onde guardo papeis

Amarrotados

E roupas

Rotas  


© Carpinteiro


...


Eu te convido para brincar

Um jogo sem regras

Um ritual em que leio poesias

Mostro meu álbum de fotografias

E narro histórias

Da cosmogonia de meu universo

E de lugares que conheci adulto

Mas que já os havia visitado

Quando criança

Em histórias suprahumanas

Cabem todos os mistérios


© Carpinteiro


...


Desejo que você reflita

Sobre como se sente

Em relação a mim

E de como atribui

A minha pessoa

O seu estado de espírito

Como se o que eu pensasse

Ou falasse ou sentisse

Fossem contra você

Mas cuidado

Quem sabe você está errado

Sobre o mal que lhe faço


© Carpinteiro


...

Estes textos aqui reunidos constituem a primeira sessão 
do Microprojeto TERÇA TRÍADE, 
pela via da qual publico três textos poéticos autorais neste espaço.
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