Oh! Meu Santo Benedito!
Protegei teu povo aflito
Do desvio dos políticos.
Oh! Meu Santo Bendito!
Iluminai teus filhos sofridos
Para que eles vejam
A injustiça dos bandidos.
Oh! Meu Santo Protetor!
Dai força à resistência
Deste povo trabalhador
Que te louva com tanto amor.
Este povo pescador,
E este povo roceiro,
Que ara a terra o ano inteiro.
E te segue com fervor.
Oh! Meu Santo Preto!
Clareai a cegueira dos brancos
Para que nunca mais
Humilhem os negros-santos.
Oh! Meu Santo Cozinheiro!
Dai terra a quem não tem
Nenhum vintém.
A quem não tem mais esperanças
Além das suas próprias andanças
Neste mundo de errâncias.
Oh! Meu Santo da Cura!
Fazei-me candura
Desde a semeadura
Para que a colheita
Seja farta de doçura.
Oh! Meu Santo Amado!
Fazei-me um navegador
Sem medo dos naufrágios.
Fazei-me aves
Por sobre todos os mares.
Oh! Meu Santo-Menino!
Fazei-me um peregrino
Das estradas e caminhos.
Oh! Meu Santo Bené!
Dizei-me se Maria e José
Abençoam a minha Fé!
Oh! Meu Santo Sagrado!
À noite, quando Rezo
Digo à Deus
Muito Obrigado!
E de manhã quando acordo
Sinto a vida renovada
Como uma grande revoada
De guarás em meus quintais
Ajuruteua nos meus sonhos
Me banha nesses encantos
Onde passeia meu espírito
Até os portais do infinito
Oh! Meu São Benedito.
Dizei-me uma só palavra
Para que meu poema
Tenha a marca da tua pena
E que a minha alma
Lavrada seja
pela tua Paz.
Oh! Meu Santo Belo!
É tua a Luz que me conduz.
Tal qual um Preto Velho,
Exu e Menino Jesus.
Oh! Meu Santo do Caeté!
Que teu Rio me lave
E me torne leve
E ainda mais forte a minha fé.
© Carpinteiro
Bragança do Pará, 2017
A água que cai do céu é fina, serena e funda, como quem sabe o que está fazendo. Cada gota que pinga sobre o rio carrega uma ausência. Há ruído de motor ao longe — daqueles pequenos, que levam a vida devagar. Mas hoje ele soa diferente: parece triste. E é. Ele carrega uma notícia que ecoa por entre os igarapés: Romildes se foi. Amazônia não costuma anunciar luto com alarde. Ela simplesmente se emudece. A várzea fica quieta. A floresta para um pouco. Os pássaros cantam mais baixo. É assim quando vai embora alguém que é raiz, tronco e folha do território. Foi assim quando partiu Romildes Assunção Teles, liderança forjada na beira do rio e na luta coletiva. Ele não era homem de tribuna nem de terno. Era homem de remo, de rede armada, de panela no fogo e conversa sincera. Era homem de olhar adiante, de palavra pensada, de gesto largo. Era Panacarica. Chovia em Campompema quando recebi a notícia. A chuva, sempre ela, orquestrando silêncios no coração da várzea. Era como se o ri...
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