Bebel Luz é uma mulher madura que faz Mestrado em Estudos Culturais na Universidade de Lisboa, onde habita há quatro anos, num apartamento que divide com quatro brasileiras, no bairro da Graça.
De estatura média, formas roliças e avolumadas, cabelos negros, olhos caboclos castanhos, nasceu em Bragança do Pará, e morou no periférico bairro da Marambaia, em Belém do Pará, durante anos.
Não me recordo quando a conheci, mas quando a senti, ela já estava entre meus amigos portugueses que viajaram ao Brasil, quando realizamos o Concílio Artístico Luso-Brasileiro, em 2003, período em que fundamos o Cineclube Amazonas-Douro, e criamos a revista Pará Zero Zero.
Reencontrá-la foi como voltar ao tempo e ao mesmo tempo avançar com ele, enquanto o experimento, neste aqui e agora, em simultâneo.
Não a via desde o tempo que não via alguns de meus amigos do Porto, aos quais ela se juntara.
Falamos de nós e de nossos sonhos e amigos em comum.
A Bebel atravessou um vale de sombras e trouxe dele a sua própria Luz.
Eu a senti mais serena, na mesma sintonia de quem se busca a si próprio, e se renova num processo de purificação pessoal, quando nos libertamos dos vícios.
Mas, diferente de mim, ela ainda fuma tabaco e come carne.
Em pouco tempo, percebemos que nossa amizade precisava e uma simples rega para que logo desabrochasse.
E nos tornamos íntimos em menos de três dias, enquanto trocávamos e revelávamos impressões sobre nossas experiências nesses temp(l)os europeus.
Sem sair de sua rotina, ela me orientou em como se movimentar em Lisboa, e me ambientou sobre locais aos quais eu pudesse encontrar para alcançar as minhas metas.
Além de tudo, preencheu minha emoção, fortaleceu minha alma com seu acolhimento e demonstração de amizade nos momentos em que circulamos juntos pelas ruas ou dialogamos em sua casa, em cuja varanda eu dormi à rede.
Como eu não tenho telemóvel, dispôs o seu para que eu contatasse amigos, mas logo percebi que as minhas metas de os ver estavam comprometidas, pois que um deles eu nem o encontrei - por razões de saúde; outro, nem o consegui localizar; e outro não teve paciência para me ver...
Numa anaminesis, agora percebo que minha ida a Lisboa pode não ter resultado em concretudes mas fez muito bem para a minha alma, ter estado com amigos, e alimentado ao meu coração com a reconstituição de minha memória a partir das experiências que tivemos.
E ademais, eu dormi à rede, coisa que gosta imenso de fazer, relaxar o corpo, que se molda ao tecido, enquanto minha alma flutua.
Apesar de não ter encontrado alguns amigos, um deles, pelo menos eu o localizei, ainda que por pouco não o tivesse perdido, já que fui á sua casa, sem que ele lá estivesse.
Falo de meu amigo Alexandre Martins, com quem estudei no Porto há 20 anos, e que me visitou, e habitou comigo, em Belém, em 2003, e a quem eu visitei, em Lisboa, há dez anos.
Alex está com os cabelos ainda mais brancos do que outrora quando suas mexas brancas davam-lhe um charme próprio, o qual, aliás, ele não perdeu, graças a sua simpatia .
Arranjou emprego, separou-se da esposa, minha amiga Catarina, que habita Óbidos, com o casal de filhos, com o qual ele convive dentro de um acordo de guarda compartilhada.
Vimo-nos na noite anterior ao meu retorno ao Porto, e durante umas três horas, apenas, logo após ter saído de seu trabalho, um restaurante, em que recomenda vinhos conforme os pratos.
Ele agora tem tatuagens e pareceu-me mais forte.
O tempo correu breve mas não o suficiente para que tentássemos repor o nosso diálogo que se perdera nesta distância a qual chamamos tempo.
Com sua memória peculiar, fez-me recordar coisas das quais eu esquecera.
É uma pessoa extrovertida e muito simpática, razão pela qual sempre teve mulheres á volta, coisa qua qual me aproveitava quando andávamos no Porto.
Rimos bastante, enquanto lembrávamos de eventos do qual participamos com intensidade.
No Porto, naquela altura, eu o sentira depressivo, pois que dormia bastante, e algumas vezes parecia isolado, sem demonstrar crenças nas cosias que ele própria estava a fazer.
Perguntou por cada umd e meus irmãos,e pelos sobrinhos com os quais mais conviveu.
Desabafou.
Considero-o um amor, um querido, uma pessoa íntima e carinhosa, mas também muito crítica.
É dos Arcos de Val-de-Vez, norte português, onde s epode apreciar um bom vinho verde.
Acredito que nos veremos novamente, foi bom o rever e ouvir suas experiências.
Parecíamos os mesmos, a rir das gajas, de nossas parvoíces, mas envelhecemos.
Francisco Weyl
Lisboa-Porto, 7 de Setembro de 2018
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