Orelhas decepadas de Charles Bukowski
(© Francisco Weyl)
Esforço-me, mas não consigo fugir à otite provocada pela multiplicidade de mediocridades que só a mesquinhez e a pequenez humanas são capazes de produzir.
Tenho ouvido coisas que me afetam aos tímpanos, mas, confesso, estou farto, ando surdo para elas.
Escutem estas palavras enquanto ainda podem ouvi-las, pois prefiro decepar as Vossas orelhas a escrever um texto para a orelha de um livro.
Decepemos, pois, estas orelhas: não gosto de referências aos pop-idiotas do star sistem, esses vermes que alimentam vermes no interior de um sistema que só produz, claro, vermes.
Mas, esse filho da puta escreveu um livro e me pediu para eu puxar-lhe pela orelha, porque, afinal de contas, alguém tem de fazê-lo.
Não o julgo, nem por isso nem por nada, muito menos por esta sua obra, na qual ele não deveria fazer referências a alguns papas da cultura: e isso é coisa que eu definitivamente não suporto, primeiro porque não concordo que devamos referenciar estes filhos da puta que só prestam para emburrecer a humanidade, portanto, tem qualquer coisa que eu não gosto neste livro e é exatamente as referências que ele faz a esses papas da cultura.
Mas você tem razão, mais vale masturbar-se do que escrever sobre orgasmos.
A masturbação mental é tão necessária quanto a hóstia para a missa.
Ritos de uma mesma cultura.
Mas, não é verdade que se deva saber o sentido da palavra para que ela possa vir a ser experimentada.
Parabéns, adorei as referências as porcas, sem vergonhas, também eu as adoro, gosto mesmo de mastigá-las e engolir um pouco da baba dos chicletes delas.
Notas:
Todo mundo sabe que “orelha decepada” é uma cena do Van Gogh.
E que Charles Bukowski nunca me mostrou escrito algum.
Em geral, escrevo sobre húmus, mucosas, orifícios e tabus.
E gosto de escritores andarilhos.
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