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Terra da Marujada comemora 407 anos de pobreza, com cerca de 60 mil miseráveis

 

O segundo Município mais pobre do Brasil não tem muito a comemorar na data de hoje (8/7), quando completa 407 anos de existência.

Cerca de 60 mil pessoas (63,21% da população) vive abaixo da linha de pobreza no Município, sendo 31.166 - na área urbana, e 26.111 - na zona rural.    

Estas cerca de 60 mil pessoas vivem com cerca de R$ 5 reais por dia.

Dessa forma, a beleza da terra da Marujada, do Xote, dos campos e das praias, dos mangues e das florestas, fica ofuscada com tanta miséria.

E a pobreza é ainda maior com a omissão do Poder Legislativo diante dos desmandos do Poder Executivo, fato que historicamente se repete.

Manda o Poder Econômico de uma burguesia conservadora e uma elite atrasada e preconceituosa, que tenta a todo o custo silenciar as vozes dissonantes.

O caso mais recente deste fato ocorreu com o radialista Jairo Souza (21/06/2018), assassinado por denunciar escândalos que envolviam e envolvem as máfias locais, da qual faz parte um vereador, que ainda hoje recebe seus vencimentos, com a conivência de seus pares.

Onerar os cofres públicos de um Município miserável é coisa normal para os vereadores, que, mal assumiram o mandato, em 2017, logo, aumentaram os salários para R$ 8 mil, impactando a Folha de Pagamento em cerca de R$ 1,5 Milhão por ano.

E, recentemente, estes mesmos vereadores recusaram um Auxílio-Emergencial aos trabalhadores prejudicados pela pandemia do Covid-19.

Com raríssimas exceções da Fundação Educadora de Comunicação, que faz um trabalho pedagógico, mas que também se cala diante dos problemas locais, a Mídia bragantina é atrelada aos interesses econômicos, partidários e religiosos, o que compromete a ética profissional jornalística, já que só “bate” no adversário que não lhe paga.

Bragança tem um Plano diretor (Lei N.º 3.875, de 10/10/2006), mas não dispõe de alguns marcos legais, entre estes, o da Pesca, o que significa dizer que os barões do setor podem fazer e fazem o que bem entendem no Município já que não são fiscalizados.

O tráfico de drogas também corre solto, sendo um dos maiores problemas de segurança, já que é a causa e a consequência de vários outros problemas, sem que o 33º Batalhão de Policiamento localizado no Município possa de fato efetuar uma fiscalização mais estrutural.

O efetivo Policial conta com apenas cerca de 200 agentes que têm que se desdobrar para atender cerca de 240 mil pessoas nos municípios de Bragança, Augusto Correa, Tracuateua, e Viseu, ou seja, numa média de um policial para cada 1,2 mil, habitantes.

Esta cidade quente e ao mesmo tempo úmida, distante cerca de 200 quilômetros da capital Belém, depende das transferências de recursos da União e do Estado para sobreviver e dar um mínimo de garantia para seu povo, e apesar dos impostos municipais arrecadados, sempre apresentou valores muito abaixos da própria Receita.

Por esta razão, o Município é o 2º mais pobre do país entre aqueles com cerca de 100 mil habitantes, além de ocupar a posição de número 700 no Ranking Nacional dos Municípios, e a 21ª posição, no Ranking Estadual, com uma Receita corrente per capita média de R$ 1.047 / Ano.

Uma das cidades mais importantes da Região, em função da economia, organização social, e posição geográfica entre o Pará e o Maranhão, Bragança tem uma divisão territorial constituída de seis Distritos: Bragança (sede); Almoço: 20 km; Caratateua: 06 km; Nova Mocajuba: 08 km; Treme: 08 km; e Tijoca: 23 km.

Das 226 escolas existentes no Município, entretanto, apenas 25 dispõem de bibliotecas, 31 possuem laboratório de informática, 46 possuem computadores, mas apenas 25 acessam a Internet, de baixa qualidade, diga-se de passagem.

De um total de 12.303 internações registradas pelo DATASUS, casos de gravidez parto e puepério lideram, com 2.381 ocorrências, entretanto, é curioso que a  taxa de mortalidade infantil (16,43) seja quase a mesma da taxa de natalidade (19,89).

Com um Índice de Desenvolvimento Humano Médio de 0,660 (2010), o Município registra ainda indicadoes baixíssimos em IDH-M Educação (0,770); IDH-M Longevidade (0,660), e IDH-M Renda (0,550). Além disso, entre os indicadores econômicos e sociais, Bragança registra o PIB per capita foi de  RS$ 8.066,83 (2015).

O Município de Bragança do Pará tem uma população de 113.227 pessoas, sendo 57.291 homens (50,60%), e 55.936 mulheres (49,40%).

Desse total, 72.621 pessoas vivem no campo (64,14%), enquanto 40.606 pessoas (35,86%) habita o núcleo urbano do Município.

17.560 pessoas (15,51% da população) têm 50 anos ou mais.  19,05% (21.567 habitantes ) têm entre 1 e 9 anos. E  2.223 (1,96%) está na faixa etária menor de 1 ano de idade.

22,40% da população (25.364) está na faixa etária entre 10 e 19 anos. E 26.530 habitantes (23,43%) possuem entre 20 e 49 anos.

É uma cidade, portanto, onde predomina a juventude, em certo sentido até privilegiada pela pujança cultural do Município.

E que desfruta de pelo menos dois teatros, muito embora não tenha cinema, apesar da Casa de Cultura recentemente reinaugurada.

Mesmo assim, isto não limpa a nódoa do desabamento do Palacete Augusto Correa (onde funcionava a sede da prefeitura), e nem o abandono e a consequente demolição do antigo Vice-Consulado Português.

Se tivesse que realizar um desejo em teu favor, Bragança, é que teus filhos te libertem desta opressão secular.

 

            Francisco Weyl

            8 de Julho de 2020


 

Fontes Pesquisadas:

IBGE/MEC-INEP/DATASUS-IBGE/IDESP/SEGUP-CISP/MCT-PRODES

http://www.deepask.com/goes?page=braganca/PA-Confira-o-PIB---Produto-Interno-Bruto---no-seu-municipio

https://www2.mppa.mp.br/sistemas/gcsubsites/upload/53/braganca(2).pdf

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/braganca/panorama


 


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