Um único verso, simples, como um sopro, passageiro, passarinho
Por muitas vezes quero falar de uma coisa e me sai outra, e estes pensamentos que me escapam, na verdade, apesar de se parecerem inteligíveis, não os compreendo, por não saber expressá-los, apesar de senti-los.
Isso não me traz nenhum estado de angústia, entretanto, mesmo sem sofrer, eu sinto que seriam preciosas estas revelações que se ocultam de alguma forma dentro de minha alma como uma matéria bruta do meu pensamento e de minha poesia.
Por não traduzir estes pensamentos e estes sentimentos, esforço-me por decodificá-los, criando signos que os representem, e pela via dos quais, eu possa enfim dizer o que eu quero dizer, mas, não o consigo.
Por vezes, como agora, sou tomado por este impulso de escrever sobre este acontecimento, que em verdade é um processo dentro do qual eu afundo e que toma de fato muito tempo de meu pensamento, e de minhas indagações.
Este momento-processo que se estende além de meu sentimento, e além de meus pensamentos, não apenas porque me faltariam palavras para que os traduzisse, mas porque é um próprio estado de inércia ao qual sucumbe a meu estado criativo.
E do interior destas tempestades e tormentas intempestivas do pensamento, saltam antigos corpos e demônios dispostos a gritar e a falar línguas que eu não compreendo embora eu sinta que elas me façam sentido.
Como se estivesse num pântano, ou num deserto, ao qual a minha solidão me conduzisse, e ondem finalmente, eu próprio tivesse que retirar de dentro de minha alma a grande obra do universo.
Um único verso, simples, como um sopro, passageiro, passarinho.
© Francisco Weyl
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