O primeiro PLATEAU - Festival Internacional de Cinema da Praia (Cabo Verde) inclui pelo menos dois realizadores negros que estão concorrendo no FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, Everlane Moraes e Clementino Júnior.
Os dois são realizadores que se destacam nas temáticas dos ativistas do movimento negro, afirmando o potencial criador e político de pessoas de cor negra, cujas histórias protagonizam os filmes por eles realizados.
“Atlântico Negro”, por exemplo, de Clementino Júnior, é um documentário que narra à história da escritora de livros infantis e cobradora de ônibus, Sonya Silva, que, entre o sucesso midiático e as dificuldades para financiar seu trabalho autoral, segue sua luta para sair da roleta para as prateleiras das grandes livrarias. O documentário foi captado em diversos formatos, entre 2005 a 2013, e foi finalizado com financiamento por crowdfunding. Todo o restante da produção foi autofinanciada pelo seu produtor e realizador.
Mais que uma questão individual e natural de cada um dos dois realizadores que participam dos dois certames, este fato, na avaliação dos coordenadores dos dois festivais, demonstra o quanto estão articulados os movimentos culturais em escala global, principalmente, no que se refere à cena da consciência política negra.
#PLATEAU - Com dezenas de filmes participando de mostras competitivas e fora de competição, máster class, workshops, rodas de conversa, palestras e sessões de cinemas em espaços tradicionais e nas comunidades, a primeira versão do #PLATEAU – Festival Internacional de Cinema da Praia (Cabo Verde) é um panorama da produção cinematográfica com Continente Africano.
#PLATEAU tem a coordenação de Ivan Santos, que atua no Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Praia (a grande patrocinadora do Festival), e de uma forte equipe de realizadores e produtores do setor audiovisual cabo-verdiano como Júlio Silvão, César Schofieldi Cardoso e Guenny k. Pires.
O Festival #PLATEAU representa um momento histórico na cultura de Cabo Verde, razão pela qual alguns espaços de agenda estão reservados para o aprofundamento do diálogo e do debate sobre o caráter e o papel do cinema negro na formação da consciência das plateias que pouco consomem a cultura audiovisual, razão pela qual surgirá um documento via “Fórum Plateau”, que vai reunir realizadores de cinema cabo-verdianos, africanos e de todo o mundo.
Diferenças - Os dois festivais têm afinidades ancestrais, embora sejam bastante diferenciados nos apoios institucionais: o #PLATEAU conta com toda a estrutura do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Praia, à frente Antônio Carlos Lopes da Silva, e também do próprio Ministério da Cultura, enquanto que o #FICCA - de natureza colaborativa - tem um discreto apoio institucional da Prefeitura de Bragança, além de alguns empresários da rede hoteleira local.
Diálogos – Convidado pelo governo cabo-verdiano e pela coordenação do #PLATEUA, o jornalista diretor da Tribuna do Salgado – e também coordenador do #FICCA, Francisco Weyl, vai compor o júri do #PLATEAU e participar de duas sessões dialógicas temáticas, sendo um “máster class” e uma Roda de conversa, respetivamente, sobre os temas do “Cineclubismo de Guerrilha”, onde vai abordar as estratégias de ocupações de espaços sociais e mercadológicos pela cultura audiovisual cineclubista . Outro tema que Weyl vai debater neste festival são as afrodescendências cinematográficas das culturas tradicionais quilombolas amazônidas.
A estada de Francisco Weyl na cidade da Praia trará como resultados concretos também a realização de uma Mostra do Cinema Africano, com filmes do #PLATEAU e do FORCINE, com data prevista para acontecer em Maio de 2015, quando por questões históricas, discute-se a Lei Áurea, que se relaciona com a escravidão no Brasil.
“A produção do cinema africano é de uma relevância absoluta, até porque sabemos e denunciamos o genocídio da juventude negra pelas forças repressoras do estado nas periferias brasileiras, pelo que compreendemos que a arte cinematográfica é potência para a transformação e superação deste estado de coisas”, finaliza Weyl.
© Carpinteiro
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