Prólogo trágyko
antonin artaud friedriche nietzsche charles baudelaire
invocamos outros deuses trágicos e retornamos ao instinto dioniso
cultivamos e colhemos esta uva de luso e nos embriagamos na arte primal
não temos psicologia para os filmes nem análises para o movimento
sentimos a vida sem conceitos
o império da razão domina o significado escolástico da modernidade virtual
nascemos no antes e nos perpetuamos ad infinitum
a tragédia nasce no coro espírito e sentido subjacentes ao universo da criatividade
no meio da história o homem grunhi grita
para dentro de sua instintualidade para não se fazer entender
o homem instinto não é afirmado pela razão
nem sua psique se eleva pela produção de pensamentos
o homem instinto não é primitivo está além de bem e mal ciência e mito
édipo é paradigma de uma teoria
sofre com os lógicos diálogos de sófocles e com as amarras da psicanálise
édipo é mito preso a gramática presa ao verbo preso à oralidade
o filme poesia é arte que é pintura que é tudo nada caos origem não explicação
o filme essência síntese alma
o filme de édipo em espinho com as falas desejantes de deleuze
aponta a continuidade trágica
revela a estrutura dramática do filho que mata o pai e desposa a mãe nosso
édipo não tem dúvidas nem culpas nem sabe muito bem o que quer
e por isso mesmo é trágico
édipo de merda freud de merda teóricos e mestres de merda
nós não temos medo de vossas certezas
© Carpinteiro
As mãos
as mãos escrevem
acariciam, as mãos
destroem, matam
as mãos tocam
as mãos amadas
excitam, as mãos
beijadas, as mãos
áridas, macias
no homem o texto de deus
as mãos gesticulam
acenam, as mãos
mãos que não temos
tememos as mãos
espancam, agridem
as mãos defendem
as mãos plantam
colhem, as mãos
obram a arte do homem
as mãos curam
as mãos apontam
destinos, as mãos
decepadas, calam
o espírito, as mãos
masturbam, as mãos
as mãos espelham
o corpo, as mãos
© Carpinteiro
Constelação
A mina é de Touro
E eu, minotauro
Ela é de Creta
E eu, secreto
Ela é discreta
E eu, concreto
Ela é tão nobre
Com o seu sabre
E o seu bronze
É grego
Ela é sagrada
E eu a consagro
Desde a Anatólia
Até o Mediterrâneo
Com as suas Plêiades
Ou Sete irmãs
Aldebarã
Minos, Radamantis, Sarpedón
No seu olho de Touro
Um nebuloso Caranguejo
Em suas Híades, Íris
E este mar celestial
Apaixonado
Minotauro
© Carpinteiro
Man Ray Minotauro 1934
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Estes textos aqui reunidos constituem a terceira sessão
do Microprojeto TERÇA TRÍADE,
pela via da qual publico três textos poéticos autorais neste espaço.
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