Um único verso, simples, como um sopro, passageiro,
passarinho
Por muitas vezes quero falar de uma coisa e me sai outra, e
estes pensamentos que me escapam, na verdade, apesar de se parecerem
inteligíveis, não os compreendo, por não saber expressá-los, apesar de
senti-los.
Isso não me traz nenhum estado de angústia, entretanto,
mesmo sem sofrer, eu sinto que seriam preciosas estas revelações que se ocultam
de alguma forma dentro de minha alma como uma matéria bruta do meu pensamento e
de minha poesia.
Por não traduzir estes pensamentos e estes sentimentos,
esforço-me por decodificá-los, criando signos que os representem, e pela via
dos quais, eu possa enfim dizer o que eu quero dizer, mas, não o consigo.
Por vezes, como agora, sou tomado por este impulso de
escrever sobre este acontecimento, que em verdade é um momento-processo dentro do qual
eu afundo e que toma de fato muito tempo de meu pensamento, e de minhas
indagações.
Este momento-processo se estende, além de meu sentimento,
e de meus pensamentos, não apenas porque me faltariam - e me faltam - palavras para os
traduzir, mas porque é já o próprio estado de inércia ao qual sucumbe o meu
estado criativo.
E do interior destas tempestades e tormentas intempestivas
do pensamento, saltam antigos corpos e demônios dispostos a gritar e a falar
línguas que eu não compreendo embora eu sinta que elas me façam sentido.
Como se estivesse num pântano, ou num deserto, ao qual a
minha solidão me conduzisse, e onde finalmente, eu próprio tivesse que retirar
de dentro de minha alma a grande obra do universo.
Um único verso, simples, como um sopro, passageiro,
passarinho.
© Carpinteiro de Poesia
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