Palavras e
coisas - Mas, antes de fazer qualquer
esforço intelectual ou de memória, é preciso definir o poder da palavra sobre
as coisas por elas nomeadas, ou seja, as coisas tem nome, logo elas são. Aos
nomes destes nomes de cada uma das coisas, chamamos de palavras. As palavras,
portanto, designam as coisas. Mas por serem signos (tanto as palavras quanto às
coisas por elas nomeadas), arrastam consigo – ao serem evocadas - uma sucessão
de outros fenômenos com os quais se relacionam de diversas formas, espontâneas
e aleatórias. E assim, até o invisível se vê através das palavras. Como numa
espécie de combinação, uma sucessão de probabilidades se abre e então no
interior desse espectro metafísico vislumbramos algum resíduo de essência que
determina o que cada uma das coisas (nomeadas) são. E são por serem em si e
através de si mesmas, pela via das palavras que lhes traduzem os diferentes
sentidos que a elas são atribuídos por convenção. Uma coisa, portanto, pode ser
uma e outra coisa. Pode ser uma coisa só e várias coisas ao mesmo, entretanto,
o que uma coisa não pode nunca ser é coisa nenhuma. Até porque a coisa nenhuma
também é coisa nomeada pela palavra e portanto representada quando falada - no
campo sonoro (oralizada) ou grafada, no campo visual (escrita) ou ainda mental
quando atravessada na cadeia (in)consciente dos pensamentos, como numa corrente
dialética de signos que se processam uns aos outros, em síntese. © Francisco Weyl
A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi. Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva. Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...
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