O
pacifismo faz parte do processo de formação do povo brasileiro, o que é
lamentável, já que os dominadores só falam uma língua, a violência.
Este
pacifismo, conseqüentemente, converte-se num altruísmo, beira a subserviência e
atinge a absoluta alienação.
Sem
armas que os libertem, os brasileiros, com jeitinho, usam da criatividade.
E
a originalidade garante-lhes a sobrevivência.
É
preciso, pois, pagar as contas, e se possível divertir-se, mas não exatamente
nesta mesma ordem.
Em
conseqüência disso, há quem transforme a sua obra em produto e se coloque à
venda a um preço tão barato quanto à sua baixa qualidade.
Há
quem se venda à qualquer preço, qualquer homem tem o seu (preço), dizem, mas há
quem não se venda nunca.
É
o caso dos artistas populares, eles sobrevivem.
À
míngua e à margem do poder, que lhes faz vistas cegas, como se eles não
existissem.
Essa
é uma das grandes contradições desta terra.
Muitos
fazedores de cultura e burocratas estão do lado do poder, usufruem de dádivas
financeiras.
Sem
questionar, aceitam uma política cultural e, ridículos e hipócritas, dizem-se apolíticos.
Os
artistas são farsantes em geral, mas esses são mais farsantes que artistas,
aliás, nem artistas são.
Onde
começa a arte e onde ela termina, isso só o capital e a sua indústria do lixo
decide. Por eles, esses que se dizem, mas não são artistas.
Os
consumidores, coitados, esses, nem sabem o que se passa, estão lá, na base, a
degustar dessas sobras mal servidas.
Os
artistas da fome, os artistas populares, ao contrário, estão nas ruas e praças
das cidades, a produzir arte viva.
Nas
periferias, nos rincões, nos interiores, nas noites de cantoria, nos saraus de poesia,
nas rodas de capoeira, de rap e de cana.
Os
artistas populares moram onde ninguém sabe, mas todos os veem, pois eles nos
servem com a sua arte.
Esta
arte que eles retiram da própria carne, esta arte em carne viva.
©
Carpinteiro
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