Hoje acordei com vontade
De te abraçar
Então sonhei que te beijava
Mas quando dormi
Não havia nenhum corpo
Além do meu
E por isso a minha mente
Flutuou alguns segundos
Mas eu estava lá
Quieto
A escavar pensamentos
E quanto mais os removia
Mais eles encobriam
O meu desejo de solidão
Não, esta não é uma carta
Nem de amor
Nem de paixão
É apenas um cão
A ladrar com saudade
De seu dono
Se ouvires meu uivos
Segue os ventos
Que eles te trazem
Até onde vagueiam
Minhas patas
E então verás
Um rabo
A abanar de emoção
© Carpinteiro
Grade, 13/07/2020
...
Todos os dias eu rezo
E também te escrevo
É o meu rito
Mas nem te conheço
Embora ouça o som da tua voz
No meu peito
E pelas tuas palavras
Escute o teu coração
As coisas que narras
As ruas que te choram
Vilarejos de homens
Presos ao barro
Que escolhes
E que te escorrem
Ao toldo em que moldas
Tuas obras
Por entre linhas
E dedos
Leves como o toque
Que nunca senti
© Carpinteiro
Grade, 15/07/2020
...
“Nudes”
sei que tuas imagens
não correspondem
as realidades
ao escutar
tua voz
eu te sinto
quem és (?)
mas talvez
nem sejas
todas estas
mulheres-meninas
a se divertir
e a se rir
de si mesmas
e eu as vejo
quase todas
e são tantas
putas e santas
enquanto danças
eu as vejo
e as intuo
não as defino
nítidas ou turvas
porque se todas elas
correspondem
ao que és
em essência
neste poema
então te imagino
numa velha
fotografia
em que o sol
insinua
sobre teus seios
este desejo
destes olhos
que (te) re-vestem
sem nunca
te verem despida
nem em pensamentos
ou metafísicas
© Carpinteiro
Porto, 20/07/2020
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IMAGEM da sombra do Carpinteiro, captada pelo próprio, nas águas do Rio Ázere, em Grade, Viana do Castelo, Portugal / 2020
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Estes textos aqui reunidos constituem a quinta sessão
do Microprojeto TERÇA TRÍADE,
pela via da qual publico três textos poéticos autorais neste espaço.
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