Uma vez um poeta me disse que preferia dar-se de
comer aos cães, já que os cães haveriam mesmo de comê-lo, e que se isso
acontecesse, ele preferia escolher as partes de suas carnes para oferecer aos
cães, assim, ele, poderia se sentir superior aos cães, ao ser por estes devorado,
então, disse-lhe, poeta, tu, poeta, e nisso estamos todos de acordo, és magnífico,
entretanto, a tua visão de mundo é das mais covardes que eu conheço, porque, ao
contrário de ti, cuja sabedoria está em pensar e criar mecanismos de engano a
certos tipos de cães com os quais convives, digo-te que a tua sabedoria não tem
nada de inteligente, e nem de ingênua, a pensar que os cães se deixariam lograr
pelos pedaços que os oferecerias, até porque os cães não haveriam apenas de te
roer os ossos, digo-te que eu não escolho nem os bons nem os maus pedaços de
minha carne podre para ofertar aos cães, antes, prefiro enfrentá-los, lutar
contra eles, e ainda que eles me devorem, não os ajudarei a mastigar-me a
carne, eu os enfrento.
© Carpinteiro
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